A genética explica aqueles que dormem pouco
Os leões necessitam dormir 13 horas. Para os cavalos, bastam duas horas. No meio da lista estão os humanos, com oito horas, tempo para passar bem o resto do dia. Está bem claro para a ciência que essa é uma função necessária para quase todos os animais, ainda que não saibam bem porque dormimos. E até agora não sabiam explicar porque um punhado de privilegiados podem levantar-se sentindo-se muito bem depois de tão somente 4 horas de sono.
A chave do sono está em nossos genes.
Ying-Hui Fu, uma cientista da Universidade da Califórnia, indagou durante toda sua carreira se é possível encontrar nos genes a chave para explicar o porquê desses privilegiados necessitarem de tão pouco sono. E conseguiu comprovar duas vezes.
Uma família que só dorme 5 horas por dia.
A primeira vez foi em 2009. Fu encontrou alguns membros de uma família, sem nenhum treinamento, que só dormiam 5 horas por dia. A cientista coletou amostras de sangue de todos os membros dessa família em busca da particularidade que permitia às mulheres dormirem menos que seus parentes. A resposta parecia estar na mutação do gene DEC2 que só elas possuíam.
Para confirmar a determinação dessa mutação, Fu e sua equipe criaram ratos com mutação no DEC2. O resultado foram roedores que dormiam menos que os ratos convencionais.
A segunda mutação.
Todavia, essa mutação do DEC2 é muito rara. Só ela não explicava porque tantas pessoas conseguem dormir pouco e passar bem. Acaba de ser publicada na revista científica Neuron um novo estudo identificando outro gene relacionado com o pouco sono, porém saudável. Descobriram que uma mutação do gene ADBR1 produzia esse efeito em três gerações sucessivas de indivíduos que necessitam de pouco sono. Novamente repetiram a pesquisa em fatos para comprová-la e obtiveram sucesso. Já não há dúvida, o segredo de dormir pouco e ter vida saudável está nos genes. Só resta descobrir quantas e quais mutações determinam essa diferença.
Tudo indica que as mutações estão relacionadas com a depressão e esquizofrenia.
Outra análise genética, realizada, em 2019, por uma equipe do Hospital Geral de Massachusetts, publicada na Natureza Genomics, encontrou relações entre as mutações dos genes que favorecem a insônia e as mutações que aumentam a propensão a sofrer enfermidades psiquiátricas como a depressão e a esquizofrenia e inclusive a diabetes 2. Em muitos casos, os genes eram os mesmos.
Fu e sua equipe, por outro lado, se negam a começar a pesquisar medicamentos que possam nos levar a dormir menos e passar bem. Diz a cientista que "é necessário aprender mais sobre como é regulada a eficiência do sono".