Churrascaria que foi point nos anos 70 é lembrada em fotos antigas
Por quase 30 anos, Miltinho viu crescer e até se tornar dono da churrascaria que era a “cara” de Campo Grande
Quem aí se lembra da Churrascaria Ponteio? O primeiro restaurante de Campo Grande a contar com sistema de rodízio de carnes, buffet livre e até ar-condicionado central. Sem falar dos jantares a la carte com luz mais “romântica” e da música ao vivo e animada. De noite ou de dia, por todos os dias da semana, os campo-grandenses frequentaram este que era o “point” da cidade nos anos 70.
O estabelecimento não existe mais no endereço em que permaneceu por quase 30 anos: rua 14 de Julho esquina com a avenida Fernando Corrêa da Costa, número 1346. Porém, foi lá que os bastidores políticos se desenrolaram nas tais “reuniões” por debaixo do tapete em busca da divisão do Mato Grosso uno. Dali, saíram muitos “planos” para o que um dia viria a ser MS – claro que regado a um bom churrasquinho com direito a coquetéis.
“Do ‘governador’ aos secretários, todos frequentavam assiduamente o Ponteio na hora do almoço. Fora que muitas pessoas importantes na época – políticos, empreendedores, artistas e até eclesiásticos – sempre faziam questão de ir até lá”, relembra Milton Luiz, 56 anos. Conhecido pelo apelido de “Miltinho”, ele é filho de Milton Lopes das Neves, patriarca e primeiro proprietário da churrascaria até o filho assumir em 1985.
Desde a inauguração, em agosto de 73, o restaurante permaneceu sendo a “menina dos olhos” de Milton até seu fechamento, em dezembro de 2001 – já nas mãos de Miltinho. O patriarca largou a vida em São Paulo para começar uma nova aventura junto a família na “terra das oportunidades”, Campo Grande. Como sempre foi dono de comércio no ramo alimentício, não foi difícil o pai embarcar em um novo empreendimento.
Primeiro comprou a Cantina Canteiro (que em suas mãos virou a Churrascaria Gaúcha) para em seguida, vender o negócio e investir na construção de uma nova churrascaria – a Ponteio – isto em um terreno “arrendado” bem no Centro da cidade.
Miltinho conta que na região não tinha muita coisa. "Para se ter uma ideia, o córrego bem em frente era 'destampado'. Tudo tinha cara de brejo, inclusive o Ponteio”, brinca. Mesmo que de um início bem simples, a churrascaria acabaria se tornando um lugar badalado na vida do campo-grandense.
"Começou com um ambiente semi-aberto, com a cozinha ao fundo tampada por uma divisória improvisada. Qualquer cliente poderia simplesmente passar direto pela cozinha, não tinha separação. A fachada foi montada de forma bem simples também, sustentada com madeirite", recorda. "Mas o ponto de encontro do campo-grandense sempre foi por lá. Com o tempo, a Ponteio virou um sinônimo de status", acrescenta.
Comer na churrascaria não era barato. Muito pelo contrário, Miltinho diz que o restaurante era considerado um dos mais caros da Cidade Morena. As famílias "abastadas", além de celebridades da época, estavam entre os frequentadores que faziam a "fama" e o glamour do Ponteio.
Nas suas memórias, o filho de seu Milton revela que os almoços da própria família sempre eram por lá. Até os 14 anos, Miltinho "dava uma mão" no restaurante assim como sua mãe, que era uma hostess de primeira, recepcionando e "fazendo sala" a cliente que chegava.
"Da comida, uma coisa que lembro bem é a ponta de costela. Essa coisa surgiu com a gente, antes não tinha, não. Era o nosso carro-chefe. Uma vez por mês fazíamso uma noite especial de bacalhoada e massas italianas. Sem falar da variedade de pratos frios e quentes, estes servidos numa ilha de buffet aquecida por fogareiro. Tudo era farto. O sul-mato-grossense já gostava de um rodízio antes mesmo que soubéssemos que seria uma febre", ressalta.
Nos anos 80, por uma questão operacional da família, o ponto ficou sob a responsabilidade do "tio" Pedro, de consideração, que era sócio junto a Milton. "Mas não deu muito certo e foi a época que a casa quase fechou por falta de uma gestão sólida. Por preço de banana, ele vendeu a parte que lhe pertencia e eu, com minhas reservas financeiras, pude comprar a sociedade deles dois. Com 20 anos, virei dono da Ponteio", revela Miltinho.
Com a ajuda do pai, o filho conseguiu levantar o negócio. "Mas nada foi fácil. Trabalhar no segmento alimentício é muito cansativo. No dia de lazer era quando mais trabalhava. Esquece férias e finais de semana, porque não tem. Muitos feriados familiares e festas de aniversário foram comemorados na churrascaria. Era nossa segunda casa. Um tempo muito bom, que lembro com carinho, mas que realmente ficou no passado".
Ponteio foi pioneiro em muitas coisas para a época: do rodízio ao ar-condicionado central, além de maître na entrada e entregas por telefone – o "iFood" dos anos 80. Quem aí se lembra do bloquinho contendo vários números telefônicos onde, de uma só vez, o entregador levava em casa tudo que era comida de diferentes estabelecimentos?
Entretanto, este tempo já é passado. Engana-se que Miltinho tenha desfeito da Churrascaria Ponteio por queda nas vendas. "Vendi porque já não queria mais. Uma vez que saísse da Ponteio, seria um caminho sem volta. O negócio ainda estava sólido em 2001, tanto é que ficou mais 6 anos no mercado. Depois, eu não sei mais o que aconteceu", explica.
Atualmente, Miltinho exerce a atividade de corretor imobiliário – mas não é que a Churrascaria Ponteio ainda lhe confere uma ajudinha? "Já teve vezes de ligar para algum cliente antigo e eu me apresentar com o meu apelido. Imediatamente eles sabem com quem estão falando, afinal todo mundo conhecia meu pai e eu. Era uma época muito boa. Vivia junto da minha família, fiz a minha própria e ainda tive um grande aprendizado. Lembrar disso é uma nostalgia sem igual, mas hoje restaurante pra mim só se for eu como cliente", finaliza.
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