A guarânia, criação comunista, declarada Patrimônio da Humanidade
A UNESCO acaba de declarar a guarânia como Patrimônio da Humanidade. La Chacarita, o bairro de Assunção onde foi criada, com muitas casas informais e problemas estruturais, passou a ser um point turístico importante. Pacotes começam a ser vendidos para conhecer esse pobre bairro no centro da capital paraguaia.
Flores, o comunista, criador da guarânia.
José Asunción Flores nasceu em agosto de 1.904 na Chacarita, o bairro central próximo à Catedral Metropolitana. Sua mãe, Magdalena Flores, trabalhava como lavadeira e o criou sozinha. O pai ausente era um músico. Flores passou a se dedicar à musica quando foi preso por roubar um pedaço de pão com onze anos. Na prisão havia uma banda da polícia que o influenciou. Uma década depois, em 1.925, o aprendiz da banda militar inventou a guarânia, o gênero musical tido como o mais representativo do Paraguai e que desde dezembro, a UNESCO o reconhece como Patrimônio Cultural da Humanidade.
A guarânia é de meu povo….
“A guarânia é de meu povo, escrita para e pelo meu povo”, dizia Flores. Suas letras incluem palavras em guarani e tem acordes em harpa e violão. Dizia também que emitia sons profundos, que retratam um território esquartejado, que perdeu 30% na guerra contra o Brasil, Argentina e Uruguai.
O exílio e a morte.
Em 1.940, o militar Higinio Morínigo suspendeu a Constituição e acabou com os partidos políticos. Logo a seguir, Flores, um musico que já era famoso, teve que exilar-se por suas ideias comunistas. Durante a ditadura militar de Alfredo Stroessner - de 1954 a 1989 - nem sua música era tocada no Paraguai. Suas obras continuavam conhecidas pelas ondas de rádio clandestinas, mas Flores nunca voltou a seu país. Morreu em 1.972 em Buenos Aires devido ao mal de Chagas. Era o músico predileto de amigos como Pablo Neruda, Mercedes Sosa e Mario Benedettti.
“Galoperas” são de Chacarita.
Uma das guarânias mais conhecidas dos sul-matogrossenses começa cantando “Galopera……”. É impossível não conhecê-la. Mas, em uma rápida pesquisa, inclusive com paraguaios, identifiquei o totalmente desconhecimento da história dessa palavra. Começa com os paiaguás e guaranis que habitavam a região, antes dos espanhóis, onde hoje é o bairro Chacarita e termina com a adoração pelas “galoperas”, mulheres que dançam com um cântaro sobre a cabeça. As dançarinas são o passo final da cultura “chacariteña”.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.
