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Comportamento

"Não é não!" tem efeito, mas falta muito para entender que assédio não é exagero

Thailla Torres | 28/02/2017 06:28
Carimbo foi uma das alternativas na hora de passar o recado de que: não é não! (Foto: Bibiana Vargas)
Carimbo foi uma das alternativas na hora de passar o recado de que: não é não! (Foto: Bibiana Vargas)

Durante o Carnaval, mulheres ergueram a bandeira por uma folia sem assédio. Além de pedir respeito, buscaram alternativas para que os homens entendessem que "não é não". A discussão fez efeito em alguns casos, mas toda mulher continua com alguma história de assédio para contar, porque nem todo mundo entendeu o recado.

A empresária Daiany Couto, de 26 anos, diz que ficou surpresa, principalmente, com os mais jovens. "Os novinhos foram sensacionais e desconstruídos, quando a menina falava, saiam de perto. O difícil é mudar a cabeça dos mais velhos, vi muitas sofrendo assédio por eles", conta. 

Fisicamente, a violência vem no puxão pelo braço ou cabelo e mão na bumbum. Quando isso acontece, Daiany diz que procura conversar. "Sinto que devemos ensinar e não brigar. No Calcinha Molhada, uma amiga gritou com o cara, mas levei ele para longe e falei sobre a atitude. Claro que ele estava bêbado e nem se importou. Mas acho que é isso que temos que fazer, ajudar umas as outras com paciência".

Já a psicóloga Tamyres Cuellar, de 29 anos, diz que precisou fazer um escândalo no meio de homens e mulheres pedindo ajuda. "Fui parada por muitos caras, mas de um jeito tranquilo que eles entendiam o não. Mas teve um cara que gritei mil vezes para ele parar de cercar. Tanto que chamei umas meninas que estavam do meu lado. Na hora, elas ficaram pensativas por uns 30 segundos e só aí entenderam que eu estava precisando de ajuda".

Sai machista, avisa brinco de quem aproveita a folia.
Sai machista, avisa brinco de quem aproveita a folia.

Para Tamyres, faz falta o hábito de colocar o discurso em prática. "A gente vê que na internet fica muito fácil falar contra o assédio. Mas na hora, as pessoas ficam apáticas e não ajudam. E tomar uma atitude funciona, percebi que o cara geralmente fica meio perdido ou começa a pedir desculpas", conta.

A carioca Mariana Moraes, de 23 anos, foi um exemplo de mulher que desprezou o campanha. Ela passou o Carnaval pela primeira vez em Campo Grande e afirma que foi menos assediada do que no Rio de Janeiro, mesmo assim, não entendeu o recado e acredita que a mulher é culpada. "Sempre rola um assédio, mas é a mulher que vem se mostrando e depois vem pedir respeito. Acho que se a mulher facilita a situação é porque ela aceita", afirma.

Para mulheres que levaram o grito de respeito para a folia, o Carnaval foi mais divertido. A empresária Bibiana Vargas, de 30 anos, fez questão de carimbar "não é não" no corpo e não desiste de lutar contra os machistas de plantão. "O resultado desse primeiro Carnaval ainda não foi o esperado, mas acho que foi um bom passo para eles respeitarem. O grande problema é que a maioria acha exagero".

No último sábado, a arquiteta Caroline Lewin, de 24 anos, decidiu vender cerveja com uma amiga no Carnaval. Por serem mulheres, ficou difícil vender com incontáveis assédios por parte dos foliões. "Os caras chegavam e diziam que só comprariam a cerveja por beijo, outro disse que a gente desse a cerveja eu ganharia um beijo no pescoço", conta.

No mesmo dia, teve cara que chegou passando a mão no bumbum. "Isso faz a gente ficar com medo pensando em como se proteger se ele agarrar a gente a força. Mas isso não aconteceu, ainda bem" diz Caroline.

Até Carlos sofreu assédio no Carnaval, mas diz que nada se compara ao que as mulheres sofrem.
Até Carlos sofreu assédio no Carnaval, mas diz que nada se compara ao que as mulheres sofrem.

E até homem reclamou do assédio e aproveitou a situação para falar da vergonha que sente de quem perde o respeito. "Também sofri assédio das mulheres, parece que não, mas isso acontece", conta rindo o acadêmico de Física Carlos Eduardo Vieira, de 22 anos. "Mas levo numa boa, digo que não quero e jamais sou babaca com elas", afirma.

Mesmo assim, ele diz ser difícil comparar com o receio das mulheres. "Sei que para elas a situação é muito mais difícil e tem muito o que mudar. Moro em república, fazemos festas e, sempre que as meninas bebem, tem um cara forçando a barra. Mas a bebida não é desculpa, o que falta é respeitar e entender quando ela não quer", diz Carlos.

E um Carnaval sem assédio não significa que todo mundo tem que se privar da paquera. É fato que na folia, todo mundo aproveita para se soltar, mas a cada tentativa, falta entender que a beijação tem que ser um consentimento dos dois. "Presenciei cenas de assédio no banheiro, com homem puxando mulher pelo braço e acho que se o próximo não quer, o básico é o respeito", completa o acadêmico Matheus Vasconcelos Mendonça, 22 anos.

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