Baixo nível do Rio Paraguai causa redução das exportações de grãos e minérios
Estado deixará de movimentar 50% do volume de cargas previstas para serem exportadas pela hidrovia, neste ano
Diante do baixo nível do Rio Paraguai, um dos menores em 22 anos, os portos de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho estão suspendendo as operações durante o mês de agosto. Com a paralisação o Estado deixará de movimentar pelo menos 50% do volume de cargas de grãos e minério de ferro previsto pela hidrovia para este ano.
Somado a pouca infraestrutura da malha hidroviária da região, a seca deste ano tem agravado as más condições da Hidrovia do Paraguai. “O cenário que estamos vivenciando agora com as limitações de calado expõe, na verdade, as mazelas do nosso sistema hidroviário”, afirma Jaime Verruck, titulor da Semagro (secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar).
Segundo Verruck a situação é um reflexo da falta de investimentos do governo federal na infraestrutura da hidrovia, nas últimas décadas. O secretário aponta que a dragagem de manutenção do rio, e a melhoria da sinalização náutica, hoje à cargo da Marinha, são algumas das medidas urgentes a serem adotadas para reestruturar a malha.
Para o secretário, tais limitações, se resolvidas tecnicamente e com investimentos, hoje poderiam tornar a hidrovia plenamente navegável em condições mais críticas. “O governo do Estado criou uma linha estratégica e vem tratando isso conceitualmente com Brasília, em uma ação conjunta também com o Paraguai e a Bolívia, no sentido de trazer a Hidrovia do Paraguai para o patamar de discussões dos grandes eixos rodoviários e ferroviários”, comentou.
Prejuízos
Com o nível do Rio Paraguai a sete pés (2,10 metros), em Porto Murtinho - previsão de reduzir ainda mais, a 1,67 metros na primeira semana de outubro -, o terminal da FV Cereais, que iniciou operações em março deste ano, não cumprirá 50% da meta de exportar 500 mil toneladas de grãos para os mercados asiáticos, via Oceano Atlântico. Até a última sexta-feira, os embarques somavam 230 mil toneladas e as operações já se inviabilizaram.
“Estamos no limite, a hidrovia vai parar”, afirmou o empresário Peter Feter, um dos proprietários do porto. O baixo nível do rio no trecho brasileiro da hidrovia não é o único entrave para os comboios que saem de Corumbá, Ladário e Murtinho, hoje com 30% a 40% menos de cargas. As maiores restrições estão no lado paraguaio, na região de Valemi, onde há concentração de rochas. O trecho que limita o calado vai de Murtinho a Assunção.
Os operadores já se queixam que além de não cumprirem os contratos, as condições de navegabilidade na hidrovia encarecem o frete em 30%, segundo Peter Feler. A rotatividade dos comboios, na rota Ladário-Rosário, subiu de 40 para 60 dias, e a partir de Murtinho, de 30 para 47 dias. A soja estocada nos terminais está retornando às rodovias em direção aos portos de Santos e Paranaguá.
O porto da Granel Química, em Ladário, está carregando minério de ferro e manganês com 70% d capacidade das barcaças, informou o gerente Luiz Dresh. O terminal tinha uma projeção de exportar dois milhões de toneladas este ano – contratos com a Vale e a Vetorial -, contudo as limitações de calado devem reduzir o volume embarcado em 40%. “Estamos operando com calado de 8 pés. O trecho limitador está entre Murtinho e Assunção”, explica explica Osvaldo Filho, gerente da FV Cereais.
“O nosso governo criou uma política pública para potencializar a nossa estrutura portuária e atrair novos investimentos no setor, como ocorre em Porto Murtinho, onde tivemos uma baixa expectativa nas exportações devido de bater recorde no ano passado”, completa o secretário Jaime Verruck.
O mesmo ocorre, segundo ele, com o minério de ferro de Corumbá, onde há um estoque elevado e a alternativa da Vale foi transportar de caminhão até Santos.
Recuperar a ferrovia
A queda abrupta nas exportações fluviais, explica o secretário, ocorre num momento favorável as comodities de Mato Grosso do Sul com um mercado internacional aquecido em termos de preços e demandas. Há uma previsão de sair por rodovia pelo menos 1,7 milhão de toneladas de minério de Corumbá, até meados do próximo ano. Isso ocorre, também, pelo abandono da Ferrovia Malha Oeste, que seria a alternativa de transporte nesse momento.
“O cenário nos mostra a grande necessidade de retomada desse modal, dentro de uma estratégia global de transportes e vital para o fluxo das exportações a custos competitivos. O governo do Estado está buscando a relicitação da concessão da Malha Oeste”, observou. A garantia de transporte é fundamental, segundo o secretário, lembrando que, por conta do colapso na hidrovia, hoje existe um represamento muito grande de mercadorias.