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Em Pauta

Estudo explica o fracasso das guerras contra a droga

Mário Sérgio Lorenzetto | 18/01/2020 07:22
Estudo explica o fracasso das guerras contra a droga

Karina Garcia Reyes é do norte do México. Essa é uma das regiões mais afetada pela violência da guerra contra o narcotráfico. Levou sete anos estudando o tema. Estudou a história de vida dos narcotraficantes. É uma pesquisa inédita. Põe sobre a mesa uma perspectiva que vem sendo ignorada pelas universidades, policiais e políticos: a dos narcotraficantes. Lança luz sobre as possíveis causas da incursão desses homens no mundo das drogas. E também explica a lógica que eles têm do mundo. É um estudo chave para construir políticas públicas e de segurança. A autora diz que o grande fracasso da guerra vem do fato que as políticas foram, até agora, traçadas pelos políticos e policiais. Eles nada sabem sobre a vida dos narcotraficantes.

Estudo explica o fracasso das guerras contra a droga

Narcos: nem monstros nem vítimas.

Karina Reyes diz que é preciso reconhecer que os narcos são parte de nossa sociedade. Estão expostos aos mesmos discursos, valores e tradições que todos os demais homens. Um dos principais problemas, diz a autora, é que estão discriminados pelo discurso criado nos Estados Unidos, do "eles" contra "nós", dos "bons" contra os "maus". Esse discurso, além de ser absurdo em sua extrema simplicidade, esconde os múltiplos matizes que revelam as causas dessa violência. A autora do estudo garante que os narcotraficantes não se veem como monstros e nem como vítimas. A algo de extraordinário no trabalho da Karina Reyes, pela primeira vez, os narcos aparecem dizendo que a sua incursão nesse mundo não é a "única opção". Reconhecem que entraram no tráfico porque, ainda quando a economia lhes permitia sobreviver bem e sustentar suas famílias, eles queriam "mais".

Estudo explica o fracasso das guerras contra a droga

Os "descartáveis" da sociedade.

Eles tampouco se veem como criminosos sanguinários, como são apresentados nos filmes e na imprensa, diz Karina Reyes. Se autodefinem como agentes livres que decidiram trabalhar em uma indústria ilegal, mas também se definem como pessoas "descartáveis".
Esse sentimento de marginalidade, somado ao problema de dependência das drogas e a falta de um propósito geral de vida, faz com que valorizem pouco suas vidas. Para eles, a morte é vista como um alívio que virá muito cedo.
Esse é um tema chave para traçar as políticas públicas corretas e assim evitar que mais crianças e jovens se sintam descartáveis.

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A má sorte de nascer pobre.

Eles vivem dentro do individualismo a que todos estamos submetidos. Mas há outra novidade nesse estudo: não culpam os governos e nem a sociedade pela condição de pobreza em que vivem, mas tampouco sentem remorsos pelos seus crimes. Entendem a pobreza como uma condição inevitável. E só perguntam a Deus: "por que eu?" Consideram que tiveram a "má sorte" de nascerem pobres e marginalizados e suas vítimas tiveram a "má sorte" de cair em suas mãos. A lógica dos narcos é simples: "cada um que se vire, que resolva seus problemas ".

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A fantasia do parricidio.

Outra novidade fundamental que surge nessa pesquisa é que a quase totalidade dos traficantes sonham em matar o pai. O discurso que permeia a vida dos narcos os leva a ser agressivos, violentos e mulherengos. Se referem aos bairros pobres como a "selva", onde a lei do mais forte é a única a ser respeitada. A violência física é essencial para sobreviver, literalmente.
Quase todos sentem imenso rancor contra o pai. A maior ilusão é matá-los. Mas nenhum deles consegue. O ódio vem das surras e abusos a que suas mães são submetidas por seus companheiros. Querem vingar, não por causa de seus sofrimentos, mas pelos de suas mães.

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