Nos versos da periferia, Rafael se afastou do ódio e descobriu o perdão

"Nunca me faltaram convites para o mundo do crime, das drogas, mas de alguma forma o rap me tirou desse caminho. Acabou que me salvou, e por isso posso dizer que hoje sou livre do mal".

A vida na periferia em que Rafael Cassiano Ferreira da Silva cresceu não foi fácil. Porém, com a ajudinha de um dos pilares fundamentais da cultura do hip-hop, isto é, o canto discursado com rimas e poesias rítmicas chamado rap, lhe trouxe uma nova motivação ainda quando adolescente. Descobriu que é possível sim trilhar um caminho "de bem" e, principalmente, não guardar o ódio e a raiva da infância. Aos 23 anos, é o MC Versos67 que espalha a mensagem do que um dia aprendeu.

"Eu tinha 17 anos quando entrei para o mundo do rap. Antes eu já dançava hip-hop e conhecia a cena de rua. Na época, até cogitei e era incentivado pelos 'amigos' a entrar para a vida bandida, dar um 'jeitinho' no meu pai, afinal aquela era minha realidade e como eu achava que as coisas deveriam ser resolvidas", relembra.

Ouvi uma música do Projota que falou diretamente comigo. Só peguei mais amor pelo rap. Foi minha saída da escuridão".

"Existia muito ódio na minha família. Meus pais sempre brigavam, discutiam feio. Eu apanhava do 'meu velho' às vezes sem motivo. Sei que nunca faltou comida para mim e minhas irmãs, mas minha infância não foi das melhores", considera.

Rafa afirma que tinha muita coisa ruim guardada no peito, se sentia sozinho e frustrado. Pelo rap foi onde libertou todos os vícios do passado. "Aprendi a perdoar. Era uma pessoa rancorosa, hoje sou respeitado e admirado pelas pessoas ao meu redor, principalmente minha família, meu pai. Nossa relação não é a mais a mesma, a gente conversa e janta junto", diz.

Pelo "rap da mensagem" – seu estilo de poesia de rua – busca falar dos traumas do passado além do que as pessoas vivem, sem julgamentos. "É incentivar a menorzada a acreditar nos sonhos, porque falo das nossas desigualdades mas com uma mensagem positiva, reflexiva, para que ninguém escolha o caminho do crime", opina.

Como MC Versos67, Rafa já foi campeão de batalha, cantou na associação dos professores do bairro onde vive – Parque dos Laranjais II –, fez sarau de quintal, teve participação em igrejas e muitas outras atividades. No YouTube, lança músicas autorais e posta seus vídeos, tudo sozinho.

"Sempre fiz a coisa rolar entre amigos, sem apoio de terceiros. Participei de uma mixtape do grupo Realidade Cruel que tem até uma música em que o vocalista manda um salve pra Campo Grande. Também fui vencedor de dois projetos do MC Nocivo Shomon de SP (Projeto Mc's do Anonimato e Cypher Bushido). Fui cantar no lançamento do mixtape Jogada de Mestre, onde juntei um dinheiro e fui por minha própria conta", afirma.

Mesmo que a pandemia de covid-19 tenha sido um baque, o sonho de virar um rapper de sucesso não foi jogado de lado, apenas interrompido. Agora, mais recentemente, Rafa foi selecionado no maior evento de rap estilo gangsta na cidade de São Paulo, o "Gangsta Paradise".

"Todo ano tem seleção e tive a honra de ser convidado para representar MS junto dos meus parceiros do Conceito Moral. Estamos juntos buscando patrocínio, pois tem alimentação, hospedagem, passagem, mas com a graça de Deus vai dar tudo certo", acredita.

Para quem quiser ver mais vídeos do MC Versos67 pode acessar seu canal no YouTube. Ou ainda, dar uma conferir no seu perfil do Instagram.

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