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Artes

Santa Nhanhá nasce em “artéria” do bairro para proteger e dar voz à periferia

É da injustiça enraizada e evidente nos subúrbios que o grafiteiro molda sua inspiração

Danielle Valentim | 16/10/2019 06:10
Mais do que cores, o trecho ganhou visibilidade num misto urbano e religioso. (Foto: Marcos Maluf)
Mais do que cores, o trecho ganhou visibilidade num misto urbano e religioso. (Foto: Marcos Maluf)

Em um estúdio anexo a casa onde mora, o artista e tatuador SanderleySabergue Martinez, de 26 anos, mais conhecido como San, aprimora o talento que o acompanha desde pequeno. Entre releituras urbanas, críticas sociais e cenas do cotidiano, o artista dá voz a quem mora na periferia por meio do grafite. Desta vez, o cruzamento da Rua dos Andes com a Rua do Aquário, via movimentada e considerada uma “artéria” do bairro, ganhou a proteção da Santa Nhanhá.

Mais do que cores, o trecho ganhou visibilidade num misto urbano e religioso. A mulher de pele preta e olhos de luz foi pintada com as mãos juntas, como se estivesse em oração. Os brincos em formato de argola levam o nome: Santa Nhanhá.

Para quem vem da Avenida das Bandeiras e entra na Rua do Aquário, o grafite está ao lado direito. Mas nem é preciso muita explicação, afinal de contas é possível ver a obra de longe.

Um antes do cruzamento.
Um antes do cruzamento.
Ponto depois de receber as cores do grafite.  (Foto: Marina Pacheco)
Ponto depois de receber as cores do grafite. (Foto: Marina Pacheco)
O ponto foi estratégico e escolhido justamente pela visibilidade, diz San. (Foto: Marcos Maluf)
O ponto foi estratégico e escolhido justamente pela visibilidade, diz San. (Foto: Marcos Maluf)

Junto ao grafite, a frase também é curiosa e remete a um cuidado familiar: Vai pela sombra filho... é quente. Pode deixar mãe que vou na sombra do onipotente.

O ponto foi estratégico e escolhido justamente pela visibilidade. Feito há dois meses, a arte durou três dias porque foi feita intercalada com outro serviço, mas normalmente duraria um dia.

“Essa descida é como uma artéria da Vila porque é corredor para outros bairros. É ali o entra e sai de carros e maior fluxo de dependentes químicos. A Santa Nhanhá veio para proteger os irmãozinhos que estão nas ruas”, explica.

No Estúdio SCW, San tem a companhia constante de “Mega”. (Foto: Marcos Maluf)
No Estúdio SCW, San tem a companhia constante de “Mega”. (Foto: Marcos Maluf)

Filho de mãe paraguaia, Martinez já morou em vários lugares, mas há sete está na Vila Nhanhá. Pai de uma menina de 6 anos, o artista garante que a arte salvou sua vida. “A arte deu outro sentido a minha vida. Eu não estudei para isso, ela nasceu comigo e me fez viver melhor. Não sei se daria certo fazendo outra coisa”, pontua.

É da injustiça enraizada e evidente, principalmente, nos subúrbios que Martinez molda sua inspiração e a repassa às paredes. Os primeiros desenhos de Martinez já ganharam forma na parede e iniciaram em 2010.

No Estúdio SCW, San tem a companhia constante de “Mega”, uma cadelinha vem ciumenta e protetora. Nas paredes do escritório particular há muito mais reflexões.

Momento de prática e estudo. (Foto: Marcos Maluf)
Momento de prática e estudo. (Foto: Marcos Maluf)
Black Block criado por San. (Foto: Marcos Maluf)
Black Block criado por San. (Foto: Marcos Maluf)
Mulher que representa a vila em seus traços. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mulher que representa a vila em seus traços. (Foto: Arquivo Pessoal)
Grafite feito em homenagem à filha de 6 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Grafite feito em homenagem à filha de 6 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Uma delas mostra o “Black Bloc” revestido com a bandeira de Campo Grande. O desenho se trata de um garoto periférico com a boca tapada, ou seja, o típico morador que não ganha voz. “Eu não falo deles, pela arte eu tento representa-los e eles se reconhecem no desenho também”, explica.

Além da obra, uma mulher com traços latinos, brincos que também levam o nome da Vila faz parte do cenário de seu estúdio. Entre as criações, um grafite que representa a filha de 6 anos. O desenho está localizado numa escola do Bairro Parati e foi feito durante um projeto de grafite nas escolas.

San faz qualquer desenho, mas, é claro, que prefere a liberdade de criar. “Quem me conhece me deixa criar, mas quem não conhece prefere a arte ensinada a eles, então, só reproduzo o que eles pedem”, pontua.

Confira mais trabalhos de San, no Facebook e Instagram.

A arte deu outro sentido a minha vida. Eu não estudei para isso, ela nasceu comigo e me fez viver melhor, diz San.
A arte deu outro sentido a minha vida. Eu não estudei para isso, ela nasceu comigo e me fez viver melhor, diz San.
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