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Retrospectiva 2011

As tragédias no trânsito que se repetiram em 2011 e abalaram famílias

Fernando da Mata | 31/12/2011 10:07

Dentre as diversas mortes trágicas, a de um garoto de oito anos que foi atropelado e arrastado por um caminhão no Jardim Montevidéu

Menino andava de bicicleta quando foi atropelado e arrastado pelo caminhão em avenida de Campo Grande (Foto: João Garrigó)
Menino andava de bicicleta quando foi atropelado e arrastado pelo caminhão em avenida de Campo Grande (Foto: João Garrigó)

Olhando para a imagem acima, é quase impossível não lembrar do trágico acidente que vitimou Vinicius Nunes da Cruz Maciel, de oito anos de idade. O garoto morreu após ser atropelado e arrastado por um caminhão no dia 27 de abril, em Campo Grande.

A tragédia deixou vestígio no asfalto por algum tempo, mas com certeza marcou profundamente a vida de familiares e moradores do Jardim Montevidéu, bairro situado na região norte da cidade. A morte de Vinicius foi uma das mais violentas no trânsito de Campo Grande em 2011.

O cenário da tragédia foi a avenida Ana Rosa Castilho Ocampos. O pequeno Vinicius andava de bicicleta com um amigo pela rua Itambé. Ao cruzar a avenida, foi atropelado por um caminhão carregado de areia, parou embaixo de uma das rodas do veículo e foi arrastado por aproximadamente 35 metros. O menino não resistiu.

O amigo da vítima parece que estava prevendo o que ia acontecer. Segundo a mãe dele, Roseli de Souza, 40 anos, pouco antes do acidente, o filho Gabriel alertou Vinicius sobre o perigo no cruzamento da avenida.

“Meu filho disse: Quando você chegar na esquina você para, você para. Meu filho parou e ele [Vinicius] passou direto”, disse Roseli, que estava em casa com a mãe de Vinicius, Mariazinha Nunes da Cruz, quando Gabriel chegou e contou do acidente. As duas foram desesperadas para o local. Quando Mariazinha viu o filho esmagado embaixo do caminhão, entrou em pânico, passou mal e foi levada para o posto de saúde. Não foi por menos, pois Vinícius foi o segundo filho dela que morreu.

O pai do menino, Rael Maciel, contou no dia do acidente que, há cinco anos, a filha do casal morreu de lupos. Atualmente, Rael não mora com Mariazinha. Ele estava no serviço quando foi informado do acidente e foi para o local. A irmã de Vinicius, filha apenas de Rael, não acreditava na tragédia. “Ele morreu mesmo? Como é que o caminhão não vê uma criança?”, indagou.

A criança foi arrastada e esmagada pelo caminhão conduzido por Genivaldo Ferreira Martins, 30 anos. As vísceras do garoto ficaram pelo asfalto.

Moradores fecham avenida em protesto após morte de garoto (Foto: João Garrigó)
Moradores fecham avenida em protesto após morte de garoto (Foto: João Garrigó)

Na tarde do mesmo dia do acidente, moradores do bairro fizeram um protesto pedindo o fim do tráfego de veículo pesados no local. De braços dados, eles fecharam a avenida Ana Rosa Castilho O Campos por alguns minutos. Para eles, a passagem de caminhões e carretas pela avenida era o principal motivo dos constantes acidentes na região.

O presidente da Associação de Moradores dos bairros Jardim Montevidéu e Taquaral Bosque, Antônio de Jesus, relatou na época que havia feito vários pedidos à administração municipal para instalação de redutores de velocidade na avenida e também para que fosse proibido o tráfego de veículos pesados.

“Como vai passar carreta no meio do bairro? Estou pedindo pelo amor de Deus para que não tenha um próximo”, declarou Antônio referindo-se às vítimas.

O protesto surtiu efeito. Segundo a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), no dia 6 de maio, quatro quebra-molas foram instalados na avenida além dos quatro existentes. No mesmo mês, a proibição do tráfego de veículos pesados no local foi regulamentada por meio de sinalizações. A Ana Rosa Castilho O Campos é a principal via do bairro, que fica próximo ao macroanel rodoviário.

Pai tirando bicicleta de filho que morreu atropelado (Foto: Pedro Peralta)
Pai tirando bicicleta de filho que morreu atropelado (Foto: Pedro Peralta)

Vinicius completaria dez anos de idade no dia 11 de junho. Nesse dia, o pai do garoto decidiu retirar de uma árvore a bicicleta que a criança usava no dia em que morreu atropelada. Na época, Rael contou que tomou a decisão não pelo aniversário, mas pela ‘mensagem’ que gostaria de passar.

“A bicicleta não tem mais função aqui. Ela tinha um motivo: sensibilizar as autoridades para que não ocorra mais o que aconteceu com o filho neste trânsito violento”, afirmou no dia 11 de junho.

Acidente na MS-060 – Dois dias antes do aniversário de Vinicius, no dia 9 de junho, outro acidente deixou três pessoas mortas na MS-060, perto de Sidrolândia, a 45 quilômetros de Campo Grande. Duas das vítimas eram da mesma família.

Amadeu Ferreira Rossati e o filho, Alisson Pereira Rossati, 17 anos, estavam no Gol que invadiu a pista contrária e colidiu na van. O carro de passeio teria aquaplanado, pois chovia muito no local. Os dois e um terceiro ocupante do carro morreram no local.

O motorista da van, Vagner Guardiano Jamar, 35 anos, disse que o veículo rodou na pista, invadiu a pista contrária e bateu na van, que também colidiu na lateral esquerda do Gol. “Ele [o carro] estava aparentemente em alta velocidade. Eu tentei tirar a van do caminho dele, mas não deu tempo. Se eu tirasse mais eu poderia ter saído da pista”, contou Vagner na ocasião.

O carro de passeio ficou destruído. Os três mortos no local ficaram presos nas ferragens e todos usavam cinto de segurança.

Os 14 passageiros da van - sendo quatro mulheres, uma criança e nove homens - tiveram ferimentos leves e foram socorridos para o hospital de Sidrolândia.

Carro ficou totalmente destruído após colisão com van na MS-060, perto de Sidrolândia (Foto: Simão Nogueira)
Carro ficou totalmente destruído após colisão com van na MS-060, perto de Sidrolândia (Foto: Simão Nogueira)

Morte de casal de moto – No dia 14 de novembro, um casal de motociclistas morreu em acidente de trânsito na avenida Ministro João Arinos, saída para Três Lagoas, em Campo Grande. Era por volta de 18h30 quando a fatalidade aconteceu.

Segundo testemunhas, a moto, uma Honda Titan, seguia atrás de um ônibus de transporte urbano sentido bairro – centro e tentou fazer a conversão com ele. Em seguida, o motociclista bateu na traseira do coletivo e entrou embaixo dele.

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi ao local para fazer o atendimento do casal e, de acordo com os socorristas, os dois tiveram politraumatismo e morreram na hora.

Em um caderno escolar próximo aos corpos, que estavam debaixo do ônibus, constava na contracapa a foto do casal e o nome Daiane.

Cruzamento da avenida Afonso Pena com a rua 14 de Julho, local onde Alessandra foi atropelada (Foto: João Garrigó)
Cruzamento da avenida Afonso Pena com a rua 14 de Julho, local onde Alessandra foi atropelada (Foto: João Garrigó)

Duas mortes em um mês - “Minha família está um caco”. Foi assim que Antônio João Larrea Barcelos, 41 anos, definiu o estrago feito por tragédias no trânsito de Campo Grande que vitimaram dois sobrinhos em pouco mais de um mês.

Tudo começou no dia 19 de novembro, quando Luiz Antônio Larrea Barcelos da Silva morreu aos 21 anos após colidir a moto que conduzia na lateral de um carro. O acidente aconteceu no cruzamento da avenida Ernesto Geisel com a rua Ovídeo Serra, próximo ao pontilhão da avenida Mascarenhas de Moraes.

Na ocasião, Silva chegou a ser socorrido, mas morreu na Santa Casa. No boletim de ocorrência do acidente que vitimou o jovem, não consta a informação de quem estaria errado.

Pouco mais de um mês depois da morte trágica de Luiz Antônio, a irmã Alessandra Larrea Barcelos da Silva, 25 anos, foi atropelada por um táxi, na noite do último dia 20, no cruzamento com a rua 14 de julho, centro de Campo Grande.

Alessandra foi atropelada pelo táxi Fiat Siena conduzido por Aparecida Dantas dos Santos, 42 anos, que, de acordo com testemunhas, havia acabado de sair do ponto da rua 14 de Julho e não estava em alta velocidade. A jovem foi socorrida, mas morreu na Santa Casa.

Uma das testemunhas foi o mototaxista Rogério Araújo, 36 anos. Ele tinha acabado de chegar ao seu ponto - na avenida Afonso Pena - quando, ao estacionar a motocicleta ouviu a pancada e ao olhar para trás viu a cena que o fez encerrar o expediente mais cedo. “Vi a menina rodopiando no alto e aí ela caiu”.

A vendedora ambulante Ester Silva de Barros, 48 anos, também viu quando a jovem foi atropelada. "Se ela [Aparecida] não tivesse jogado o carro para o lado teria passado por cima da menina”, relatou a vendedora. Segundo Ester, ela e a taxista conversavam quando Aparecida foi chamada para uma corrida. Ao sair do ponto e virar na Afonso Pena, atropelou Alessandra. “Ela não estava correndo. Não tinha distância para alcançar velocidade”, afirmou a Ester.

Durante o velório de Alessandra, no último dia 21, o tio disse que sua família vai demorar a superar as perdas trágicas e precoces. “Há 30 dias perdemos uma pessoa muita querida e agora 30 depois mais um que vamos ter que enterrar”, lamentou.

Para Antônio Larrea, o acidente que vitimou a sobrinha dele foi provocado por “pura imprudência” da condutora do táxi. “Minha sobrinha estava atravessando na pista e vem a motorista e faz uma coisa dessas. As pessoas deveriam olhar com mais carinho para seus semelhantes”, alertou o tio de Alessandra, que defende punição mais severa para quem comete infrações no trânsito.

Abalado com a morte da namorada, o professor David José Pereira, 32 anos, criou um abaixo-assinado pedindo punição para a taxista que provocou o acidente. Até a manhã de terça-feira (27), 34 pessoas já tinham assinaram o documento disponível na internet.

De acordo com Pereira, o acidente foi mais grave do que o relato por testemunhas. “Minha namorada teve fraturas em todo o corpo. Ela ficou muito machucada. Foi uma pancada muito violenta”, afirmou.

O professor disse ainda que criou o abaixo-assinado com o objetivo de mostrar às autoridades que a população não se conforma com a impunidade. “Esse caso não pode ser considerado como mais um. Foi grave, uma pessoa morreu. Queria ver se fosse a filha de um juiz, de um coronel ou de um delegado. Eu quero justiça”.

A morte de Alessandra está sendo investigada pela 1ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande.

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