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Comportamento

Aos 70 anos, Dirce venceu câncer e sobrevive ao luto da covid cantando

A irmã da cantora Dirce Myahara faleceu em abril de covid, mas não queria "baixo astral" da irmã

Bárbara Cavalcanti | 01/06/2021 07:11
Dirce durante homenagem à irmã em live apenas quatro dias depois da morte de Tereza. (Foto: Reprodução Vídeo Arquivo Pessoal)
Dirce durante homenagem à irmã em live apenas quatro dias depois da morte de Tereza. (Foto: Reprodução Vídeo Arquivo Pessoal)

“Quatro dias antes do evento, minha irmã já estava na UTI, entubada por causa da covid. Eu mandei um áudio pra ela dizendo: “Levanta dessa cama, se não esse campeonato quem vai ganhar sou eu!”. Minha sobrinha tocou o áudio para ela e disse que houve diferença na frequência cardíaca dela”

O evento em questão era uma live com apresentações de cantores que representavam Brasil e Japão, e no qual a cantora Dirce Myahara, de 70 anos, e a irmã dela, Tereza Kato, estavam participando. O evento foi ao ar em 1º de maio e Dirce iria representar o Brasil, cantando uma música em português, e Tereza, o Japão, cantando em japonês. Porém, pouco tempo antes da live, Tereza ficou doente de covid e precisou ser hospitalizada.

Ela faleceu apenas alguns dias antes, mas Dirce vestiu os trajes de Carmem Miranda e cantou no evento. “As pessoas acharam que eu não ia ter condições de cantar, mas minha irmã, assim como eu, era muito alto astral. Ela não ia querer que ninguém ficasse triste, sofrendo. Então eu fui lá, coloquei meu sorriso no rosto e cantei. Também fiz uma homenagem especial. Eu sei que é o que ela queria. E também, se fosse comigo, eu ia querer que ela fizesse o mesmo”, expressa.

Tereza Kaito em uma de suas apresentações, sempre sorrindo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Tereza Kaito em uma de suas apresentações, sempre sorrindo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Dirce é de descendência japonesa e dá aulas de canto para a comunidade japonesa de Campo Grande Okinawa. Ela e as irmãs herdaram o dom do canto do pai. “Nós somos em cinco irmãs, três dessas são cantoras. Eu aprendi com meu pai desde cedo, mas depois da infância, só voltei a cantar depois dos 40 anos”, explica.

Assim como descreve a irmã, também se diz muito “alto astral” e defende que o canto é uma forma de lidar com situações difíceis. Ela mesma precisou lutar contra um câncer, mas em nenhum momento deixou de cantar. “As pessoas me viam careca, mas achavam esquisito eu continuar com um sorrisão, cantando”, detalha.

Dirce em uma de suas apresentações nos palcos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Dirce em uma de suas apresentações nos palcos. (Foto: Arquivo Pessoal)

A internação da irmã veio após o marido dela ser infectado com a covid primeiro. “O marido dela ficou doente, mas se recuperou. Então minha irmã como que “brincava” com o vírus, ela não achava que ele fosse ter esse poder todo com ela. No início, acho que por ser cantora e fazer muitos exercícios de respiração, ela nem ficava sem fôlego.

Porém, infelizmente, no caso dela foi muito pior. Minha irmã não tinha qualquer comorbidade, mas ficou muito mal e quando chegou no hospital sofreu algumas paradas cardio-respiratórias”, detalha. Em uma dessas situações, o coração de Tereza chegou de ficar 11 minutos parado.

“Os médicos alertaram, disseram que qualquer tempo de parada assim poderia comprometer o neurológico dela. E só de pensar na minha irmã ali, quase que um vegetal, sem conseguir rir, conversar e cantar me doeu muito, aquele pensamento era horrível. Então quando veio a notícia do falecimento, eu acabei superando mais rápido por causa disso”, confessa.

Ainda de acordo com Dirce, a organização do evento esperava que ela fosse cancelar a apresentação. “Mas eu não quis. Não ia ser a vontade da minha irmã”, reforça. E ainda defende que cantar é o melhor antídoto contra o sofrimento. “Tem que cantar mesmo, eu queria que as pessoas colocassem o sofrimento pra fora, e cantar, pra mim, é a melhor maneira”, expressa.

As irmãs com a cantora Elza Soares. (Foto: Arquivo Pessoal)
As irmãs com a cantora Elza Soares. (Foto: Arquivo Pessoal)

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