Pausa do JBS deixa gado no pasto e pecuaristas de MS apreensivos
Grupo detém 60% do mercado sul-mato-grossense, que abateu 3,2 milhões de cabeças ano passado
Após anúncio da suspensão de abates em seis frigoríficos do JBS em Mato Grosso do Sul, por três dias, pecuaristas estão apreensivos, sem receber e com lotes de gados, antes escalados para o abate, agora parados no pasto. A maior preocupação do setor é saber como o preço deve ficar quando os frigoríficos voltarem a operar.
O grupo JBS detém em torno de 60% do mercado sul-mato-grossense. Para se ter uma ideia do tamanho disso, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2016 foram enviadas 3,2 milhões de cabeças de gado para frigoríficos no Estado, o segundo maior volume do Brasil, menor apenas que o do Mato Grosso, que foi de 4,5 milhões.
Para o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Jhonatan Barbosa, depois do anúncio de suspensão de abates de carne bovina, pecuaristas estão apreensivos.
"O abate foi suspenso por três dias, mas ninguém sabe o que vai ser quando voltar, e se voltar, como estarão os preços, sendo que o valor da arroba já estava baixo antes mesmo da operação ser divulgada. Estamos em uma corda bamba", afirma.
Barbosa diz ainda que os produtores trabalham com escalas, ou seja, lotes de gados são separados até duas semanas antes para serem encaminhados aos frigoríficos. "Está um desespero total, porque os produtores contam com o dinheiro do abate e aí quando vai recorrer ao banco, não libera empréstimo por medo de recessão", informa.
O presidente finaliza dizendo que essa recessão pode atingir toda a cadeia do agronegócio, até a soja. "Quando entramos no período da seca, é preciso manter o gado com farelo de milho ou soja, mas sem dinheiro, como o produtor vai comprar esses alimentos, se são caros? É uma cadeia produtiva, sendo que um puxa o outro".
De acordo com o secretário de desenvolvimento econômico, Jaime Verruck, Mato Grosso do Sul está tendo impacto indevido, quando deveria estar sendo beneficiado. "O prejuízo está na paralisação das atividades, na produção e arrecadação decorrente a uma operação que não aconteceu aqui e onde tínhamos o melhor perfil para exportação", afirma.
Verruck diz ainda que o impacto está no mercado internacional que fechou para o Brasil e não somente para as unidades investigadas. "Isso impacta no produto pronto, no fluxo de caixa do produtor, na geração de empregos. A situação é extremamente preocupante", diz.
O secretário informa que, das sete unidades do JBS, a única em funcionamento é a de Anastácio. "A planta continua operando porque lá o abate é diferenciado e os países que compram não apresentaram restrições".
Para a solução do problema, Verruck informa que o Brasil tem que mostrar ao mundo que produz carne de qualidade. "É um problema interno que tem que ser resolvido mostrando que nosso sistema sanitário é adequado para voltarmos a exportar. Isso passa pela questão da sanidade", informa.
Conforme o presidente da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de MS), Maurício Saito, com menos compradores, os produtores ficam com os animais “represados”, diminuindo, assim, a oferta de bovinos. "Com a retomada dos abates nos próximos dias, esses animais represados serão todos ofertados, ou a maioria, no mesmo momento, aumentando a disponibilidade e, consequentemente, reduzindo o preço da arroba para ao produtor", alega.
Para ele, isso tende a normalizar-se nas próximas semanas, a partir do momento em que o mercado varejista tiver a real dimensão dos impactos no consumo da carne, uma vez que, aproximadamente 80% da carne bovina produzida no Brasil é consumida no mercado interno.
"Nossa expectativa é que o consumo interno não seja tão afetado, pois os consumidores brasileiros, apesar de surpresos com os fatos noticiados, confiam na qualidade e segurança da carne produzida", finaliza.