Documentarista João Farkas diz que viu um "Pantanal desfigurado"
Renomado documentarista, João Farkas já tem um trabalho extenso no Pantanal, dessa vez ele registrou o desastre das queimadas
O renomado documentarista e fotógrafo paulistano João Farkas está lançando um livro com registros do bioma panteiro após as queimadas que assolaram a área em 2020. O livro "Pantanal" é uma série de fotografias que demonstram como as chamas transformaram regiões inteiras do Pantanal, lugar que registra desde 2014.
Em um texto escrito para o jornal Folha de São Paulo, João explica que foi difícil comparar as cenas com as de antes das queimadas. "Voltar ao Pantanal no início de dezembro, após a mais violenta onda de incêndios de que se tem notícia, foi encontrar uma terra descolorida, sem vida, onde antes se ouvia a algazarra de papagaios e araras, o mergulhar pesado de jacarés e capivaras, a dança sutil das garças azuis".
Ele conta que foi chamado para construir não apenas um livro de fotografias, mas um depoimento visual, um alerta, um manifesto. "Mas o Pantanal revelou outra mensagem: mais uma vez, queria mostrar-se incrivelmente belo, espetacularmente diferente das imagens já conhecidas. Era como se eu ouvisse o seu desejo de não mostrar apenas a destruição, mas apresentar ao Brasil aquilo que estava se perdendo silenciosamente e que precisa sobreviver".
A imagem da capa, segundo João, se impôs: "uma linha de fogo de 30 km que avançava devastadora e imparável sobre os campos do Parque Estadual do Rio Negro (MS)".
João explica que o livro que estava destinado a ser o registro de um lento processo de degradação, mas tornou-se um grito desesperado de socorro por uma das regiões mais belas e ricas em biodiversidade do planeta.
"É verdade que o Pantanal começa a se recuperar e o verde já rebrota porque houve alguma chuva em outubro. O Pantanal tem resiliência ao fogo. Mas, desta vez, especialistas alertam que a extensão das queimadas eliminou, além da vegetação, um número exagerado de animais e que a vida levará muito tempo para se recompor de alguma forma".
"O Pantanal não deixará de existir nem de ser belíssimo e de acolher visitantes, mas está cumprindo uma missão de alerta. Essa região fascinante, que aprendi a amar ao conhecer, se apresenta em sacrifício e urgente testemunho de um destino que aguarda a todos se não soubermos mudar", conclui.
O livro pode ser encontrado no site da Editora Sesc.
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