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Comportamento

Antes de reencontro, Ana viu pai morrer após 24 anos longe dele

Josenir morreu em um acidente de moto em Miranda uma semana antes de rever a filha, com quem não falava há 24 anos

Lucas Mamédio | 28/11/2020 07:16
Josenir em Miranda (Foto: Arquivo Pessoal)
Josenir em Miranda (Foto: Arquivo Pessoal)

A próxima terça-feira, 1° de dezembro, seria um dia especial na vida de Ana Flávia de Lima Silva. Aos 26 anos de idade, ela se preparava para ver o pai, seu Josenir Moreira da Silva, conhecido como "Ceará", após 24 anos separados sem qualquer contato.

Um acidente na BR-262, perto de Miranda, no último dia 24, no entanto, interrompeu esse sonho para sempre. Voltando de um dia de trabalho, Josenir bateu de moto em um caminhão e morreu no local.

Ele e a filha se veriam no aeroporto de Viracopos, em Campinas. De lá partiriam para Fortaleza, para encontrarem os outros cinco filhos e a ex-esposa, deixados por ele há décadas.

Todos os seis filhos de Josenir (Foto: Arquico Pessoal)
Todos os seis filhos de Josenir (Foto: Arquico Pessoal)

“Nós compramos a passagem pra ele. Reunimos todos os irmãos e, apesar de tudo que aconteceu, queríamos muito ver ele, seria um momento muito especial pra minha família”, conta Ana, que mora em Piracicaba e deixou o Ceará há três anos.

A história de Josenir repete a triste lógica do fuga de uma das regiões mais pobres do país. O pedreiro chegou a morar em Mato Grosso com dois dos filhos, mas logo se mudou para Campo Grande e por fim, há cinco anos, aquietou-se em Miranda.

Foi justamente um contato em Campo Grande que possibilitou a reconciliação de Josenir com a família. “A gente começou a se falar por telefone, pelo WhatsApp e daí surgiu a vontade do encontro pessoalmente”, explica Ana.

E sua cadela "Maiada" (Foto: Arquivo Pessoal)
E sua cadela "Maiada" (Foto: Arquivo Pessoal)

Emocionada ao telefone, Ana Flávia fala que não acreditou quando ficou sabendo da notícia. “Eu tinha falado com ele de manhã sobre uma dúvida que ele estava na passagem. Fiquei desesperada, não acreditei, faltava tão pouco tempo”.

O responsável pela missão ingrata de dar a notícia à Ana foi o melhor amigo de Josenir em Miranda, José dos Santos. Os dois trabalhavam juntos, inclusive estavam fazendo um serviço no dia do acidente. É José que está cuidando da burocracia pós-morte.

“Passamos o dia juntos. Ele estava preocupado com dinheiro, mas animado com o reencontro, falava sempre dos filhos, mas como era muito sistemático não colocava muito os sentimentos pra fora”.

José lembra que Josenir vivia uma vida tranquila, adorava cachorro e tinha conseguido um lote onde construiu a própria casa. “Eu acabei de vender a casa dele e mandar o dinheiro pra família”.

A passagem comprada por Ana Flávia ainda vai ser usada, mas a cadeira ao lado vai vazia. “Eu vou mesmo assim porque também faz três anos que não vejo meus irmãos, min há família lá, só que já estou com uma angústia no peito de chegar no aeroporto e não encontrá-lo. Eu tava passando como seria essa cena a na minha cabeça toda hora”.

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