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Em Pauta

A fronteira em permanente estado de guerra e de baile

Mário Sérgio Lorenzetto | 29/07/2017 08:07
A fronteira em permanente estado de guerra e de baile

"Vamos a bailar e matar". Tijuana, cidade mexicana fronteiriça aos Estados Unidos se vende como o "melhor lugar do mundo para bailar". Também afirmam que é a cidade da América Latina onde se vende mais cerveja. Há vários restaurantes com até cinco pistas de dança, cada um com tipo de música distinta. E todos vivem lotados. Não há etiquetas e os preços são baratos. Aqui e ali homens fortes, vestidos com roupas típicas dos mexicanos. Alguns sentados, acompanhados de mulheres com mini-saias. Outros sozinhos, de pé, vigiando cada movimento.

É difícil esquecer que Tijuana também é droga e violência. Os números são de Holocausto, só no ano passado foram mais de 900 assassinatos, superando a cifra de 840 que aconteceu em 2008. Nos primeiros meses de 2017 já contavam mais de 200 assassinatos.

Mas não pensam na morte. Em uma das pistas de dança, um casal beija com fúria. Dão um espetáculo mais interessante que os dezoito membros da banda que toca no palco com seus trajes vermelhos, seus trompetes, tambores e pratos. Os "voyeurs" observam que se multiplicam as mãos do casal. Nas calças, nas pernas... ao invés de sexo, droga e rocknroll, Tijuana apresenta a versão tequila, sexo e maconha. Diferente, mas igual.

É uma região fronteiriça como tantas outras que existem no Brasil. Lugares onde a lei do papel ganha nuances inexistentes em outras regiões. Terra de homens fortes e dispostos a quase tudo. Onde os fracos não têm vez.

A fronteira em permanente estado de guerra e de baile

Quem deporta mais latinos dos EUA: presidentes liberais ou conservadores?

A atitude agressiva para com os latinos não começou com Donald Trump e sim muitos anos atrás. Concretamente começou com o fim da guerra fria. Os Estados Unidos que sempre necessita criar inimigos que justifiquem a produção, distribuição e venda de armas, mudou sua perspectiva sobre a fronteira, que era um assunto econômico, de contrabando, para uma perspectiva de segurança nacional.

Um muro caia na Europa e outro se levantava na América. Qual o custo desse muro? Até agora, são mais de 10 mil mortos desde a Operação Guardian, que deu início a essa política.

Quando o muro era um mero arame a cinquenta centímetros de altura, chamado de "o brinco", a imigração era circular: o trabalhador latino ia aos EUA para fazer dinheiro e voltava para seu país. Passado um tempo, voltava aos EUA e assim sucessivamente. Quando em 1994, construíram uma vala e aumentaram significativamente o número de agentes para prender imigrantes, cruzar a fronteira se converteu em algo caro e perigoso. Os latinos passaram a cruzar a fronteira para não mais voltar. E ainda levaram suas famílias e costumes.

Todavia, a perseguição começou em 1969. Nixon pretendia impedir a entrada de maconha nos EUA. É claro que só conseguiu transformar a maconha em objeto de desejo dos jovens norte-americanos. Há muitos estudiosos que entendem que Nixon foi o maior propagandista da maconha, sem ele a maconha seria uma plantinha insignificante.

Depois, em 2011, depois do 11 de setembro, fecharam a fronteira e começaram a tomar medidas anti- imigratórias mais duras. Por outro lado, o presidente que sancionou mais medidas contra latinos imigrantes foi Ronald Reagan. Mas surpreendam-se: o que mais deportou latinos foi Barack Obama. Em seu tempo foram mais de dois milhões e setecentos mil latinos mandados de volta. Todavia há uma regra que jamais será mudada: você pode cruzar a fronteira dependendo da quantidade de dinheiro que leve no bolso.

A fronteira em permanente estado de guerra e de baile

A tumba desconhecida do primeiro historiador das Américas.

Só conhecemos o que ocorreu na chegada dos espanhóis nas Américas pela tinta de um quase desconhecido historiador. O cronista, como historiadores eram chamados então, Gonzalo Fernández de Oviedo foi um militar, botânico e etnógrafo. Um nome tão ignorado pelo grande público como imprescindível para conhecer nossa história. Foi ele que, de forma sistemática, organizou e publicou livros não só sobre o que fizeram os espanhóis nas Américas, desde a primeira viagem de Colombo em 1492, até a sublevação dos irmãos Pizarro no Peru, em 1549, mas também o primeiro que começou a descrição física, botânica, zoológica e etnográfica das Américas.

Oviedo não foi só testemunha mas participou dos violentos enfrentamentos que marcaram sua geração. É incrível imaginar que existiu um homem que esteve presente em todos os principais momentos da história daquele tempo. E que seja tão desconhecido. Oviedo, aos treze anos, acompanhou os Reis Católicos na conquista de Granada, quando derrotaram os muçulmanos. É testemunha, em Barcelona, do primeiro encontro dos Reis Católicos com Colombo, no retorno de sua primeira viagem à América. Posteriormente, muda para a Itália. Convive com Leonardo da Vinci e os principais membros da família Bórgia - o papa Alejandro VI e sua filha famosa Lucrecia. Em 1514, empreende sua primeira viagem à América. Testemunha a guerra travada entre Pedrarias Dávila e Vasco Núñez de Balboa no descobrimento do Pacífico.

Ele escreve o "Sumário Natural da História das Índias (Américas)", que alcançou êxito imediato e foi reeditado quinze vezes. Em seguida começa a escrever o caudaloso e essencial "História Geral e Natural das Índias" que só concluirá aos oitenta anos de idade.

Somente há poucos anos descobriram sua tumba em São Domingos. E foi por acaso. Quando estavam trabalhando na transferência do provável tumulto de Colombo em uma igreja, descobriram um túmulo que julgaram que havia sido de alguém importante. Após muitos anos, chegaram à conclusão que era de Oviedo.

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