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Comportamento

Amigo que segurava a mão de todos, Rui se despede deixando história

Advogado e delegado aposentado, Rui Oliveira Luiz foi sepultado na tarde desta quinta-feira (11).

Letícia Ávila | 11/03/2021 16:30
Rui foi sepultado no Parque das Primaveras ao lado de amigos e familiares. (Foto: Kísie Ainoã)
Rui foi sepultado no Parque das Primaveras ao lado de amigos e familiares. (Foto: Kísie Ainoã)

Foi 81 anos de uma vida, a maioria dedicada à segurança pública. Rui de Oliveira Luiz atuou, nas palavras dos próprios amigos, com “maestria em todas as competências policiais”. Começou com pouco e voou alto, mas nunca tirou a humildade do chão. Foi ele quem despertou grandes talentos na polícia e, anos depois, os abraçou como amigos.

Advogado, delegado aposentado, ex-secretário de Segurança Pública e ex-vereador por Campo Grande. Rui nasceu em Camapuã e na noite de ontem (10) ele se despediu dos filhos, netos e uma legião de amigos e admiradores.

Também delegado aposentado e melhor amigo, Alair Fernando Neves, de 78 anos, se recorda exatamente do primeiro contato que teve com Rui, antes da divisão do Estado. “O doutor Rui sempre foi uma pessoa carismática. O conheci quando ele era escrivão e eu agente de polícia. Anos mais tarde, quando houve a divisão do estado, estreitamos ainda mais amizade. Fui convidado para ser polícia do novo estado, ele estava na corregedoria e eu me lembrei dele. Naquela época conheci uma parte do Rui empreendedor”.

Daniel era sobrinho neto de Rui e fala com amor da história do tio. (Foto: Kísie Ainoã)
Daniel era sobrinho neto de Rui e fala com amor da história do tio. (Foto: Kísie Ainoã)

Alair se lembra de quando Rui abriu a Escolinha de Polícia. “Naquela época não tinha academia, mas ele já era um homem visionário e decidiu ensinar, foi um grande professor. Eu passaria horas falando tudo o que pude aprender com ele”, atribui o amigo.

A profissão ficou marcada pela história que começou na simplicidade. Rui arrumou emprego como faxineiro na Delegacia Central, que ainda no antigo Mato Grosso, ficava na Rua 14 de Julho, esquina com a Rua 7 de Setembro. Lavou muito banheiro e delegacia até se tornar guarda civil. Depois se formou em Direito, foi efetivado como escrivão e ganhou o reconhecimento na década de 1980, como secretário de Segurança Pública por duas vezes, nos governos de Marcelo Miranda e Ramez Tebet.

Apesar da pressão do cargo exercido dentro da segurança pública, Rui não costumava perder a simpatia, nem a simplicidade. “Independente da situação, da investigação, ele tratava todo mundo com o mesmo respeito”, afirma Alair.

As pescarias da família sentirão falta das boas conversas de Rui durante os passeios. Daniel Fernandes Oliveira, sobrinho, lembra sempre de como Rui ajudava todos a sua volta, buscando sempre os momentos de confraternizações e pescarias para viver a vida junto à família.

No celular, Daniel guarda os momentos divertidos na pescaria com Rui. (Foto: Kísie Ainoã)
No celular, Daniel guarda os momentos divertidos na pescaria com Rui. (Foto: Kísie Ainoã)

E foi esse olhar que mudou a vida de Djalma Santana, hoje advogado. Ele tinha 19 anos 19 anos quando Rui o tirou da favela para ensinar. “Foi uma amizade que durou 30 anos. Levou-me até para morar na casa dele. O que sou hoje devo a ele”, descreve.

Para sobrinho neto Hudson Aparecido Menezes, as festas em família – quando a pandemia tiver fim – terão gosto de saudade. “Ele gostava de reunir todo mundo no Ano Novo”, lembra. “Construiu uma família tão grande que eu fiquei sabendo que ela era prima recentemente”, diz se referindo à Jéssica Farias de Oliveira, sobrinha de neta de Rui.

“Ele se importava muito com todos da família. Em um episódio difícil da nossa história, quando minha irmã faleceu, ele nos ajudou quando houve dificuldade em identificar a causa da morte. Ele sempre se preocupou com a justiça”, diz Jéssica.

Ao lado de olhares emocionados, carregados de dor e saudade, Rui foi enterrado no Jardim das Magnólias, área dentro do cemitério Parque das Primaveras. Com mais de uma dezena de coroa de flores, o local faz referência à flor da perseverança, sentimento que Rui conseguiu deixar forte no coração da família.

Para Djalma, a bondade de Rui foi o que salvou na vida. (Foto: Kísie Ainoã)
Para Djalma, a bondade de Rui foi o que salvou na vida. (Foto: Kísie Ainoã)

Despedida - Rui estava internado há cerca de 10 dias, no Hospital da Unimed. Nos últimos anos, teve quadro de insuficiência cardíaca agravado e recentemente foi diagnosticado com problema pulmonar, o que exigiu muito de seu coração.

Casado por 57 anos, os últimos tempos foram entre a casa em Campo Grande e o sítio em Rochedo, sempre ao lado da esposa Ada e fins de tarde junto dos 4 filhos, Dalmo, Rosângela, Rosemary e Regina.

Rui deixou 7 netos e 6 bisnetos, sendo um exemplo de vida para todos que o conheceram.

Família e amigos de profissão estiveram na despedida. (Foto: Kísie Ainoã)
Família e amigos de profissão estiveram na despedida. (Foto: Kísie Ainoã)

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