Não é só uma foto, projeto é chance de levar histórias para casa
O que a fotografia conta? Na série “100 fotos para MS”, projeto de artistas que doaram suas obras para serem vendidas por apenas R$ 100,00 e arrecadar dinheiro para ajudar instituições em meio a pandemia do novo coronavírus, fotógrafos exploram muito mais do que uma paisagem ou instante. Em preto e branco ou colorido, as imagens trazem histórias, memórias, curiosidades, aplausos, superação.
A ideia do projeto surgiu através de uma iniciativa que já ocorre em outros estados, no entanto, aqui em Mato Grosso do Sul, os artistas lutam para vender as imagens e continuar ajudando em um momento onde a empatia é tão importante, por isso, ao Lado B, alguns fotógrafos descreveram as histórias por trás das imagens, como forma de sensibilizar e mostrar que cada registro é chance de você ter algo contado de maneira tão sensível na parede de casa.
São 100 fotografias, logo, 100 histórias para contar, sem repetições, como a da dona Neuza, uma indígena Ñande Sy Kaiowá, que veste as roupas típicas para a celebração do Jerosy Puku, uma tradicional cerimônia que celebra a colheira. “A postura dessa mulher é firme e forte, mas seu olhar é triste. Assim é a vida dos Kaiowá e dos Guarani: entre cantos e lamentos”, descreve a autora da fotografia, Tatiana Varela.
Outra tradição marcou o coração da fotógrafa Camila Vilar, que registrou com sensibilidade um projeto no Morro do Mandela, em Campo Grande. “Essa fotografia é integrante. Registrei nesse dia o projeto Yalodê, que leva brinquedos, almoço, capoeira e festividades para as crianças e moradores da comunidade. No dia, o Yalodê, fundado pelo Pai Augusto de Lógunède, realizou, também, uma coreografia para apresentar as iabás (orixás femininos) por meio da dança. Essa fotografia representa a imagem de Iansã, a mãe do entardecer”, explica Camila.
A arte e sua deliciosa mania de provocar a reflexão foram parar nas lentes Wilyam Nicolay. “Essa fotografia faz parte de um processo para a criação de um espetáculo cênico, e todo seu texto assim como seus personagens falam muito do que vivemos hoje, por isso, escolhi essa foto, por ela representar em sua semiótica o que somos e estamos agora”, justifica.
Em meio a escuridão a saudade se fez luz e foi registrada por Luria Corrêa, que há pouco tempo tentava superar a perda de duas pessoas muito queridas, “tão incríveis quanto as constelações que a gente pode ver toda noite do quintal”, descreve a fotógrafa. “Nesta em especial, um apagão tomou conta do nosso bairro por algumas horas. Deitada no chão de cimento, olhei para o brilho e para a escuridão acima de nós e tentei silenciar minha cabeça. Faço isso com eficácia quando fotografo.”
As fotos também contam histórias e superações de personagens bem campo-grandenses, como a Kleverton Borges Teodoro, o Rei Momo do Carnaval 2020 de Campo Grande, que foi fotografado pelo fotojornalista Henrique Kawaminami durante produção de reportagem do Lado B em sua comunidade. “A foto é de Kleverton na Igreja São Benedito - Tia Eva. Esse menino tem displasia na coluna e mesmo sentindo muitas dores, consegue sambar com sorriso no rosto e representar com muito orgulho sua comunidade”.
Essas e muitas outras cenas foram captadas de forma sensível e surpreendente pelas lentes de 100 fotógrafos, que viram na emergência do novo coronavírus uma maneira de ajudar com arte.
São 100 fotografias, doadas por 100 artistas e à venda por R$ 100 cada. A galeria virtual segue até o fim de julho.
A iniciativa partiu da fotógrafa nova-andradinense Aline Teodoro, que convidou amigos de várias cidades e áreas profissionais para criarem a campanha. Em Mato Grosso do Sul, a entidade escolhida para receber os recursos arrecadados foi a CUFA, Central Única das Favelas, coletivo que desenvolve ações assistenciais em comunidades periféricas na capital e tem expandido sua atuação para cidades do interior, como Dourados e Três Lagoas.
Além de beneficiar quem está mais vulnerável ao contágio do coronavírus, a campanha tem outro resultado positivo: dar visibilidade à produção fotográfica do estado.
E a equipe 100FotosParaMS, segue buscando a parceria de empresas e instituições que queiram apoiar de alguma maneira a campanha, que tem custos, apesar de ser beneficente.
Para visitar a galeria e comprar as obras, basta acessar www.100FotosParaMS.com.br. As fotografias também estão disponíveis no perfil no Instagram @100fotosparams. E quem não puder comprar, ainda pode ajudar compartilhando, pois, como diz o slogan da campanha “não podemos estar perto, mas podemos estar juntos!”.