Ao lado da irmãs, Maya nasceu em casa num parto planejado com amor
Parto domiciliar planejado teve assistência da equipe Lumen sob os olhares amorosos do pai e das irmãs Bianca e Sofia
A terceira gestação de Pamela não foi planejada, mas desde que a família descobriu, Maya foi muito desejada e amada. A terceira menina veio num período de medo: em plena pandemia e isolamento. Enfermeira e doula, Pamela sentia medo de pensar em parir novamente na maternidade e até de sair para as consultas de pré-natal nas unidades básicas de saúde.
Pela experiência profissional, Pamela acreditava que o parto domiciliar planejado seria a melhor escolha para o nascimento a partir do momento em que a mulher se enquadra nos critérios, mas não acreditava que fosse possível na época das duas primeiras filhas, em 2015 e depois em 2017. Desta vez, antes do parto de Maya, já havia nascido a Lumen, equipe de parto domiciliar planejado que presta assistência fazendo com que a mulher seja a protagonista do próprio parto, com qualidade, segurança e humanização.
"É surreal a diferença entre parir num hospital e parir em casa. Começa desde as burocracias de internação, de você não saber quem é o profissional que vai se envolver no seu cuidado, então o vínculo é zero", conta a mãe.
Quando o relato de parto da Pamela chegou até o Mãe também reclama, confesso, o útero chegou a coçar... A segurança, o respeito e o amor que cercaram o nascimento de Maya me fez esquecer todas as reclamações que já fiz e pensar que se houvesse a chance de um terceiro bebê, ele viria assim, sob os olhares atentos e curiosos dos meus dos primeiros filhos.
"Estar na minha casa, minha cama, meu banheiro, onde eu podia ficar no chão e ter uma equipe que me conhece, sabe dos meus desejos e medos, que me respeita, que a cada olhar era uma carga de amor e confiança, não pensei e nem pedi por cesariana [quem passou sabe que na hora das contrações, a gente pede arrego], kkkk. Ter minha família junto foi essencial", resume Pamela.
Antes de partir para o relato, a enfermeira obstetra que fundou a Lumen (equipe de assistência ao parto domiciliar planejado), Luciana de Paula, e que acompanhou o nascimento de Maya, resume os critérios para um parto domiciliar planejado:
- Gestação de baixo risco habitual;
- Eenhuma comorbidade;
- A residência ser perto de um hospital com atendimento obstétrico 24h.
A ambulância não é obrigatória, mas a Lumen adota como medida e uma fica a postos na frente da casa. Em casa, além das crianças estarem presentes no nascimento, o pai das três ainda conseguiu fotografar e fazer um vídeo que descreve quão emocionante foi o nascimento de Maya.
"Maya é minha terceira filha eu vivi uma gestação em meio a uma pandemia, isolamento, medo misturado com culpa e desespero principalmente quando pensava no parto. O nascimento da Lumen foi iluminado por Deus, eu reencontrei uma amiga de faculdade e que também esteve comigo no nascimento da Bianca, nos sonhos eu vivia essa relação de ter ela ao meu lado mais uma vez e chegou o dia da realização.
Tivemos um encontro pra saber como funcionava os serviços de parto domiciliar planejado com Enfermeira Obstetra pra explicar ao Cauê [marido] que até então não queria viver isso. Depois de muitas conversas, risadas, lembranças, dúvidas sanadas, segurança e confiança implantadas no nosso coração, no outro dia eu ouvi uma frase do meu parceiro "Eu sei que você quer, eu te respeito e estou com você, todo meu medo e insegurança não existem mais e acredito que é o melhor pra vc e pra nós". Desde então começamos nossa historia, as consultas de pré-natal eram em casa junto da minhas filhas Sofia e Bianca regada de amor, carinho, atenção e muita informação.
Com 39 semanas comecei a sentir as contrações de treinamento, desconforto e o emocional já estava uma guerra com o racional kkkk. Com 40 semanas completas eu estava sentindo que algo iria acontecer, fui dormir sentindo algumas contrações, mas nada com ritmo e duração legal. Às 4h eu acordei com uma contração forte, fui correndo para o chuveiro pra aliviar e pra ver se iria continuar, fiquei lá por um bom tempo e as contrações continuavam e com dor".
"Chamei o Cauê já chorando e pedi pra ligar pra Lu, ela chegou rápido na mesma velocidade que as contrações foram embora kkkkk eu já fiquei triste com medo de parar e ser só pródromos e que poderia ficar por mais um bom tempo, mas aí voltou com intensidade leve e sem ritmo. Fui avaliada, estava tudo bem comigo e com Maya e estávamos na fase latente, pedi pra que ela ficasse ali comigo, 9h da manhã eu sentia mais dores e um pouco mais de ritmo, chamei minha doula Marina e Ingrid que também é enfermeira e doula, eu estava rodeada por mulheres maravilhosas minhas filhas e a distância tinha minha mãe, irmã e sogra.
Nesse momento eu senti e acreditei que o dia chegou e que teríamos nossa biscoitinha nos braços, eu estava feliz, me sentindo amada e protegida pelo meu companheiro, cuidada pela melhor equipe e no melhor ambiente pra se parir: a minha casa, no meu cantinho, com música, luz favorável no meu banheiro (aiii como foi meu companheiro esse lugar kkkkk). Fiz um escalda pés com óleos essenciais, ervas, e muita oração da minha amada parteira e assim me despedi desde ciclo que foi gestar a Maya, logo após minhas contrações pegaram ritmo, aumentou a dor e a intensidade, era real e não tinha como voltar atrás mais.
Fui para o banheiro ficar no chuveiro quente para aliviar a dor na companhia das minhas filhas, com música e muito aconchego. Fui para meu quarto, descansei no intervalo das contrações, senti a dor aumentar e alegria também, fui pra banheira. Quando as contrações estavam fortes, massagens era bem vindas na hora da contração, após passar, eu só queria ficar quieta. Mais uma avaliação e estava tudo bem conosco. Logo após senti algo diferente e veio uma vontade de empurrar de fazer força, uauu chegamos no expulsivo! Faltava pouco e toda a equipe já estava ali comigo, preparando todos os materiais. A ambulância já estava em frente de casa.
"Me posicionei na cama, logo depois pedi a banqueta, meu marido atrás me dando suporte, calor e amor, minhas filhas no cômodo ao lado brincando na espera da irmã. Veio um silêncio e apenas o som do meu corpo. A cada contração, eu sentia a aproximação dela, senti coroar e parar no círculo de fogo. Mais uma e a cabecinha já estava ali fora. Respirei fundo e esperei a última contração que separava o nosso encontro e eu senti todo meu corpo dançar naquele espetáculo lindo...
Veio a última onda e minha amada estava nos meus braços, ela reagiu, chorou eu ouvi a minha parteira fazer um lindo agradecimento a Deus e nesse momento e eu senti a presença dele ali e foi perfeito. Logo chamei Sofia e a Bianca pra conhecerem a Irmã, e foi o momento mais lindo da minha vida, ver minha família ao meu lado em um evento cheio de amor, respeito, cuidado, segurança e alegria. Maya chegou com 40 semanas 1 dia em um lindo PARTO DOMICILIAR PLANEJADO, aos cuidados da equipe Lumen".
Para a enfermeira, doula e mãe de três, parir em casa significa liberdade e também um ato político. "Acredito que seja um ato político porque é resultado da resistência e da luta das mulheres contra esse sistema que as conduz ou pra uma cirurgia ou pra um parto sem respeito. E no parto domiciliar planejado, a luta é ainda maior, porque tem profissionais que não aceitam a autonomia da enfermagem obstétrica no cenário.
Parir em casa possibilitou à mãe presenciar a cena mais linda de quando se é mãe por duas ou três vezes. "Foi incrível a alegria delas em ver a irmão e tocar, sentir o calor do corpinho dela, foi o momento mais lindo da minha vida. Como diz a Sofia 'Mamãe foi tão lindo o dia em que a Maya nasceu, eu fiquei do seu lado te ajudando, ela e tão quentinha e linda foi emocionante' (isso chorando de soluçar)".
Pamela atua como doula na @doulas_poramor e também no coletivo de doulas da Matre. Luciana é enfermeira obstetra, professora universitária e doutoranda, além de ser fundadora da Lumen.
Tem uma sugestão de tema ou relato de parto para compartilhar? Mande no e-mail: paulamaciulevicius@gmail.com.