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Economia

Cada habitante de MS fica exposto a 34 litros de agrotóxicos por ano

Renata Volpe Haddad | 03/07/2015 16:48
O Inca  recomenda a redução progressiva e sustentada do emprego de agrotóxicos nas plantações, por causar diversos riscos à saúde do produtor que manuseia o herbicida, quanto comunidades em torno das regiões de plantio.  (Foto: Hypescience)
O Inca recomenda a redução progressiva e sustentada do emprego de agrotóxicos nas plantações, por causar diversos riscos à saúde do produtor que manuseia o herbicida, quanto comunidades em torno das regiões de plantio. (Foto: Hypescience)

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), aprovou a liberação de um agrotóxico mais nocivo à saúde, do que outros existentes no mercado com o mesmo princípio ativo e para o mesmo fim. É o herbicida MegaBR da empresa Ourofino, desenvolvido para cana-de-açúcar e café, que teve que classificação tóxicológica nível 2, considerado altamente tóxico, segundo informações do Jornal Folha de São Paulo.

Ainda de acordo com a Folha, a Anvisa vai reclassificar o herbicida como menos nocivo, para poder regularizá-lo. Só que este tipo de agrotóxico, pode afetar a saúde de produtores que manuseiam o produto e comunidades em torno da região.

O uso de agrotóxicos é muito discutido atualmente, principalmente suas consequências para a saúde humana. Cada habitante de Mato Grosso do Sul está exposto a 34 litros de agrotóxico por ano, nas regiões produtoras de soja, milho e cana-de-açúcar, segundo dados da Comissão Estadual de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, que foi criada há um ano, para poder ser um espaço plural para expor e contrapor os dados apresentados.

Cada habitante de MS está exposto a 34 litros de agrotóxico por ano. (Foto: Defensores da Natureza/Divulgação)
Cada habitante de MS está exposto a 34 litros de agrotóxico por ano. (Foto: Defensores da Natureza/Divulgação)

Perigo - Esse número é alarmante por dois aspectos, segundo o procurador da República e coordenador da Comissão, Marco Antônio Delfino de Almeida. “O primeiro pela vinculação entre a exposição a agrotóxicos e câncer estabelecida pela Organização Mundial de Saúde e referendada internamente pelo INCA (Instituto Nacional de Câncer). O segundo se deve à deficiência do monitoramento dos resíduos de agrotóxicos existentes nos alimentos e na água consumidos pela população”, comenta.

O procurador afirma que a alteração do quadro atual de consumo, precisa passar por três eixos. “Educação em relação aos efeitos nocivos à saúde e ao meio ambiente dos agrotóxicos; assistência técnica efetiva com a adequada orientação ao produtor da quantidade de produto a ser utilizada, controle e monitoramento da venda e utilização do produto”, ressalta. Além disso, é necessário também a verificação dos resíduos existentes com a consequente identificação do produtor, vendedor e técnico que são responsáveis em caso de inconformidade.

De acordo com o Dossiê Abrasco (Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva), foi feito um estudo em Mato Grosso do Sul, no período de 1992 a 2002, e constatado intoxicações provocadas por agrotóxicos na microrregião de Dourados. Foi observada correlação entre a prevalência de intoxicações e de tentativas de suicídio pela exposição a agrotóxicos, principalmente nas culturas de algodão e feijão. Os municípios de Dourados, Fátima do Sul e Vicentina se apresentaram como mais críticos na microrregião. Os inseticidas foram a principal causa de agrotóxicos envolvidos nas ocorrências.

As áreas de grande concentração da monocultura coincidem com as áreas de maior consumo de agrotóxicos e, tragicamente, também com as áreas de maior incidência de violência no campo. Conforme dados divulgados pelo Conselho Indigenista Missionário, dos 43 indígenas assassinados em 2012 mais de 60% ocorreram no Mato Grosso do Sul, confirmando a estatística de campeão de violência contra os povos indígenas. As ações de reintegração de posse, além de serem um ato de violência em si, propiciam o desencadear de mais violências e mortes.

A região de Dourados, a maior produtora de algodão de Mato Grosso do Sul, é caracterizada por grandes propriedades em que predomina a pulverização de agrotóxicos por tratores e aviões agrícolas. Estudos demonstraram que nessa região a incidência de suicídios é maior do que em todas as outras regiões do Estado, com exceção de Campo Grande, segundo a Abrasco.

Pesquisa da Embrapa - Segundo o pesquisador de Gestão Ambiental e Recursos Naturais da Embrapa Gado de Corte, Rodiney Mauro, com relação às águas subterrâneas foram consideradas três áreas. A primeira delas refere-se às porções de recarga do Aquífero Guarani nas Nascentes do Araguaia.

A segunda, localizada no estado do Mato Grosso, apresentou uma redução entre 40 e 50% dos teores de matéria orgânica dos solos cultivados em relação aos solos virgens, devido ao uso e manejo do solo ao longo de 12 anos nas nascentes do rio Paraguai (Alto Pantanal). Ao mesmo tempo, tais áreas foram submetidas a cultivos intensivos com exigências, tanto de adubos e fertilizantes, quanto de agrotóxicos.

Além disso, esta região também apresenta risco às águas superficiais. Diferentes ingredientes ativos têm sido detectados em amostras da região nordeste da bacia.

Atualmente não há como reduzir a utilização de agrotóxico nos campos, pelo menos em MS, devido ao clima tropical. (Foto: AtribunaMT/Divulgação)
Atualmente não há como reduzir a utilização de agrotóxico nos campos, pelo menos em MS, devido ao clima tropical. (Foto: AtribunaMT/Divulgação)

Contraponto - De acordo com o assessor técnico da Câmara Especializada de agronomia do Crea/MS, e engenheiro agrônomo Jason Oliveira, não tem como ninguém afirmar se esses dados estão certo sem que seja feito um estudo mais específico. “Quando analisam os dados, os técnicos pegam o número de agrotóxicos que são receitados e divide pela quantidade de população, mas isso não reflete a realidade, precisa de um estudo mais completo”, comenta.

Oliveira diz que tudo que é cultivo, o agrotóxico é usado. “Não apenas nas lavouras de grãos, mas também em na cultura de plantas ornamentais, criação de animais, pastagens, eucalipto, no hortifrutigranjeiros e produtos domissanitários que não recebem o nome de agrotóxico, mas são produtos utilizados para combater insetos caseiros, ratos, baratas, escorpiões a até no combate ao mosquito da dengue”, explica.

O agrônomo comenta que atualmente não há como reduzir a utilização de agrotóxico nos campos, pelo menos no Estado. “Vivemos em um país com clima tropical onde doenças e pragas se propagam. Nos Estados Unidos eles não utilizam porque o próprio clima combate essas doenças”, ressalta.

Dourados, São Gabriel do Oeste e Chapadão do Sul são as regiões que mais utilizam agrotóxico no Estado, segundo o assessor. Ele comenta que todo o produto agrotóxico comprado pelo produtor tem que ser autorizado por um engenheiro agrônomo ou técnico agrícola. “O produtor procura por um profissional e relata que está tendo problemas com pragas. O especialista vai até a produção, analisa o tipo de praga e prescreve uma receita com o produto e a quantidade necessária para aplicação”, comenta.

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