No adeus a Toninho, a lição do pai que viu o filho morrer: "Não tenho raiva"
Ajudante de pedreiro foi assassinado a facadas quando tentava ajudar vítima de roubo. Sepultamento foi realizado na tarde desta terça-feira (08), no cemitério das Moreninhas
Com aperto no coração, sem ódio, sem rancor, mas clamando por justiça. Foi esse o tom do sepultamento de “Toninho”, como era chamado por amigos e familiares o pedreiro Antônio Marcos Rodrigues de Souza, 34 anos, assassinado a facadas nesta segunda-feira (07), em Campo Grande, quando tentou socorrer uma vítima de assalto. A cerimônia simples e rápida aconteceu na tarde de hoje (08), no cemitério Nacional Parque, no bairro Moreninhas.
Abatido, mas ainda assim consolando entes queridos, João Roberto Faustino de Souza, 55 anos, pai da vítima, se recorda com detalhes do momento em que o filho caiu em seu colo, ensanguentado.
“A gente estava subindo a Avenida Mato Grosso quando o Toninho viu um homem na Calógeras puxando o braço da garota. Ele saiu correndo, gritando, porque imaginou que fosse estupro. Eu tentei atravessar a rua para ajudar, mas quase fui atropelado”, lembra.
No instante seguinte, ele viu o filho vindo em sua direção, já ferido.
“Caímos juntos no chão. Coloquei a mão no corte. Não entendia nada, só que meu filho estava morrendo nos meus braços”, conta. Ao tombar, João machucou o braço – não sabe se deslocou ou teve fratura porque ainda não procurou atendimento médico. “Depois vejo isso”, disse.
Segundo relatos de familiares, a vítima tinha essa característica, era prestativa, ficava indignada com injustiças, e não foi a primeira vez que tentou ajudar pessoas que estavam sendo agredidas por bandidos. Entre eles, é comum ouvir que o pedreiro "até morrendo quis ajudar”, e que "ajudou depois que morreu", já que suas córneas foram doadas.
“Não sinto raiva, nem ódio e até quero encontrar com o assassino de meu filho. Não sei o que diria. Só na hora vou sentir”, acredita.
Enquanto o caixão era baixado por uma roldana no jazigo, ele precisou ser amparado por familiares. O silêncio daquele instante, foi cortado por um choro contido, baixinho – ensurdecedor para todos que acompanhavam aquele último adeus.
Logo depois, João deu alguns passos e visitou a lápide da esposa, sepultada somente há 5 meses, após perder a luta contra um câncer.
Solidariedade – A família é bastante unida e tem encontrado força uns nos outros, e até suporte de desconhecidos - uma vez que o caso comoveu a população campo-grandense. Miriam Marques Serra, 46, acompanhou o caso pela imprensa e fez questão de prestar solidariedade.
“Não conhecia ninguém da família, mas me coloco no lugar dos parentes. Fomos ao velório e viemos aqui dar nosso apoio", disse, segurando um vaso de flores, ao lado do marido Giliard Pereira, 33.
A família da jovem que estava sendo agredida foi ao velório e chegou a pedir perdão pelo fato de seu filho "ter dado a vida" pela garota. "Eu não tenho que perdoar, pois quem perdoa é Deus", disse João Roberto.
Prisão - O caso aconteceu por volta das 6h de ontem, quando as polícias civil e militar iniciaram as buscas. O suspeito do crime, Alexandre Moreira de Moraes, 23, foi preso menos de 10 horas depois, no Jardim das Mansões, e confessou o assassinato.
Ele vive em situação de rua e chegou a ser fichado em ação social realizada na Capital há cerca de 1 mês. Ele está preso na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro e deve responder por latrocínio.