Agência de marketing de MS causa polêmica ao simular enchentes
Uso de inteligência artificial na tentativa de comover as pessoas gerou críticas à empresa; sociólogo reflete
Com as redes sociais fervendo nos últimos dias com publicações sobre a tragédia que assola o Rio Grande do Sul e campanhas de solidariedade para ajudar vítimas das enchentes no estado gaúcho, uma publicação nesta terça-feira (7) causou polêmica em Campo Grande.
Uma agência de Marketing, a Rise, usou uma publicação no Instagram com imagens de Campo Grande alagada feitas pela inteligência artificial na tentativa de “impactar”. Em poucos minutos as imagens simulando uma tragédia por aqui causaram alvoroço nas redes sociais e dividiram opiniões.
O espaço de comentários tem sido preenchido com gente que achou a proposta ‘fora do tom’, ‘desrespeitosa’ ou com objetivo de potencializar o engajamento da página. Mas tem gente que defende e acha que as imagens podem gerar solidariedade.
“Excelente forma de demonstrar como não usar a inteligência artificial. Faltou noção, faltou respeito, faltou informação relevante sobre como ajudar quem de fato está sofrendo na pele com essa tragédia”, disse uma das seguidoras.
Outro comentário também desaprova a publicação dizendo que foi “deselegante e que pesaram a mão”.
Um usuário também foi enfático sobre a escolha do conteúdo dizendo que, em 27 anos de profissão na área da Propaganda, “poucas vezes viu algo de tão mau gosto e irresponsável como a publicação”.
Diante de tantos questionamentos e críticas sobre quem pode ou não pode manipular imagens em meio à tragédia, conversamos com o professor e doutor em Ciências Sociais, Tiago Duque, que destacou que, o que ocorre neste momento no Rio Grande do Sul não tem precedentes no país, portanto, não há comparações possíveis de serem feitas. Mas, ao mesmo tempo, essas imagens fictícias, segundo ele, "pode ser forma de sensibilizar ou provocar a reflexão sobre vulnerabilidades, riquezas e histórias".
No entanto, o sociólogo destaca os riscos da desinformação em meio à tragédia. "A desinformação é mais perigosa e desrespeitosa que as imagens modificadas que tentam nos convencer a sermos solidários. Nos comprometemos menos com a prevenção desses desastres se a nossa atenção estiver centrada nas imagens sabidamente falsas e não nas notícias intencionalmente falsas. O desafio é fazer a audiência das mídias digitais se indignar com o negacionismo científico e com a flexibilização da legislação ambiental, com as tentativas de inibir ou desestimular a solidariedade em dias como esses que temos vivido, e menos com as provações criativas que querem nos tornar mais parecidos naquilo que de fato somos: vulneráveis aos nossos próprios atos ante a crise climática", destacou.
Apesar da chuva de críticas, a empresa manteve a publicação e apenas se defendeu em nota à imprensa. “Nosso objetivo foi destacar a importância de estarmos unidos em momentos de crise, e não explorar a situação para ganhos pessoais ou de imagem”, disse. A empresa também jura que a “intenção era sensibilizar a população” e que não “se trata de uma tendência passageira ou tentativa oportunista de ganhar visibilidade”.
Matéria editada às 13:40 de 08/05/2024 para acréscimo de informações
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