Pergunta sem resposta certa: quem inventou a televisão?
Estamos sendo chamados de Homo videns. O Homo sapiens, o homem que sabe, já não sabe. Agora somos homens e mulheres que olhamos e olhamos para não saber. É o que mais fazemos. Em média, os 7,5 bilhões de humanos olha a televisão quatro horas por dia. Isso quer dizer que há muitos que olham a televisão por sete ou dez horas por dia, porque há outros que não olham nada ou quase nada. Também quer dizer que qualquer pessoa, aos 70 anos, terá uns 10 anos - 120 meses, 3.650 dias - olhando a televisão. As duas únicas coisas que fazemos em nossas vidas é dormir e trabalhar. Que já não olhem a televisão aberta, que agora sejam todos canais de série ou de futebol, dá na mesma: a televisão é uma das três atividades - a única voluntária - a que dedicamos a maior parte de nosso tempo. E, todavia, não sabemos de onde vem, quem inventou, como, quando e porque. O Homo sapiens ri.
A televisão não tem uma história registrada.
Todos sabemos que Franklin criou o para-raios, Edson a lâmpada, Bell o telefone, os Lumiére o cinema, Marconi o rádio, Fleming a penicilina; pode ser certo ou não, mas assim ensinavam a história. Agora, passamos a viver rodeados por inventos que ninguém sabe quem inventou. E o primeiro desses inventos sem um autor bem claro, foi o da televisão. Em verdade esses grandes inventores não criaram nada sozinhos. Mas isso só começou a ser percebido com a televisão.
Um certo russo anti-comunista.
O candidato principal nessa saga não é um norte americano - é um russo. Se chamava Vladímir Kosmich Zworykin. Nasceu em 1888, perto de São Petersburgo e ali foi estudar quando completou 17 anos. Eram tempos turbulentos. Guerra contra os alemães. Guerra interna. Zworykin se encontrou com Borís Lvóvich Rosing, um cientista que tentava fazer funcionar seu "telescópio elétrico". Uma forma de transmitir imagens de uma máquina a outra. E estava perto de conseguir a façanha. Mas veio a revolução soviética... Zworykin se alistou com os anti-comunistas. Teve de fugir. Foi à Sibéria e de lá, para os Estados Unidos. Conseguiu trabalho em uma empresa elétrica chamada Westinghouse. Seguiu investigando. Melhorou o invento e chegou, em 1923, a registrar uma patente de uma aparelho que não funcionava bem.
Enquanto isso... muitos sistemas e muitos nomes.
Enquanto isso, em outros lugares, muitos nomes tentavam a mesma façanha. Variavam os sistemas e os nomes. Chamaram o aparelho de iconoscópio, televista, telefoto, emitron. Pequenas emissões. Fracassos repetidos. Alguns livros insistem que o primeiro programa de televisão ocorreu em 1939, há 80 anos, na Feira Mundial de N.York, com a presença do presidente Roosevelt. Mas essa é uma história que não convence. Outros países estavam mais adiantados. Um deles, era a Alemanha. Quatro anos antes dos norte americanos, o governo alemão já fazia algumas raras emissões, mas eram regulares. O problema é que o governo alemão era comandado por um senhor de bigodinhos que ninguém aceita assumir como precursor. Imaginem a manchete: "Hitler criou a televisão". Muitos deixariam de assisti-la. Assim, preferimos esquecer. Então, o invento mais poderoso das últimas décadas, aquele que reinventou nossas vidas, não têm um inventor.
