Bannon e Carvalho: entre o Tradicionalismo e o comunismo
O "Estrategista" e o "Guru" são as duas figuras que dominaram o pensamento da classe média nos dois últimos anos. Bannon foi o estrategista do Brexit e da ascensão de Trump ao poder até ser preso por fraude. Olavo de Carvalho é o guru do bolsonarismo extremado. Ambos são a negação do "intelectual", categoria muitas vezes reservada, como sinal de prestígio, a figuras da convencional trajetória universitária. É a esse mundo intelectual que eles movem sua guerra. Misturam uma nova vertente do Tradicionalismo com o comunismo evocado por Gramsci.
Tradicionalismo, corrente filosófica obscura e marginalizada.
Há uma raiz comum a esses dois protagonistas do pensamento atual. O público acostumado a atribuir a pecha de loucos ou estupido a esses dois, é importante saber que há uma raiz doutrinária que os liga: uma corrente filosófica profundamente obscura e marginalizada que é um novo Tradicionalismo. Não se trata de uma seita de conspiracionistas que se articulam como uma igreja ou seguem dogmaticamente um livro. Há em Bannon e Carvalho um conjunto caótico de ideias, que oscilam entre revolta contra um mundo moderno e o caos da sociedade de que se aproveitam.
A tática de destruição.
Bannon e Carvalho tentam influenciar aqueles que estão no poder. Tentam amoldar o sentimento antissistema que cresceu na última década. E adotam algo que fica a cada dia mais claro: a destruição e desmobilização do próprio governo. Bannon é muito claro: "uma maneira de fazer isso [destruir ou desmobilizar o governo] é começar pelo topo, colocando pessoas em posição de poder que sejam hostis às instituições às quais elas mesmas servem". Eles não adotam esse termo, mas a verdade é que procuram colocar "kamikazes em cargos de liderança".
A metafísica do homem do campo.
Bannon e Carvalho apresentam uma ideia original. Uma ideia que vem se provando vitoriosa, pelo menos nos Estados Unidos e no Brasil: a metafísica do homem do campo. Apresentam uma caracterização da população cristã rural dos EUA, que seria uma espécie de reserva oculta da força espiritual anti moderna. Ao que tudo indica, essa ideia seria da lavra de Carvalho e não de Bannon. Obviamente, copiada para um homem do campo brasileiro, muito mais confuso e pragmático (voltado mais para o lucro do que para um profundo sentimento cristão).
Um comunista chamado Gramsci.
Mas o lado mais desconhecido da história de Carvalho foi sua ligação com os comunistas. Desse credo, violento e extremado, levou o pensamento do italiano António Francesco Gramsci. Um parênteses: o pensamento de Gramsci só tem ascendência sobre meia dúzia de intelectuais brasileiros. Não tem importância nem mesmo na Itália. O ideário gramsciano prega a luta de classes através da revolução cultural. A proposta é atacar a cultura para atingir seu objetivo. Essa ideia de se posicionar contra a cultura, apregoada por Carvalho, tem sua raiz nesse comunista de meia pataca.
Usar a internet para dominar.
A ideia da "metapolítica" é de Gramsci. Essa é uma base fundamental das ideias preconizadas por Olavo de Carvalho: criar situações na política por meio de influência na cultura. A proposta é criar escola para novos líderes, espirituais ou políticos. O curso de filosofia on-line de Olavo de Carvalho logo vem à mente. Acredita que há necessidade de usar a internet como ferramenta de transmissão desses pensamentos. Uma faceta Tradicionalista para o consumo de modernos.