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Cidades

MS tem o 2º maior número de terras com as demarcações em risco

São 29 territórios que ainda não foram homologados. Mudança da demarcação para a pasta da agricultura e declarações do presidente Bolsonaro preocupam indígenas

Izabela Sanchez | 15/01/2019 11:44
Cacique Tito Vilhalva da terra indígena Guyraroká, , em Caarapó ((Tânia Caliari/Agência Pública)
Cacique Tito Vilhalva da terra indígena Guyraroká, , em Caarapó ((Tânia Caliari/Agência Pública)

Em todo o Brasil há 238 processos de demarcação de terras indígenas, de diferentes etnias, que ainda não tiveram uma conclusão. Mato Grosso do Sul, que abriga a 2ª maior população indígena do Brasil, também contempla o 2º maior número de territórios em processo de demarcação, segundo dados da Funai (Fundação Nacional do Índio). Agora, estão ameaçados.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL), que já mudou a responsabilidade de demarcar terras indígenas, antes com a Funai, para o Ministério da Agricultura, também declarou “que não haverá mais 1 cm de terra para índios” e, recentemente, afirmou que todos as terras homologadas nos últimos 10 anos seriam revistas. As declarações deixam comunidades em territórios ainda não homologados em estado de apreensão.

Em Mato Grosso do Sul são 16 territórios em estudo, 4 delimitados e 9 declaradas, o último processo antes da homologação. Dos 9 territórios declarados, reivindicam demarcação 4 etnias: Terena, Guarani Kaiowá, Ofayé-Xavante e Guarani Nhandeva.

Comunidade internacional – Uma das terras declaradas é a dos Terena, Cachoeirinha, em Miranda, a 201 km de Campo Grande. São 36.288 hectares declarados, mas os indígenas, pouco mais de 7 mil, ocupam uma reserva de 2688 hectares. Uma das lideranças locais, Lindomar Terena, afirma que a comunidade já recorreu até a Justiça para a conclusão do processo.

Retomada da Terra Indígena Cachoeirinha, em 2013. (Foto: Ruy Sposati/Cimi)
Retomada da Terra Indígena Cachoeirinha, em 2013. (Foto: Ruy Sposati/Cimi)

“Atualmente não há nenhum impedimento judicial, tanto é que a Justiça está determinando que seja feito uma perícia na fazenda Capão Verde, e no final de tudo acaba se comprovando que é terra indígena. A gente ingressou na Justiça para que a Funai seja obrigada a colocar os marcos físicos, esse processo está correndo na Justiça, mas não temos decisão”, comenta.

Com a falta de espaço e demora na demarcação, a terra sofre um processo de êxodo rural. Muitos moradores da Cachoeirinha vivem, hoje, em Campo Grande, nas aldeias urbanas. “Ocorre por terem pouca terra, a reserva é uma área de 2688 hectares, para uma população de 7 mil, o povo Terena sempre viveu da agricultura, se não tem espaço obriga a deixar a aldeia”, opina.

Agora, explica o Terena, resta recorrer aos “mecanismos internacionais” caso os direitos indígenas não sejam respeitados. “A gente fica na verdade sem saber para que lado a Justiça funciona, só cobramos que seja implementado a lei. Não tem uma política de estado para dar continuidade. Agora, a gente tem ouvido muito que o governo quer revisar várias terras demarcadas, homologadas, registradas nos últimos 10 anos, com certeza nós vamos acionar os mecanismos internacionais”, relata.

Uma espera de mais de 20 anos – Há mais de 20 anos a terra indígena dos Ofayé-Xavante espera pela demarcação do território de 1.937,6250 declarado, para abrigar cerca de 100 pessoas da etnia, além de indígenas Guarani e Kaiowá que também vivem na aldeia Anodi, em Brasilândia, a 355 km de Campo Grande.
Antropólogo responsável pelos estudos que identificaram o território, Carlos Alberto dos Santos Dutra explica que o processo começou em 1992.

A TI Ofayé-Xavante, localizada no município de Brasilândia (Foto: MPF/MS)
A TI Ofayé-Xavante, localizada no município de Brasilândia (Foto: MPF/MS)

“Tinha uma ação na Justiça e agora que saiu o resultado, então o processo está aberto, pronto para ser assumido. Hoje a aldeia possui 110 pessoas morando, divididos em três etnias, os Ofayé foram agregando outras tribos, chegou muitos Guarani e Kaiowá, está nascendo uma nova cultura”, comenta.

Enquanto aguardam a demarcação final, a cultura vai mudando, agregando novas características. Segundo o antropólogo, há cerca de 35 pessoas da etnia Ofayé no local. “A cultura é transmitida pela mãe, há grande quantidade de mulheres Kaiowá casando com homens Ofayé”, explica ele, sobre as mudanças na transmissão da língua e costumes.

“Os estudos indicam que em 1700 e pouco já tinha presença dos Ofayé na margem direita do Rio Paraná. Eles perambulavam, mas foram expulsos a partir dos anos 1970, foram para Bodoquena e voltaram em 1980”, contou.

Professor, o Ofayé Silvano de Morais de Souza espera que, pela data do processo de demarcação, a terra fique de fora “da revisão do governo”, ainda assim, comenta ele, sobra preocupação.

“A nossa já tem 27 anos de luta judicial, eu não sei se nós entraríamos diretamente ou indiretamente. Acho que todo indígena teme em relação às terras indígenas. Os Ofayé, aqueles que lutam pela posse, ter a sua produção... a terra para nós, além de um ato importante, também faz parte da nossa história. Todo índio que tem uma ligação com a terra teme essa ideologia, não sei qual os meios tomados por ele. A gente está preocupado”, declara.

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