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Em Pauta

Entrando em um saloon do Velho Oeste

Mário Sérgio Lorenzetto | 24/10/2019 06:30
Entrando em um saloon do Velho Oeste

Hollywood costuma retratar um grande saloon no centro da cidade. É uma mentira, mas é uma exigência dramática, que força o mocinho a se deparar com o vilão. Em geral, havia uma porção de saloons em cada cidade. Eles também não eram grandes, eram estreitos, de preferência em uma esquina, porque assim a placa era valorizada.
A primeira e mais óbvia coisa que você notaria seria a fachada do saloon. Tratava-se de uma frente falsa. A fachada era a de um prédio de dois andares, mas os saloons só tinham o térreo. Não se sabe porque os saloons eram construídos assim. Não enganavam ninguém. Havia janelas falsas no "andar superior" e às vezes construíam até calhas para o andar inexistente. Era uma mentira recorrente no Velho Oeste, todos compactuavam.

Entrando em um saloon do Velho Oeste

Não haviam portas de vaivém.

Do lado de fora, havia um poste onde se podia amarrar o cavalo. Ao lado, havia sempre um monte de cocô de cavalo. Não havia saneamento básico no Velho Oeste. Você sobe na calçada e as famosas portas de vaivém não estão lá para recebê-lo. Elas são um mito. Seriam totalmente inúteis em um ambiente cheio de poeira e com a metade do ano fazendo frio. Na verdade, eram pesadas, tinham dobradiças duplas e dividiam o saloon em dois ambientes: um rico e outro pobre. O rico, sempre do lado esquerdo, era onde ficavam as bebidas, o balcão e o barman. O balcão era entalhado em madeira de lei e polido à exaustão. Acima dele sempre há um grande espelho, mantido escrupulosamente limpo, porque vale muito dinheiro. Tem o comprimento do balcão e é o símbolo do status do proprietário. Ele permite que as pessoas sentadas notem qualquer um que se aproxime delas. Também permite que vejam a figura da mulher nua na parede onde estão as mesas e cadeiras - ambiente pobre. A postura e as rendas cobrem a parte realmente íntima dessa figura. Está lá para excitar o vaqueiro solitário, que não vê uma mulher há muito tempo.

Entrando em um saloon do Velho Oeste

Nem mulheres respeitáveis, nem prostitutas.

Decepção: não existiam prostitutas nos saloons. E nem mulheres respeitáveis. Mas havia algumas mulheres que estavam em algum lugar entre o respeitável e o alugável. Elas falavam com você. Seguravam suas mãos. Ouviam seus problemas e diziam todas as palavras reconfortantes que um vaqueiro quer ouvir. Desde que pague os drinques dela, é claro. Mas os drinques nem eram drinques de verdade - pareciam uísque, mas eram chá gelado. Um uísque tão falso quanto as palavras de conforto. Mas o importante é: não eram prostitutas.
As mulheres eram "mercadoria" rara no Velho Oeste. Tinham muito valor e sabiam disso. Por que se prostituir quando se podia ganhar US$10 (mais de US1.000 atualizado) por semana só conversando? Havia fachada falsa, uísque falso e afeição falsa. Talvez houvesse um bordel nas imediações do saloon, mas neles só entravam quem dispunha de muitos dólares. E aí vem outro mito construído por Hollywood: o Velho Oeste não era um lugar de miseráveis. Era um lugar de homens, quase exclusivamente homens, com muitos dólares no bolso. Pobreza? Tinha ficado nas grande cidades do litoral. No Velho Oeste havia muito ouro e muitas vacas... e rara mão-de-obra. Os salários eram o dobro ou o triplo do pago nas cidades litorâneas.

Entrando em um saloon do Velho Oeste

Muitas armas e poucas brigas.

As armas estavam por toda parte no Velho Oeste. Os assassinatos eram como na nossa fronteira com o Paraguai: pelo menos um por dia em cada cidade. Não havia lei, mas onde não há lei, os costumes são muito fortes. Mas as mortes raramente ocorriam em um saloon. O costume ditava que quando ocorriam brigas, tinham de ir até o fim, até a morte. Também há o estado normal do bêbado. Bem antes de querer matar, deseja amar a todos, a bebida os deixa felizes.

Entrando em um saloon do Velho Oeste

Mamãezinha querida.

Os homens que construíram o Velho Oeste eram brancos e profundamente racistas. A regra é que só um negro de cada vez podia entrar no bar. Por lei, estavam proibidos os indígenas e os chineses. Mas também eram sentimentais. Na falta do que fazer no saloon, a noite terminava com cantoria, e o tema principal das músicas era a mãe. A canção preferida deles se chamava: "O melhor amigo de um garoto é sua mãezinha". O segundo lugar nas paradas de sucesso do Velho Oeste era uma música um pouco menos sentimental: "Se o oceano fosse de uísque e eu fosse um pato". Não havia Uber, mas os cavalos conheciam o caminho de casa.

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