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Em Pauta

Scruton versus Olavo. A tradição conservadora

Mário Sérgio Lorenzetto | 30/12/2019 06:29
Scruton versus Olavo. A tradição conservadora

Olavo de Carvalho disse a um jornal que lia Roger Scruton nos anos 90, fascinado com sua habilidade de converter ícones intelectuais da esquerda ao "estado de múmias". Uma leitura extremamente parcial e pobre da profundeza de pensamento que há no pensamento de Scruton. Naquela época, esse pensador inglês já tinha fama e mais de 40 livros. Ensinara em Oxford e foi um dos principais organizadores do Conservative Action Group (Grupo de Ação Conservadora) que apoiou e deu sustentação intelectual ao governo Margaret Thatcher.

Scruton versus Olavo. A tradição conservadora
Scruton versus Olavo. A tradição conservadora

A ambição de atestar a tradição conservadora.

São livros muito acima do pueril e vulgar olavismo. Com uma prosa acessível e bem educada, em momento algum se aproxima do tom raivoso e empostado do guru brasileiro. Será que cada povo tem o guru que merece? Frei Beto, com suas ideias que tem a profundidade de um pires, foi o guru da esquerda brasileira por um bom tempo. Olavo é o novo rançoso guru da direita.
Scruton larga desde a Antiguidade Clássica com destino à "nova direita". Sua ambição é a de atestar a tradição conservadora longa, sólida e sofisticada ao longo dos séculos. Scruton, e o grupo da Ação Conservadora, vem orientando as lideranças intelectuais e políticas do Ocidente.

Scruton versus Olavo. A tradição conservadora

A reação às Revoluções Gloriosa, Francesa e Americana.

Uma das mais substanciais crirticas de Scruton está no estudo das mais famosas revoluções Ocidentais: a Gloriosa, a Francesa e a Norte Americana. Os argumentos são poderosos e criam dificuldades para os intelectuais de esquerda rebaterem. Scruton faz uma manobra interessante, contrabandeia mentes liberais para seu perímetro. No baile conservador de Scruton comparecem Montesquieu, Burke, Tocqueville e Adam Smith. Uns desfilam em trajes de gala, outros em camisa de força. Brilha Eliot como campeão da resistência da cultura de massa. Busca um resgate moral e religioso do Ocidente.

Scruton versus Olavo. A tradição conservadora

Reacionarismo, o pai do conservadorismo.

Em Scruton o conservadorismo é despido. Mostra com toda clareza que teve, de um lado, de se insurgir contra o pai, o reacionarismo. O cordão umbilical foi cortado por causa do deficit de enxergar a realidade do antepassado. Apegado ao direito divino dos reis e a formas de vida social em vertiginosa decadência, o reacionarismo assemelha-se ao comunismo: só está presente em insignificantes esferas das sociedades Ocidentais.

Scruton versus Olavo. A tradição conservadora

O calcanhar de Aquiles de Scruton.

A principal crítica feita a Scruton é seu anglicismo. Seu pensamento está focado tão somente na Inglaterra e nos EUA. Nem mesmo países Ocidentais importantes como a França, Alemanha e Itália apresentam-se com força. América Latina, Ásia e África? Nem uma gota de tinta saiu de sua caneta para algum debate.
Scruton também não deixa à direita dormir em paz. Para ele, os conservadores não podem manter o casamento com os liberais. Afirma que os conservadores não podem admitir a mercantilização do que não tem preço: "família, arte, fé e nação". Outra crítica importante é a de que Scruton não admite a igualdade. Decreta, sem discussão, que a desigualdade é natural. Mas suas obras são leituras fundamentais para quem deseja conhecer - e não apenas xingar - os fundamentos do pensamento conservador. É seu general de 10 estrelas, se é que isso existe. Frente a Scruton, Olavo não passa de um soldadinho raso.

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