Em todo canto, poesia falada é forma de desbloquear a mente e ocupar espaço
A escritora e produtora cultural Meimei Bastos veio de Brasília para ajudar participantes a se expressarem
Não é só no papel, a poesia está em todo canto. Seja na foto, música, casa e até na comida, essa arte ajuda a destravar a mente. “Somos bloqueados e condicionados a não falar, mas a gente tira um pouco disso. É um método de desbloquear as pessoas, para que elas falem o que pensam com segurança”, conta Meimei Bastos.
Ela é escritora, produtora cultural e coordenadora do Slam Q’brada. Também foi representante do DF (Distrito Federal) no Campeonato Nacional de Poesia Falada, Slan BR, em 2015 e participou da Festa Literária Internacional de Paraty em 2018.
Meimei veio de Brasília para Campo Grande e participou do projeto “Arte da Palavra”, que ocorreu no Sesc Cultura. Estava desde o dia 24 deste mês na Capital ensinando como funciona a poesia falada. Ontem (28), foi sua última aula. “O desafio é trabalhar com a subjetividade da palavra, trazer isso para performance, se comunicar, dar projeção de voz, saber a velocidade e a cadência do texto”, diz.
Meimei trabalha com o universo da poesia desde 2012. É de uma família com muitas mulheres e sempre gostou de ouvir histórias. “Ficava horas ouvindo o que minha avó contava. Lembro de ouvir e imaginar. Acredito que a poesia é uma lente que se coloca para enxergar o mundo melhor”.
Quatro alunos participaram da oficina. Mas ao contrário da caneta e papel para escrever, eles tiveram que caminhar pela sala na velocidade lenta, média e rápida. “A poesia no papel é engessada, fica fria numa folha. A ideia é resgatar isso através do corpo, fazendo exercícios de respiração”, relata.
Depois, deitaram-se ao chão para ocupar o espaço e conhecer o ambiente através do toque. “Partimos para invenções, pois a palavra tem memória e também carrega cor e cheiro. Tem que usar com a imaginação”, diz Meimei.
Letícia Nunes faz parte do Slam Camélias há dois anos, e participou do para aprender a se expressar melhor. “Somos um coletivo de mulheres e fazemos batalhas de poesias na rua. Quis participar pela questão da respiração, de jogar as palavras no ar, pois, às vezes, não entendemos pela forma de falar”. Para ela, a poesia é uma forma de dar voz as mulheres. “Sempre quis ter essa voz e que alguém escutasse o que tenho para dizer”.
Everson Tavares, 28, também foi conferir. Ele é fotógrafo e comentou sobre sua percepção de poesia. “Estou aprendendo a enxergar a linguagem escrita. Vai além do gosto das palavras, e acredito que posso ser criativo para explorar isso na fotografia”.
Ele contou que sua família tinha muitos livros e que na adolescência aproveitou para conhecer as obras. “No ensino médio, tinha algumas referências mórbidas. Contudo, hoje aprecio Manoel de Barros, que na minha opinião, deu sentido a tudo que temos e sentimos. Acho isso incrível”.
Já Tatiana Samper, 32 anos, estava em busca de se conectar melhor com outras pessoas. Ela é psicóloga e atua com mulheres que sofreram violência. “Vim conhecer outras técnicas de trabalho corporal e me surpreendi. Trazer o sensorial para as palavras, ajuda a se conectar e nos expressar melhor com os outros. Contribui no amadurecimento das ideias pessoais e do serviço”, concluiu.
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