Caderno de Greici tem “censo” para mostrar que favela não é bagunça
Levantamento à mão começou a ser feito há três anos e é atualizado semestralmente por líder de favela
Dois cadernos de capa dura guardam dados atualizados sobre todos os moradores da favela Morro do Mandela, localizada na região norte de Campo Grande, e são um dos comprovantes de que a comunidade não é “bagunça”. Detalhado, o levantamento descrito nas páginas começou a ser feito há três anos e, atualmente, é renovado semestralmente para manter tudo nos eixos.
Nome completo e idade dos adultos e crianças que moram em cada barraco são descritos como os dados essenciais, assim como a numeração das residências. Além dos números, caso haja alguma observação sobre saúde ou detalhes em relação aos moradores, as linhas também recebem tais informações.
É assim que Greiciele Naiara Ferreira, de 27 anos, a líder da favela, criou um censo do Mandela há três anos. Depois de fazer um curso de administração, ela percebeu que a comunidade precisava aprofundar sua organização com um cadastro geral.
Aqui tudo precisa ser bem organizado, porque precisamos saber como ajudar essas famílias. Eu tinha que entender quem eram os moradores, quantas famílias moram aqui e quais são os problemas de saúde", explica.
Comprovando a organização, as informações coletadas informam que o Mandela tem 175 barracos em seu espaço, sendo que 420 pessoas moram ali. Do total, 240 são crianças de 0 a 11 anos.
Greici conta que fazer o levantamento foi mais complicado durante o primeiro ano, já que todos os barracos foram visitados pessoalmente. “A gente ia em cada local, mas hoje, a gente convoca os moradores para o barracão, que é o nosso centro comunitário, pegamos os cadernos e anotamos tudo.”
Justificando o uso dos cadernos, Greici contou que parte da equipe de liderança não tem acesso a celulares ou Internet e, por isso, o melhor e mais prático é manter tudo anotado com caneta. “Cada um entendeu a importância da gente ter esse cadastro. Eu consigo ver qual tamanho de cesta básica as famílias precisam, organizo quanto de leite vão ganhar”, diz.
Além de conseguir adequar os auxílios a partir dos dados, a líder argumenta que ter um censo da comunidade faz com que a cidade tenha novas impressões sobre as pessoas que vivem ali. “Quando alguém vem procurar a gente, começa a entender que nós somos organizados, que conseguimos comprovar”.
Já com o cadastro base consolidado, o próximo passo é detalhar cada vez mais as informações dos moradores, de acordo com Greici. “No sábado, vamos fazer uma atualização e inserir quantas mulheres negras temos aqui na comunidade. Foi uma ideia que trouxeram para nós e vamos colocar em prática, porque quanto mais informação, melhor”, completa.
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