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Em Pauta

Lições da eleição: apostas erradas, antidemocracia e a vitória dos mais capazes

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/10/2014 08:07
Lições da eleição: apostas erradas, antidemocracia e a vitória dos mais capazes

Tanto barulho para nada

A maior derrota destas eleições foi o movimento de junho de 2013, que levou milhões de pessoas às ruas, capitaneado por jovens. Quem apostou nessa vertente se deu mal. Pior ainda, os políticos mais atingidos e agredidos pelas passeatas tiveram bons resultados, com reeleições ou elegendo sucessores. Historicamente, os movimentos da juventude, como o famoso maio de 68 na França, os movimentos estudantis que foram eficazes para derrubar a ditadura militar no Brasil e o impeachment de Collor, não conseguem levar votos às urnas. São armas eficazes para a oposição e para a mudança de costumes e inexistentes para a organização partidária da democracia.

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Apolíticos e antidemocracia

Só no Mato Grosso do Sul foram mais de 350 mil que deixaram de exercer seu direito de escolher os candidatos. É um erro popular: imaginam que exista uma "classe" constituída por políticos. Não conseguem perceber que, queiram ou não, permanecerão sendo brasileiros e sul-mato-grossenses. Vão às ruas protestando contra tudo e contra todos, mas não escolhem quem nos governará. Se não existe o candidato ideal para o pensamento deles, com certeza existem candidatos que se aproximam de seus ideários, que defendem pelo menos uma causa que lhes é cara. Votem em Tiririca, mas votem. Amanhã, sua casa pode pegar fogo e só teremos um corpo de bombeiros eficiente para apagá-lo se escolhermos um governante que pelo menos organize bem o funcionalismo público. Ninguém, nem mesmo o mais rico cidadão, está isento de necessitar dos préstimos de algum policial. Você poderá se envolver em acidente automobilístico e necessitará de um eficaz trabalho policial e de socorro. Esses trabalhos são realizados por funcionários públicos - bem ou mal remunerados; bem ou mal preparados; grosseiros ou solícitos. Quem determinará a melhor qualidade desses serviços e de tantos outros são os políticos que você deixou de escolher.

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O medo venceu?

Uma das mais importantes insígnias do PT era: " a esperança vencerá o medo". Pois o governo Dilma está sendo vencido pelo medo. O medo de assumir publicamente que o petismo virou privatizante. A bandeira em favor das estatais e contrária à privatização era uma das mais importantes do arsenal de Lula. Deixou de ser, virou privatizante como seu principal adversário. Apenas a nuance é diferente. Quer uma gorda parte dos resultados das privatizações, travestidas de "concessões", para os cofres públicos. O petismo não assume seu novo papel: deixou de ser um partido que defende intransigentemente o Estado em detrimento da iniciativa privada. O medo está vencendo.

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Vitória dos mais capazes

Os três principais candidatos à Presidência eram, notoriamente, desprovidos de carisma. Mas dois, Dilma e Aécio, são bem preparados e foram para o segundo turno. Mais do mesmo. O antigo embate retornou. PT contra PSDB. Marina deixou claro que não tem "estofo", não tem tamanho e preparo para o enfrentamento necessário para conseguir a almejada terceira via. Sua candidatura não serviu nem para "arejar" o ambiente eleitoral. Pelo contrário, mostrou que é uma "frágil árvore no vendaval", sem fortes raízes que a sustentem. Será uma grande surpresa se não optar pelo apoio a Aécio. Bastou ao mineiro alguns minutos de excelente posicionamento no último debate, promovido pela Rede Globo, para resgatar a posição dos tucanos no cenário eleitoral brasileiro. A razão derrotou a emoção. Os dois melhores decidirão – em meio a uma campanha que nos envergonhará com tantas acusações – quem é o melhor. Estão distantes das figuras emblemáticas de seus antecessores - Lula e Serra. Não transmitem nem mesmo uma pequena parcela de tranquilidade para os destinos da nação, mas são os melhores. País azarado.

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PMDB continuará a dar as cartas em Brasília

Se o velho embate presidencial entre PT e PSDB se repete, o segundo poder - o parlamento - continuará nas mãos dos peemedebistas. Os "netos de Ulisses" elegeram 66 Deputados Federais e 18 Senadores. Como estavam divididos no primeiro turno, um terço para cada candidato a presidente, continuarão navegando em dois navios. E chegarão ao porto final recebendo uma fatia importante de poder. Comandarão a Câmara de Deputados Federais e o Senado. Receberão uma grossa fatia de Ministérios e estatais e continuarão a governar o país como segunda força, apesar de ser a terceira.

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PMDB permanecerá dividido no Mato Grosso do Sul

A cúpula peemedebista se reunirá para decidir os destinos do partido no Mato Grosso do Sul. Não resta dúvida que todos eles exercem maior ou menor influência sobre parcela importante e decisiva do eleitorado. Mas também não pode haver dúvida que permanecerão como estiveram no primeiro turno - divididos apoiando Dilma e Marina. Caso ocorra o anúncio formal de apoio a uma candidatura a Governador o agraciado sairá ganhando, mas a base do partido continuará a perseguir sua história. A mais antiga, em comum acordo com os tucanos. Mas há uma história mais recente que os remete a apoiar os petistas (desde que não seja o Zeca do PT, o único ponto de união dos peemedebistas). Na reunião da cúpula, a maioria dos "andrezistas" e "simonistas" tentarão o apoio a Delcídio, mas a maioria dos "tradistas" e "mokistas" estarão debatendo em prol de Reinaldo. Não podem esquecer, porém, que André e Simone saem muito fortalecidos das eleições e permanecerão ocupando grandes espaços no cenário político estadual.

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Mudanças necessárias na política brasileira

Uma proposta para resolver um entrave na política nacional é a de aproximar o dia da eleição com a data da posse dos eleitos. Não existem razões para ficarmos dois ou três meses, dependendo da conclusão em primeiro ou segundo turno, com um governante que já foi substituído pela determinação popular. Nos países que adotam o parlamentarismo, a posse dá-se no dia seguinte ao da eleição. Seria bem razoável iniciar o mandato 10 ou 20 dias após a data do resultado final.

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