Pilatos foi forçado a cooperar na crucificação?
Poucas figuras há na história como Pilatos. Figuras fugazes, aparecem brevemente e logo se volatilizam, desaparecem. Até hoje, Pilatos é sinônimo de uma figura ambígua, hesitante. Mas Pilatos é, além de um personagem bíblico, homem histórico. Não há qualquer dúvida sobre sua existência. Nem mesmo a chamada "Bíblia Nazista", que procurou transformar Jesus em um ariano ao invés de judeu, estabelece alguma dúvida sobre sua existência.
Um país revoltoso e incompreensível.
As dúvidas de Pilatos não são em vão. Se viu metido em uma disputa que punha em risco os complexos equilíbrios políticos de um diminuto país revoltoso. E mais, a cultura daquela região lhe parecia barbara e incompreensível. Ainda que qualquer análise sobre Pilatos seja desfocada, não resta dúvida que ele foi um cooperador necessário. Qualquer movimento errado que fizesse, resultaria em uma carnificina.
Lavou as mãos?
Esse é um gesto usado única e exclusivamente pelos judeus. Não há a menor possibilidade de que Pilatos, um dirigente romano, fizesse um gesto assim no processo. Uma incongruência cultural e jurídica. Mas foi necessário escrever sobre esse gesto, só assim ficava claro aos leitores judeus dos Evangelhos que Pilatos nada teve a ver com o assunto.
Havia multidão no processo de Jesus?
Esse é um elemento forçado. Marcos e Mateus colocam em seus relatos uma multidão de judeus durante o julgamento de Jesus para que compartilhasse, tivesse uma clara responsabilidade sobre o veredicto e a pena de crucificação. Mas em nenhum lugar Marcos e Mateus explicam os motivos dessa multidão. Por que a mesma cidade que receberá Jesus como herói há tão somente seis dias, muda de opinião e exige sua morte.
Uma assembleia popular em frete ao palácio?
Também é totalmente irreal que fosse convocada uma assembleia popular em frente ao palácio de Pilatos. Em primeiro lugar, ali não havia uma praça, um espaço onde pudessem uma multidão. Há outro ponto estranho: quem convocou essa assembleia? Certamente, Pilatos proibiria qualquer manifestação emanada de uma multidão. Ele não permitia essas reuniões massivas. Tampouco Pilatos tinha interesse em julgar Jesus. O mais provável é que o julgamento se deu com a presença de alguns poucos sacerdotes judeus, Pilatos e seus assessores e guardas.
Pilatos temia uma armadilha.
Jesus era um personagem conhecido quando foi preso. Era tido como um iluminado. Já os sacerdotes judeus, eram respeitados, mas não eram bem vistos. Pilatos se via envolvido em um ajuste de contas entre esses dois grupos. Os sacerdotes, saduceos, eram a aristocracia local, colaboradora com os romanos, e uma minoria. Todo o interrogatório de Jesus se passa com um Pilatos tentando descobrir onde estaria a armadilha que tentavam lhe envolver. Revela que Pilatos não tinha nada contra Jesus. Buscava uma acusação, mas não a encontrava. Jesus não se defende em momento algum. E uma frase retira qualquer dúvida de Pilatos : "Meu reino não é deste mundo". Estava falida a intenção de transformar Jesus em um rebelde que desejava investir contra o Império Romano.