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Direto das Ruas

Enfermeira com paralisia reclama que nem doutorado garante transferência

Mesmo usando bengala para andar, enfermeira foi colocada para trabalhar em unidade com alto fluxo

Liana Feitosa | 18/02/2022 17:49

Andréa Rosa Queiroz, de 51 anos, é técnica de enfermagem, fonoaudióloga e enfermeira com pós-graduações, entre elas, uma em Saúde Pública além de doutorado pela USP (Universidade de São Paulo). Aprovada em concurso da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) de 2020 para vaga destinada a enfermeiros PCDs (pessoas com deficiência), viu um sonho virar pesadelo em pouco tempo.

Atualmente, trabalhando 44 horas semanais na USF (Unidade de Saúde da Família) Zé Pereira, uma unidade de saúde de alto fluxo de atendimento, desenvolveu ferimentos nas mãos e braços, além de lesões pelo impacto de ombro, punho e mão, com dores constantes devido a esforços repetitivos e à necessidade de andar muito para o desempenho das atividades rotineiras de trabalho.

Enfermeira desenvolveu machucados devido a esforços incompatíveis com sua capacidade física. (Foto: Arquivo pessoal) 
Enfermeira desenvolveu machucados devido a esforços incompatíveis com sua capacidade física. (Foto: Arquivo pessoal)

“Desde que assumi o concurso fiz várias tentativas de permuta para tentar me adequar em uma unidade de baixo fluxo, mas todos os meus pedidos [de transferência] foram negados. Não estou em uma unidade e em um setor que se adequem à minha limitação física, que respeitassem as minhas necessidades físicas. A divisão de enfermagem e a Secretaria de Saúde não vêm cumprindo o que me foi dado como garantia no meu concurso, já que fiz o concurso para vaga de pessoa com deficiência”, explica a enfermeira.

Início - Os problemas começaram assim que ela tomou posse, em agosto de 2020, sendo colocada para realizar testes de detecção de covid no parque Ayrton Senna, em Campo Grande. Eu fazia 250 testes PCR [na população] das 7h da manhã às 17h, com 1h de horário de almoço. “No parque, a cozinha é longe, o banheiro é longe. Era inadequado para mim”, lembra a profissional que tem 20 anos de experiência na área da saúde.

“Como pessoa com deficiência física, no momento em que assumi o concurso deveria ter passado por uma junta médica ali no IMPCG (Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande) para eles me ouvirem. Eu não fui ouvida. Passei pelo IMPCG com um médico perito, como acontece com todos, e não estou sendo avaliada como PCD de três em três meses, como deveria ocorrer”, amplia Andréa.

Falhas - “Esse é um segundo erro da divisão de enfermagem e da Sesau. O primeiro foi eu não ter passado por uma junta médica no ato da convocação para que eles vissem minhas necessidades, e o segundo é eu não estar sendo avaliada de três em três meses como PCD. E, o terceiro erro, é que desde o começo eles estão me colocando em lugares que não atendem minhas necessidades físicas. Eles estão me esgotando, física e emocionalmente. Já surgiram várias feridas na minha mão, eu estou com muitas dores”, alega a enfermeira.

De acordo com Andréa, a Sesau nunca deu explicações a ela, apesar das tentativas da profissional. “Sou a única PDC que usa apoio, os outros PCDs aprovados no mesmo concurso não apresentam limitações visíveis. A Sesau me vê como se eu não tivesse nenhum tipo de deficiência. Olha só que incoerência. Onde eu deveria ser recebida como enfermeira de forma humanizada, eu não fui”, lamenta. “A própria secretaria não

Outro lado - O Campo Grande News entrou em contato com a Sesau para posicionamento sobre o caso. De acordo com nota da secretaria, "a enfermeira em questão tem tido suas solicitações ouvidas, analisadas e, quando possível atendidas".  Segundo a nota, ela teve três pedidos de transferência de lotação atendidos.

"A servidora em questão também está sob acompanhamento da Gersau (Gerência de Saúde do Servidor), que, ao avaliá-la, recomendou algumas restrições ao serviço, obedecendo às limitações físicas da profissional. Desta forma, em algumas atividades exercidas pelo enfermeiro, ela conta com o apoio de colegas que também atuam na mesma unidade de lotação", diz a nota.

Na visão da Sesau, caso ela seja transferida para uma unidade menor, onde trabalha apenas uma equipe, alguns atendimentos serão impactados, como a visita domiciliar a pacientes acamados, por exemplo.

"Tendo isso em vista, a Sesau avalia qual a melhor forma para atender às necessidades da servidora, sem prejuízo ao atendimento à população. É importante ressaltar também que, em edital, fora descrito detalhadamente quais seriam as atribuições do enfermeiro aprovado e que o PCD deveria ter condições para que todas elas fossem cumpridas", finaliza a nota.

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