Parques são “praia” dos douradenses, mas cidade poderia ter bem mais
Dos cinco parques do perímetro urbano de Dourados, dois têm boas condições, um está abandonado e dois nunca saíram do papel
Dourados, que no dia 20 deste mês completa 80 anos de emancipação, bem que poderia ostentar o título de “Cidade dos Parques”. Cortada por quatro córregos, que pouco ou quase nada causam transtorno em épocas de chuva, a cidade tem dois parques ambientais bem cuidados, mas a estrutura ainda é pouca para atender uma população de 210 mil habitantes. Poderia ser melhor se o terceiro parque existente fosse conservado e se outros dois projetos tivessem saído do papel.
O Parque Antenor Martins, no Jardim Flórida, já foi o “queridinho” da cidade. Recebeu vários grandes eventos, shows e festas organizadas pelo poder público, como a já tradicional “Festa do Peixe”, que incluía um torneio de pesca no gigantesco lago artificial existente no local.
Mas o parque não recebe mais os mesmos cuidados. Depois que foram iniciadas obras de revitalização e construção de uma pista de caminhada, o parque localizado no Jardim Flórida, na região oeste da cidade, ficou meio de lado. Até os moradores dos bairros vizinhos não vão mais ao local como antes.
Atualmente o mais badalado é o Parque Ambiental do Córrego Rego D’Água Primo Fioravante Vicente, no Jardim Água Boa, região sul da cidade. Rodeado por uma pista de caminhada de 2 km, usada diariamente por centenas de moradores, o parque tem lago artificial, quadras de esportes e até uma academia de saúde.
A Festa do Peixe, que em anos anteriores ocorria no parque do Jardim Flórida, em 2015 aconteceu no Parque Rego D’Água, que ainda está em obras, mas é o mais bem cuidado da cidade.
Arnulpho – Muito usado por jovens e esportistas até a década de 90, o Parque Ambiental Arnulpho Fioravante, atrás do terminal rodoviário e do shopping da cidade, não recebe mais visitantes. Apenas a pista de caminhada ainda é usada, mas os quiosques viraram ruínas, o lago, tão grande quanto o do Antenor Martins, não é cuidado.
O projeto de revitalização nunca saiu do papel. Por outro lado, o parque tem uma grande população de capivaras. A área do parque é cercada para evitar a fuga dos animais e nesse espaço funcionam a sede da Guarda Municipal e do Imam (Instituto Municipal de Meio Ambiente).
Dourados deveria ter outros dois parques – do Córrego Paragem e do Córrego Laranja Doce –, mas o projeto nunca foi colocado em prática.
Para o arquiteto e urbanista Luiz Carlos Ribeiro, os córregos da cidade, onde existem os parques, foram mal cuidados na expansão da cidade. “Os rios e córregos existem há milhões de anos. São elementos naturais da paisagem. Foi a cidade que surgiu depois. Então não é lógico que o elemento natural se adapte ao elemento artificial. A prática urbanística no Brasil tem se dado exatamente no sentido contrário. Em Dourados não tem sido muito diferente. A maioria dos fundos de vales e seus córregos continua sendo invadida por conta de uma especulação imobiliária irracional e perversa, patrocinada por nossos governantes, comprometidos pela teoria do desenvolvimentismo sem fronteiras”.
Em 1994, Ribeiro projetou e iniciou o movimento “pró-Parque Ecológico Córrego Laranja Doce”. Na mesma época surgiu a SALVAR, Sociedade de Defesa Ambiental, que encampou a preservação e criação de parques ambientais na cidade.
Luiz Carlos Ribeiro cita que a atuação da Salvar, apesar de não ter alcançado ainda todos os seus objetivos, foi fundamental para a criação e preservação dos parques.
“Propusemos a criação e implantação dos parques lineares e uma forma organizada de ocupação dos fundos de vales dos demais córregos. Mais recentemente travamos intenso debate pela preservação do Córrego Curral De Arame em vista a desmedida e irracional ampliação do perímetro urbano de Dourados sem nenhum cuidado com aquele fundo de vale extremamente sensível e fundamental . Trata-se de um afluente do Rio Dourados que desagua antes e muito próximo de nossa estação de abastecimento de água”, afirmou Ribeiro.