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Em Pauta

Pílulas para a velhice. Vivendo até os 120 anos

Mário Sérgio Lorenzetto | 28/10/2016 07:05
Pílulas para a velhice. Vivendo até os 120 anos

Em março passado, membros do Guiness de Recordes Mundiais viajaram para Haifa, em Israel, a fim de visitar um fabricante de doces chamado Israel Kristal. Eles o proclamaram, aos 112 anos e 178 dias de idade, o homem mais velho do mundo.

Kristal teve uma vida extraordinária. Quando nasceu, em 1903, a expectativa de vida de um menino na sua Polônia era de apenas 45 anos. Sobreviveu a duas guerras mundiais e a quase um ano em campo de concentração nazista. Sua esposa e dois filhos morreram. Depois de casar novamente, emigrou para Israel, onde foi produzir doces.

De fato, a expectativa média de vida de um homem no mundo está perto de 80 anos. Somente cerca de duas em cada 10 mil pessoas vivem até os 100 anos, e a vasta maioria delas é do sexo feminino. Aos 112 anos, Israel Kristal está perto do limite máximo de longevidade até agora observado. Nenhum humano jamais superou a francesa Jeanne Calment, que morreu em 1997 aos 122 anos.

Falsas promessas de vida mais longa, ou até de imortalidade, remontam ao tempo dos alquimistas. Até o século passado não existiram evidências que sustentassem esse otimismo.

Constatações legítimas de pesquisas biológicas sugerem que períodos de extrema restrição calórica - como os experimentados pelo fabricante de doces - afetam o tempo de vida das células. Mas que suporta passar a vida comendo 25% a 30% menos do que o normal para ganhar anos de vida? Poucos, muito poucos. Mas, surgiram mais precisas para esticar os limites da vida, não com dietas, mas com medicamentos, as pílulas para a velhice começam a avançar apesar das dificuldades extremas.

Pílulas para a velhice. Vivendo até os 120 anos

Os "interruptores" para desligar o envelhecimento

Meia dúzia de medicamentos e suplementos, todos já aprovados para uso humano para outros fins, na realidade visam mecanismos de nossas células que parecem melhorar o controle de danos internos de nosso corpo, ajudando a prolongar a vida.

Alguns, entre eles uma droga anticâncer, já demonstraram comprovadamente aumentar o tempo máximo e médio de vida em camundongo se outros animais de laboratório. Em 2016, um popular remédio para diabetes, metformina, rumo para o primeiro ensaio clínico já projetado para revelar se um medicamento pode retardar o envelhecimento das pessoas. Talvez seja o primeiro "interruptor" para desligar o envelhecimento.

Tem havido tanta conversa maluca sobre viver para sempre e reduzir o envelhecimento que isso acaba abafando o que a ciência sabe até agora. Do modo como,as pesquisas estão indo, é plausível um aumento de 25% a 50% de longevidade saudável nos próximos 40 anos.

Pílulas para a velhice. Vivendo até os 120 anos

A rapamicina é promissora para o antienvelhecimento

Um dos mecanismos antienvelhecimento mais promissores foi descoberto por acaso. Em 2001, o biólogo Valter Longo, da Universidade do Sul da Califórnia, foi embora durante um fim de semana e esqueceu-se de alimentar as células de levedura que estava usando em um experimento. Descobriu, surpreso, que deixá-las completamente sem alimentos por certo período fez com que vivessem mais. A razão está em uma cascata de reações moleculares normalmente refervidas pelo nome da enzima que fica no centro dessas reações: mTor.

Essa via foi descoberta anos antes graças a uma droga chamada rapamicina, encontrada em bactérias do solo. Descobriram que a rapamicina afetava uma via importante que regula divisão e crescimento celular, funciona como um disjuntor em uma minúscula fábrica, isotônicos é, nas células. A rapamicina tem sido eficaz como imunossupressor para proteger órgãos transplantados e, mais recentemente, como terapia no tratamento de câncer. Esses males envolvem a divisão celular de forma descontrolada. O trabalho de Longo levou à revelação do,papel crucial da mTor no envelhecimento.

A fábrica - célula entra em um modo de produção mais eficiente, reciclando proteínas velhas para produzir novas, intensificando mecanismos de limpeza e reparo celular, e se acomodando até que a fome passe. A divisão celular diminui. A mudança de atividade afeta a sobrevivência. Já está comprovado que a rapamicina fez camundongos viverem mais. Nenhuma droga havia prolongado a expectativa de vida de mamíferos como ela. A rapamicina estendeu o tempo de vida médio e o máximo, embora os camundongos só começassem a recebê-la aos 20 meses de idade. Foi como dar a mulheres de 70 anos uma pílula que as deixasse viver além dos 95 anos. A rapamicina foi o primeiro acerto robusto, a primeira droga que todos cientistas afirmaram poder ser o verdadeiro caminho para o antienvelhecimento.

A rapamicina não está isenta de inconvenientes. Ela pode ter efeitos colaterais importantes: feridas bucais e atrofia testicular. Os estudos só começaram.

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