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O Luto e os Ataques do Hamas a Israel: os traumas da guerra

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 16/10/2023 11:38

É inevitável até mesmo para pessoas que não estão bem informadas pelos meios de comunicação, serem “bombardeadas” por informações sobre o clima de Guerra e terrorismo que o Hamas vem provocando em Israel e no mundo todo. A insegurança se alastra a cada dia mais e mesmo não estando perto da localização geográfica, somos atingidos pelos lutos das famílias que perderam entes queridos, das famílias que estão à espera de informações, e do alívio das pessoas que conseguiram sair do país e se salvar.

Recentemente vivemos essa mesma angustia, referente a guerra da Rússia e Ucrânia, onde milhares de civis, pessoas inocentes, crianças e hospitais foram atingidos, deixando seu rastro de sangue por todo mundo. Além de viver a pandemia que também fez o mundo entrar em contato com a dor, perda e angustia de não conseguir suprir todas as necessidades de saúde.

O luto não se da apenas pela perda de uma pessoa próxima, mas a tudo e qualquer coisa que investimos   amor, interesse, ou que de alguma maneira deixa de estar ou fazer parte do que era cotidiano ou comum. Guerras e conflitos em larga escala têm profundos impactos psicológicos nas pessoas e nas sociedades afetadas, o que pode ser analisado sob uma perspectiva psicanalítica, considerando as complexas emoções, traumas e dinâmicas psicológicas envolvidas.

A psicanálise reconhece que em contextos de guerra, as pessoas enfrentam traumas significativos devido à violência, perda de entes queridos e deslocamento. O luto nessas situações pode ser complicado devido à natureza traumática das experiências vivenciadas, Freud em seu texto “luto e melancolia” de 1915, explora como o luto pode ser transformado em um estado patológico e permanente na vida de uma pessoa.

Viver e estar em um estado de alerta faz com que muitas pessoas experimentem de forma antecipatória o luto em sintomas psicológicos e comportamentais. Isso pode incluir pensamentos de angustia, pesadelos, ansiedade, culpa, raiva, depressão e até sintomas físicos, como dores no peito e insônia.

Entender e compreender o quanto essas noticias e informações são acumuladas e pareadas a nossas vivencias, nos trazendo alguns desses sintomas, é um dos trabalhos que a psicoterapia pode oferecer, afinal, os ataques terroristas vem deixando claro que o objetivo é fazer com que o mundo se mobilize e olhe para todas as questões culturais e existenciais pregadas por grupos radicais. A violência é a forma canalizada que eles encontraram de chocar o mundo.

Pensar sobre o quanto a guerra influencia no processo do luto antecipatório e luto complicado devido aos grandes traumas vividos, e o quanto eles afetam a nossa saúde mental e relacionamento interpessoal, mesmo não fazendo parte direta dos conflitos, pode nos ajudar a compreender e auxiliar caso algum sintoma se manifeste. Em todo caso a terapia se mostra como uma ação preventiva a manutenção da saúde mental.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório. 

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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