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Economia

Com mais restrição, pequeno empresário vive de tentar crédito

Garantia junto ao banco e taxa de juros são os principais desafios do pequeno empresário

Por Izabela Cavalcanti | 10/02/2025 11:48
Com mais restrição, pequeno empresário vive de tentar crédito
Alencar pegando produto enquanto abre o caixa da empresa (Foto: Marcos Maluf)

As pequenas empresas desempenham um papel fundamental na economia de Mato Grosso do Sul, tanto é que são responsáveis por 88% das empresas no Estado e 74% dos empregos gerados no ano passado. No entanto, esses mesmos negócios enfrentam dificuldades significativas quando o assunto é acesso ao crédito, se tornando mais vulneráveis às crises.

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Pequenas empresas em Mato Grosso do Sul, responsáveis por 88% das empresas e 74% dos empregos, enfrentam dificuldades para acessar crédito, tornando-se mais vulneráveis. Alencar Bosco, dono de uma loja de eletrônicos, tenta empréstimo desde 2015 sem sucesso, apesar de não ter restrições. Wilson Junior, com uma loja de roupas, também desistiu de tentar empréstimos devido aos altos juros. O Sebrae oferece apoio, incluindo o Fampe, que ajuda com garantias para empréstimos. A Selic, elevada para 13,25% ao ano, encarece o crédito e desestimula a produção e o consumo.

Conforme dados da Receita Federal, repassados pelo Sebrae, são 339.101 empresas em Mato Grosso do Sul, sendo que 300.250 são pequenos negócios.

Alencar Bosco, de 55 anos, trabalha no ano ramo de eletrônicos e desde 2015 tenta empréstimo de, pelo menos, R$ 20 mil, mas nunca conseguiu. Ele abriu a loja em 2013, dentro do Camelódromo.

“Já estou aqui esse tempo todo, lá se vão 12 anos. Depois de alguns anos surgiram algumas outras oportunidades de empréstimos aqui, só que eles falam, fazem propaganda de juros baixos, só que nunca consegue, no meu caso, eu não tinha nenhuma restrição e nunca consegui”, lamentou.

Depois, ele já tentou outras duas vezes, em 2018 e 2023, para investir em mercadoria e estrutura da loja, mas também não teve sucesso no acesso ao crédito.

“A gente procura para fazer capital de giro, colocar mercadoria na loja. Não sei se é a burocracia, qual é o critério que eles usam, mas a gente nunca tem acesso. Apesar de levar toda a documentação, não ter restrição no meu nome, sempre tem uma desculpa, só dizem que não foi aprovado, não falam o motivo. A gente acaba desistindo, buscando por outros meios, fazendo um empréstimo na conta pessoal, pagando juros bem mais alto”, completou.

Diante da vulnerabilidade e da dificuldade do crédito, Alencar diz que “se vira pedindo crédito aos fornecedores”.

Wilson Junior, de 26 anos, tem uma loja de roupas masculina, e também sofre com essa realidade. Há 3 anos, quando começou, conseguiu um empréstimo de R$ 3 mil, mas resolveu não pegar por conta dos juros altos, que ele não se recorda do percentual.

“Diante disso, resolveu ir guardando dinheiro para conseguir abrir a loja. Eu saí do MEI, e migrei para o ME, e mesmo assim não tem benefício nenhum. O que aumenta só é a despesa para pagar ao governo. Eu acredito que se a gente tivesse uma ajuda de um empréstimo fácil, aumentaria muito a nossa renda, a gente conseguiria contratar mais pessoas, gerar novos empregos. Em questão de empréstimo, eu nunca fui aceito na época”, disse.

Pela dificuldade, ele decidiu não tentar mais. “Hoje em dia eu não tentei mais. Mas se fosse antes, me ajudaria bastante se eu conseguisse pegar um empréstimo. Se a gente tivesse uma ajuda do governo também, porque querendo ou não, esses empréstimos de banco, você pega 10 e tem que pagar 20, são juros muito abusivos”, comentou.

Com mais restrição, pequeno empresário vive de tentar crédito
Diretor- superintendente do Sebrae Cláudio Mendonça em entrevista ao Campo Grande News. (Foto: Henrique Kawaminami)

Auxílio - O diretor-superintendente do Sebrae, Cláudio Mendonça, deixa claro que nem sempre é questão de ter empréstimo, mas, sim, de planejamento.

“Nós apoiamos empresários no todo da empresa, o crédito é um ponto. Às vezes, o empresário está achando que ele precisa de crédito, na verdade, ele precisa de planejamento. Então, essa é a grande questão que o Sebrae tem para trabalhar muito com a empresa, é o momento que ela está para pegar o crédito. Se realmente o crédito é o que vai fazer a diferença naquele momento ou não”, explicou.

Ele exemplifica ainda que têm pessoas que usam o dinheiro guardado para comprar equipamentos, como freezer, computador, sendo que isso poderia ser financiado, com juros mais baratos. Ou seja, a pessoa poderia usar esse dinheiro guardado para capital de giro, no qual, os juros são mais caros.

O Sebrae também tem como opção o Fampe (Fundo de Aval para Pequenos Negócios), que serve para ajudar aqueles que não conseguem empréstimo por falta de garantia. Com isso, é oferecido garantia complementar de até 80% do valor para facilitar o acesso ao crédito nas instituições financeiras conveniadas ao Sebrae.

Em março, o Fampe irá ajudar com até 100% de aval para as mulheres, em uma caravana que irá começar por Mato Grosso do Sul.

Cláudio reconhece também que os pequenos negócios têm dificuldade em ter acesso aos empréstimos. “A gente tem um índice ainda muito baixo de pequenas empresas que conseguem o recurso, pelo financiamento que existe no Brasil. Nós temos uma questão clara, não é daqui do Estado, é do Brasil, o modelo de financiamento da empresa, capital de giro, capital de investimento ou os juros hoje realmente puxado. E para o banco também, emprestar para alguém para correr risco, sendo que ele pode emprestar na Selic sem correr risco”, pontuou.

Dentre os principais desafios que o pequeno empresário encontra para conseguir empréstimo, estão: garantia e valor dos juros.

“Garantia, que é uma das coisas que o Sebrae ajuda. Uma das principais coisas para ele pegar crédito é garantia; o valor dos juros hoje, que realmente proíbe em muitas atividades a pessoa pegar; e a parte de cadastro da empresa. O banco não quer tomar bem de ninguém, ele quer o dinheiro de volta, e a documentação da empresa tem que estar muito arrumada para ela poder mostrar que tem um lucro para pagar aquilo”, explicou.

Selic – Na primeira reunião do ano, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou os juros, saindo de 12,25% para 13,25% ao ano.

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter o controle da inflação, que é medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Isso porque os juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo.

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