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Crianças e emoções nas férias, na perspectiva de Melanie Klein

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 02/01/2024 10:34

Lidar com crianças durante as férias é uma tarefa desafiadora para muitos pais e cuidadores, pois demanda uma compreensão profunda das complexidades do desenvolvimento infantil. Nesse contexto, tentar entender e compreender os sentimentos de uma criança nesse período de mudança, pode ser bem desafiador, principalmente para as pessoas que não tem essa prática e conhecimento, mas é possível ter uma abordagem mais sensível e eficaz na criação de um ambiente propício ao crescimento saudável.

Melanie Klein, uma psicanalista contemporânea de Freud, trouxe contribuições significativas para a compreensão do mundo emocional das crianças. Através do seu conceito de posição depressiva e posição esquizoparanoide, ela destaca a importância de reconhecer e lidar com as emoções intensas que as crianças experimentam durante o processo de crescimento.

Durante as férias, as crianças podem sentir uma variedade de emoções, desde a excitação pela liberdade temporária até a ansiedade pela mudança na rotina. É importante saber reconhecer as diferentes posições emocionais que as crianças podem assumir. A posição esquizoparanoide, marcada por sentimentos de desconfiança e medo da perda, pode se manifestar quando as crianças se deparam com a separação dos colegas de classe ou de atividades habituais. Já a posição depressiva, caracterizada pelo luto e pela aceitação da realidade, pode surgir quando elas enfrentam desafios inesperados ou a falta de estrutura familiar durante as férias.

Uma abordagem sensível envolve a criação de um ambiente que permita a expressão aberta dessas emoções. Proporcionar atividades que estimulem a comunicação, como jogos, arte e conversas, pode ser fundamental. Além disso, é essencial estar atento aos sinais não verbais das crianças, compreendendo que suas ações muitas vezes refletem sentimentos profundos que podem não ser facilmente comunicados.

A visão de Melanie Klein também destaca a importância da empatia e da compreensão parental. Ao invés de reprimir ou minimizar as emoções das crianças, é crucial oferecer suporte emocional e validar seus sentimentos. Isso ajuda no desenvolvimento de uma base emocional sólida, permitindo que as crianças se sintam mais seguras ao enfrentar os desafios que as férias podem apresentar.

A promoção de um ambiente acolhedor, a valorização da expressão emocional e a empatia parental são elementos essenciais para garantir que as férias sejam um período não apenas de diversão, mas também de crescimento emocional e desenvolvimento saudável para as crianças. Bem como a volta as aulas e mudanças novamente em rotinas.

A crianças também precisam de rotinas e programações nas férias, pois, ao contrário dos adultos, elas podem se sentir entediadas, “sem ter o que fazer” e podem se sentir frustadas e angustiadas, sentimentos que podem desencadear problemas mais graves ao longo do tempo.  Nem tudo precisa necessariamente ter um recurso financeiro e nem precisa ser cronometrado, mas horários de dormir, de acordar, atividades em conjuntos com outras crianças, ou passeios ao ar livre também são opções boas e baratas para se fazer, o importante é deixar claro para a criança que o período de férias é um momento é bom e prazeroso.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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