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Artes

Não é só uma foto, projeto é chance de levar histórias para casa

Thailla Torres | 22/07/2020 08:15
Tatiana Varela registrou com sensilibidade a tradição da indígena Neuza.
Tatiana Varela registrou com sensilibidade a tradição da indígena Neuza.

O que a fotografia conta? Na série “100 fotos para MS”, projeto de artistas que doaram suas obras para serem vendidas por apenas R$ 100,00 e arrecadar dinheiro para ajudar instituições em meio a pandemia do novo coronavírus, fotógrafos exploram muito mais do que uma paisagem ou instante. Em preto e branco ou colorido, as imagens trazem histórias, memórias, curiosidades, aplausos, superação.

A ideia do projeto surgiu através de uma iniciativa que já ocorre em outros estados, no entanto, aqui em Mato Grosso do Sul, os artistas lutam para vender as imagens e continuar ajudando em um momento onde a empatia é tão importante, por isso, ao Lado B, alguns fotógrafos descreveram as histórias por trás das imagens, como forma de sensibilizar e mostrar que cada registro é chance de você ter algo contado de maneira tão sensível na parede de casa.

São 100 fotografias, logo, 100 histórias para contar, sem repetições, como a da dona Neuza, uma indígena Ñande Sy Kaiowá, que veste as roupas típicas para a celebração do Jerosy Puku, uma tradicional cerimônia que celebra a colheira. “A postura dessa mulher é firme e forte, mas seu olhar é triste. Assim é a vida dos Kaiowá e dos Guarani: entre cantos e lamentos”, descreve a autora da fotografia, Tatiana Varela.

Camila Vilar doou obra intitulada “Iansã, mãe do entardecer”.
Camila Vilar doou obra intitulada “Iansã, mãe do entardecer”.

Outra tradição marcou o coração da fotógrafa Camila Vilar, que registrou com sensibilidade um projeto no Morro do Mandela, em Campo Grande. “Essa fotografia é integrante. Registrei nesse dia o projeto Yalodê, que leva brinquedos, almoço, capoeira e festividades para as crianças e moradores da comunidade. No dia, o Yalodê, fundado pelo Pai Augusto de Lógunède, realizou, também, uma coreografia para apresentar as iabás (orixás femininos) por meio da dança. Essa fotografia representa a imagem de Iansã, a mãe do entardecer”, explica Camila.

A arte e sua deliciosa mania de provocar a reflexão foram parar nas lentes Wilyam Nicolay. “Essa fotografia faz parte de um processo para a criação de um espetáculo cênico, e todo seu texto assim como seus personagens falam muito do que vivemos hoje, por isso, escolhi essa foto, por ela representar em sua semiótica o que somos e estamos agora”, justifica.

Arte pelas lentes de Wilyam Nicolay.
Arte pelas lentes de Wilyam Nicolay.

Em meio a escuridão a saudade se fez luz e foi registrada por Luria Corrêa, que há pouco tempo tentava superar a perda de duas pessoas muito queridas, “tão incríveis quanto as constelações que a gente pode ver toda noite do quintal”, descreve a fotógrafa.  “Nesta em especial, um apagão tomou conta do nosso bairro por algumas horas. Deitada no chão de cimento, olhei para o brilho e para a escuridão acima de nós e tentei silenciar minha cabeça. Faço isso com eficácia quando fotografo.”

As fotos também contam histórias e superações de personagens bem campo-grandenses, como a Kleverton Borges Teodoro, o Rei Momo do Carnaval 2020 de Campo Grande, que foi fotografado pelo fotojornalista Henrique Kawaminami durante produção de reportagem do Lado B em sua comunidade. “A foto é de Kleverton na Igreja São Benedito - Tia Eva. Esse menino tem displasia na coluna e mesmo sentindo muitas dores, consegue sambar com sorriso no rosto e representar com muito orgulho sua comunidade”.

História do Rei Momo do Carnaval 2020 de Campo Grande por Henrique Kawaminami.
História do Rei Momo do Carnaval 2020 de Campo Grande por Henrique Kawaminami.

Essas e muitas outras cenas foram captadas de forma sensível e surpreendente pelas lentes de 100 fotógrafos, que viram na emergência do novo coronavírus uma maneira de ajudar com arte.

São 100 fotografias, doadas por 100 artistas e à venda por R$ 100 cada. A galeria virtual segue até o fim de julho.

A iniciativa partiu da fotógrafa nova-andradinense Aline Teodoro, que convidou amigos de várias cidades e áreas profissionais para criarem a campanha. Em Mato Grosso do Sul, a entidade escolhida para receber os recursos arrecadados foi a CUFA, Central Única das Favelas, coletivo que desenvolve ações assistenciais em comunidades periféricas na capital e tem expandido sua atuação para cidades do interior, como Dourados e Três Lagoas.

Além de beneficiar quem está mais vulnerável ao contágio do coronavírus, a campanha tem outro resultado positivo: dar visibilidade à produção fotográfica do estado.

E a equipe 100FotosParaMS, segue buscando a parceria de empresas e instituições que queiram apoiar de alguma maneira a campanha, que tem custos, apesar de ser beneficente.

Para visitar a galeria e comprar as obras, basta acessar www.100FotosParaMS.com.br. As fotografias também estão disponíveis no perfil no Instagram @100fotosparams. E quem não puder comprar, ainda pode ajudar compartilhando, pois, como diz o slogan da campanha “não podemos estar perto, mas podemos estar juntos!”.

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