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Comportamento

Celina levava os filhos para o Carnaval e hoje Juci é a principal sambista de MS

Mãe da cantora Juci Ibanez é a mais festeira de uma família que é unida pelo samba

Wendy Tonhati | 18/02/2019 07:59
A mãe Celina e a cantora Juci Ibanez (Foto: Paulo Francis)
A mãe Celina e a cantora Juci Ibanez (Foto: Paulo Francis)

Pouca gente sabe, mas na casa da cantora Juci Ibanez, a mais festeira é a mãe, dona Celina Ibanez, 75 anos. Quando morou em São Paulo, ela levava os filhos para as matinês do Carnaval no Anhembi e plantou a semente do samba nos cinco filhos. Hoje, os integrantes da família não economizam na animação para a música e para o Carnaval.

No último domingo, o sobrinho Daniel veio de Fortaleza, e foi dia de reunir a família toda na casa de Juci para comer um frango, especialidade de Tadeu, marido da cantora e atual Rei Momo do Carnaval de Campo Grande. Estavam na casa Juci, o irmão Raul, a irmã Cristina, a mãe Celina, o neto Luiz Otávio, o irmão Diego e Silvia a cunhada. O time só não estava completo, pois faltaram, o pai, Paulo, que não estava se sentindo bem e ficou em casa, a nora e o filho de Juci, que também é músico (e estava ensaiando) e o irmão que mora em Maracaju.

A estrela da casa é sem dúvida a mãe Celina, a mais bonita, como ela mesma diz. Quando jovem, além de frequentar as festas de Carnaval, dona Celina também cantou no coral do Colégio Auxiliadora, em Campo Grande. Logo que Juci nasceu, ela se mudou para São Paulo e lá levava os filhos para a matinê do Carnaval no Sambódromo do Anhembi.

“A mamãe sempre foi sambista, a rainha do samba. Todas as festas que a gente estava, a mamãe levantava e saia sambando, e faz até hoje”, diz Juci. “Eu sempre gostei. Morava em São Paulo e ia na Vai-Vai. Eu sempre na frente sambando e meu marido empurrando o pequenininho [o filho Raul]”, relembra dona Celina.

No lançamento oficial do Carnaval de Campo Grande deste ano, no Clube União dos Sargentos, a família inteira foi para o samba. A mãe e o irmão Raul chamaram a atenção pela animação. A irmã Cristina é bailarina da família. “A Cris dança incrivelmente bem, samba maravilhosamente bem. Faz menos de 15 dias ele estava na Vai-Vai”.

Juci e Celina no União dos Sargentos (Foto: Kisie Ainoã)
Juci e Celina no União dos Sargentos (Foto: Kisie Ainoã)
O irmão Raul, a mãe Celina e a cantora Juci (Foto: Kisie Ainoã)
O irmão Raul, a mãe Celina e a cantora Juci (Foto: Kisie Ainoã)

A data também marcou a volta de dona Celina ao União. “Mamãe morava aqui e frequentava os carnavais. Frequentou o União e fazia 57 anos que ela não pisava lá. Ela foi expulsa do União, porque estava grávida de mim. Nesse dia, ela estava muito emocionada, pois eles tiveram que receber a gente de portas abertas, eu como rainha do samba e meu marido como Rei Momo”, conta Juci.

Dona Celina ficou grávida de Juci sem ser casada e foi discriminada por isso. Ela deixou até de poder frequentar o clube. “Hoje em dia não é mais assim, as meninas ficam grávidas e as amigas e a família acolhem. Naquela época não, quando eu fui ganhá-la, saí e quando voltei, a minha mãe tinha até mudado de endereço. [No lançamento do Carnaval] “Aí eu entrei com o meu orgulho. Estava no céu”, conta Celina sobre voltar ao União com a filha.

Logo que Juci nasceu, dona Celina casou-se com Paulo Ibanez, com quem teve os outros filhos. “Eu tenho o nome Ibanez, porque foi ele quem deu o meu primeiro Conga e a minha primeira cartilha, foi o meu pai, que me criou”, afirma Juci. A família diz que Paulo é o único que não é festeiro, o oposto de todos. Inclusive, o neto, que veio de Fortaleza, também comenta que frequenta as festas de Carnaval por lá.

Juci relembra os carnavais da infância em que ia com os irmãos. “Tinha a xeringa. A gente ficava nas esquinas jogando água nas pessoas. Tinha banho de água nas ruas, arminha de água e era saudável. Nós éramos dessa época boa do Carnaval que faz tempo que eu não vejo”.

Família se reuniu neste fim de semana (Foto: Paulo Francis)
Família se reuniu neste fim de semana (Foto: Paulo Francis)

Começo - Juci começou a cantar com 11 anos. Morando em São Paulo, cantou bossa nova, samba e MPB. “Comecei cantando bossa nova e música internacional. Aos 15 anos, eu entrei em uma banda de baile, na época do Dancin' Days. Meu pai ficou dez meses sem falar comigo porque eu fui cantar. Tinha um preconceito muito grande e papai não queria que eu fosse cantar com 15 anos. Eu já fazia teatro e era totalmente ligada à arte”.

Na casa de Juci, logo que chega, já dá para ver o violão na varanda. Mesmo em um condomínio, a música não para. “A gente faz muitas reuniões. Vem a galera vem fazer samba, os vizinhos adoram. E uma casa de músicos", diz.

“A Bossa Nova me ensinou o ritmo. Eu venho de uma geração Clara Nunes, do começo da Alcione, de Jair Rodrigues de todas essa galera boa de samba mesmo. Eu vivi a Elis Regina na minha pele, porque eu cantava na noite em São Paulo e cantava aqueles sambas bem sofisticados dela, da Leni Andrade. Esse swing que eu aprendi, porque meu berço foi a bossa nova”.

Juci e o marido Tadeu se conheceram em São Paulo, em 1990 e casaram-se no ano seguinte. Ele, cozinheiro, tinha restaurante por lá. Depois de morar em São Paulo, Celina voltou para Campo Grande para cá há 27 anos e Juci, há 24 anos.

“Eu tinha restaurante em São Paulo e a gente se conheceu. Em uma época, o meu resultante foi assaltado e ela falou vende isso aí, vamos embora para Campo Grande”, diz Tadeu, que prontamente é interrompido por Juci. “Eu falei: vamos passear em Campo Grande. Quando você falou: vamos morar aqui, eu chorei por seis meses, porque estava habituada com São Paulo e Rio”.

Tadeu diz que sempre gostou do Carnaval e, em 2003 resolveu participar do concurso de Rei Momo. De lá para cá, com o título deste ano, é o sétimo ano de reinado. “O Carnaval de Campo Grande tem muita coisa. Tem muitas escolas belíssimas e nessa coroação ficou comprovado que não devemos para outros estados. Temos grandes profissionais aqui. Foi muito gratificante eu ter recebido o sétimo título”.

Juci e o marido Tadeu são unidos até no Carnaval (Foto: Paulo Francis)
Juci e o marido Tadeu são unidos até no Carnaval (Foto: Paulo Francis)

Quando voltou para Campo Grande, no começo dos anos 90, ouviu um conselho e decidiu seguir, hoje a sambista mais conhecida do Estado. O filho, que também é músico, veio com um ano para Campo Grande e hoje canta pop rock e músicas de internacionais. Juci foi a primeira cantora a puxar um samba de enredo de escola de samba no centro-oeste, pela Vila Carvalho, durante três anos.

“O samba, me ajudou quando eu voltei para cá, porque lá eu cantava de tudo. Quando eu voltei para cá, ouvi do Cristiano Kuklinski. Ele falava, você tem que cuidar da sua casa. A sua casa é o samba. Então, eu fui indo realmente para a vertente do samba. As pessoas me taxam de rainha do samba, colocam uma placa de sambista, mas eu sou cantora e canto de tudo. Eu vou para todas as vertentes, mas, a minha casa, é o samba”.

 

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