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Comportamento

Caderno de Greici tem “censo” para mostrar que favela não é bagunça

Levantamento à mão começou a ser feito há três anos e é atualizado semestralmente por líder de favela

Aletheya Alves | 24/02/2022 06:20
Líder da Favela do Mandela, Greiciele Naiara Ferreira com caderno de dados. (Foto: Kísie Ainoã)
Líder da Favela do Mandela, Greiciele Naiara Ferreira com caderno de dados. (Foto: Kísie Ainoã)

Dois cadernos de capa dura guardam dados atualizados sobre todos os moradores da favela Morro do Mandela, localizada na região norte de Campo Grande, e são um dos comprovantes de que a comunidade não é “bagunça”. Detalhado, o levantamento descrito nas páginas começou a ser feito há três anos e, atualmente, é renovado semestralmente para manter tudo nos eixos.

Nome completo e idade dos adultos e crianças que moram em cada barraco são descritos como os dados essenciais, assim como a numeração das residências. Além dos números, caso haja alguma observação sobre saúde ou detalhes em relação aos moradores, as linhas também recebem tais informações.

É assim que Greiciele Naiara Ferreira, de 27 anos, a líder da favela, criou um censo do Mandela há três anos. Depois de fazer um curso de administração, ela percebeu que a comunidade precisava aprofundar sua organização com um cadastro geral.

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Aqui tudo precisa ser bem organizado, porque precisamos saber como ajudar essas famílias. Eu tinha que entender quem eram os moradores, quantas famílias moram aqui e quais são os problemas de saúde", explica.

Comprovando a organização, as informações coletadas informam que o Mandela tem 175 barracos em seu espaço, sendo que 420 pessoas moram ali. Do total, 240 são crianças de 0 a 11 anos.

Greici conta que fazer o levantamento foi mais complicado durante o primeiro ano, já que todos os barracos foram visitados pessoalmente. “A gente ia em cada local, mas hoje, a gente convoca os moradores para o barracão, que é o nosso centro comunitário, pegamos os cadernos e anotamos tudo.”

Nomes e idades de quem mora nos barracos são registrados nas folhas. (Foto: Kísie Ainoã)
Nomes e idades de quem mora nos barracos são registrados nas folhas. (Foto: Kísie Ainoã)

Justificando o uso dos cadernos, Greici contou que parte da equipe de liderança não tem acesso a celulares ou Internet e, por isso, o melhor e mais prático é manter tudo anotado com caneta. “Cada um entendeu a importância da gente ter esse cadastro. Eu consigo ver qual tamanho de cesta básica as famílias precisam, organizo quanto de leite vão ganhar”, diz.

Além de conseguir adequar os auxílios a partir dos dados, a líder argumenta que ter um censo da comunidade faz com que a cidade tenha novas impressões sobre as pessoas que vivem ali. “Quando alguém vem procurar a gente, começa a entender que nós somos organizados, que conseguimos comprovar”.

Já com o cadastro base consolidado, o próximo passo é detalhar cada vez mais as informações dos moradores, de acordo com Greici. “No sábado, vamos fazer uma atualização e inserir quantas mulheres negras temos aqui na comunidade. Foi uma ideia que trouxeram para nós e vamos colocar em prática, porque quanto mais informação, melhor”, completa.

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