A extinção de lobos está conectada à destruição dos rios
Todos os rios do Mato Grosso do Sul correm perigo. Todos. Não há uma só exceção. A versão atual dessa destruição é cobrada dos fazendeiros que desmatam. No Pantanal, desmatam para plantar soja; no cerrado, a criação de vacas é a responsável. Também atacam o ecoturismo de Bonito e Bodoquena. Há, no momento, uma fiscalização para descobrir os destruidores do rio da Prata, um dos mais belos do Estado. A destruição de nossos rios, todavia, não é tão simples como imaginam os bem intencionados. As conexões da natureza, pouco conhecidas, são fundamentais.
Uma história de extinção de lobos nos ensina.
Os lobos são um exemplo maravilhoso de como as conexões da natureza podem ser complexas e determinantes da destruição de rios. Surpreendentemente, esses predadores são capazes de alterar margens de rios e mudar o curso da água. O exemplo vem de Yellowstone, o primeiro parque para conservação dos EUA. Os fazendeiros começaram a erradicar os lobos da reserva, preocupados com seus rebanhos de vacas. A última matilha foi aniquilada em 1.926. E essa matança quase destruiu os rios da reserva.
A população de alces explodiu.
Sem os lobos, a população de alces explodiu. Grandes áreas do parque foram devastados pelo excesso de alces. O impacto sobre as margens dos rios foi especialmente grande. A grama, apetitosa para os alces, que ficava à beira da água desapareceu, junto com todos os brotos que cresciam ali. A paisagem desolada não oferecia comida suficiente nem aos pássaros. Os castores também saíram perdendo, porque, além da água, também dependiam das árvores que cresciam nos arredores. Salgueiros e álamos são algumas de suas comidas prediletas. Como todas as jovens árvores foram parar nos estômagos dos alces, os castores passaram fome e desapareceram. E as piscinas de castores, que filtram e reduzem a velocidade da água, desapareceram.
A destruição dos rios.
As margens ficaram devastadas, e, na ausência de vegetação para proteger o solo, enchentes sazonais levavam embora quantidades cada vez maiores de terras e, com isso, a erosão dos rios avançou rapidamente. Como resultado, os rios começaram a formar mais meandros, seguindo rotas tortuosas. O efeito serpentina é prova cabal da destruição de rios, algo que os bem intencionados preservadores do ambiente não levam em conta. Essa situação só mudou quando perceberam que a extinção dos lobos estava matando o Yellowstone. Lobos capturados no Canadá foram soltos no parque norte-americano para recuperar seu equilíbrio ecológico. Os cientistas chamam esse fenômeno de "cascata trófica". Em resumo, isso significa que a cadeia alimentar muda todo o ecossistema.