Com alimento e recados positivos, mães ajudam doula a enfrentar covid
Fabrina participou do parto de várias mulheres, que hoje se uniram para retribuir o carinho e transmitir energias positivas
Com alimentos e recados carinhosos, cerca de 30 mães se uniram por meio do grupo de WhatsApp “S.O.S Fabrina”, para ajudar Fabrina Jesus Flores e sua família a enfrentarem o coronavírus. Aos 41 anos, ela é doula e fisioterapeuta pélvica, e acompanhou a gestação e o parto de várias mulheres, que hoje decidem retribuir o carinho através de ações, como entrega de comida, compras e mensagens positivas.
“A Fabrina acompanhou muitas famílias. A conheci há cinco anos, na gestação da minha primeira filha. Tem um grupo de WhatsApp com mães que já doulou e esse grupo que ela ajudou um dia, também quer ajudá-la nesse momento de dificuldade”, diz Mariana Camilo.
Ela é fotógrafa, tem 32 anos e relata que Fabrina cancelou os atendimentos em Campo Grande após ela e o esposo, Jean Carlo Ranucci do Amaral, serem diagnosticados com coronavírus, nesse mês. “Contou que estava isolada por conta do vírus, mas que o marido tinha sido hospitalizado”.
Mariana relata que a doula é mãe de três filhos adolescentes e desde que o vírus entrou na vida da família, ninguém mais saiu de casa. “Cheguei a ir ao mercado e deixei um bolo e torta para eles lancharem. Mas, ela comentou que aquilo seria a janta deles e fiquei arrasada”.
Foi então que a fotógrafa teve a ideia de ajudar. “Tenho dois filhos, não conseguiria levar comida todos os dias. Mas, como no grupo todas se uniram para fazer orações, pensei em nos unir também para a ação”, destaca.
Para isso, Mariana excluiu a Fabrina do grupo das mães por um dia e aproveitou para perguntar se mais pessoas queriam abraçar a causa. Muitas se propuseram a contribuir e assim surgiu mais um grupo, o “S.O.S. Fabrina”. “Aquelas que não conseguiram levar o alimento, doaram dinheiro para a compra. Foi uma forma que encontramos para ajudá-la porque estava muito abalada. Queremos que a família se sinta amada”, afirma.
Diagnóstico – A vida da família da doula virou de ponta-cabeça quando Fabrina e Jean sentiram os primeiros sintomas do vírus, no dia 5 de julho. O marido, de 44 anos, é engenheiro eletricista, estava com muita febre e acreditava que poderia ser coronavírus. Por isso, no dia seguinte, o casal marcou de fazer o teste.
“Os médicos da empresa onde ele trabalha também prestaram auxílio, receitaram remédio e providenciamos os medicamentos para baixar a febre. Jean sentia dor na garganta, corpo e cabeça”, conta a esposa. Dois dias após os primeiros sintomas do marido, Fabrina também passou a sentir o corpo mudar.
“Tive dor no corpo, cabeça, garganta. Ficamos com coriza, mas não tive febre nem falta de ar. Na madrugada do dia 9, senti muita dor no tórax e não conseguia dormir. Então, às 3h da manhã estava debaixo do chuveiro, tomando banho de água quente achando que era dor muscular”, lembra.
Os sintomas já estavam atrapalhando a qualidade de vida do casal e antes das 8h daquele dia, Fabrina e Jean foram até o hospital da Unimed. “Fizemos exames de sangue, mas o resultado do teste de coronavírus sairia só na semana seguinte. Também realizamos raio-x, porém como não deu nada, os médicos liberaram a gente”.
De volta em casa, o casal entrou em quarentena. “O Jean permaneceu no quarto porque ficava deitado e dormindo o tempo todo. Meus filhos não tiveram sintomas, se pegaram o vírus, foram assintomáticos. Enquanto eu, fiquei com sintomas do dia 7 ao 11 de julho. A partir do dia 12, já não estava tão ruim”, recorda.
Apesar da melhora de Fabrina, Jean ainda permaneceu com os sintomas. “A gente conseguiu o aparelho oxímetro de pulso, por onde olhava a saturação de oxigênio dele, que foi diminuindo com o passar dos dias. No dia 13, pediu para levá-lo ao hospital porque tinha percebido uma piora. Então, levei e a noite trouxe de volta”.
Em 14 de julho, o resultado do teste de coronavírus foi divulgado e apontou que o casal estava com o vírus. No dia seguinte, os sintomas de Jean pioraram e a esposa o levou novamente para o hospital, onde ficou internado e precisou usar a máscara de oxigênio. Na sexta-feira da mesma semana, o marido foi parar na UTI [Unidade de Tratamento Intensivo].
“De 25% a 50% do pulmão dele tinha sido acometido. Na UTI, ele poderia fazer mais exames. No outro dia, soube que já estava entubado porque teve arritmia cardíaca”, conta a esposa. A notícia abalou a família e Fabrina decidiu compartilhar a informação com as mães, para pedir orações.
“Acompanhei mais de 300 partos e cerca de 200 dessas mães estavam orando por nossa família. Após a entubação, Jean foi melhorando e tenho certeza que é por dessa união de orações e também pela competência dos médicos”.
Isolada com os filhos em casa, as refeições da família começaram a chegar. “Estão me mandando café da manhã, lanche, almoço, janta. Algumas saíram para comprar produtos que o médico pediu para entregar ao meu esposo. Não estou sabendo lidar com tudo, elas estão cuidando da gente e sou grata por tê-las na minha vida”, destaca.
Fabrina também recebeu mensagens de apoio através do seu perfil do Instagram. “A gente realmente presencia a união e o amor de Deus por nós, seus filhos, quando adoecemos. Deus ouviu a prece de cada lar e guiando as mãos da equipe médica, meu marido apresentou uma melhora incrível”.
Jean saiu da entubação ontem, 22 de julho, porém permanece na UTI. No entanto, a doula continua recebendo o carinho das mães. “Mãe é porreta, cuida da sua família e a do próximo também. Estão cuidando da minha amorosamente, mimando não só eu, quanto meus filhos”.
Todo o carinho está sendo registrado para, posteriormente, ser publicado nas redes sociais de Fabrina, como forma de agradecimento e também para mostrar ao esposo quando retornar ao lar. “Para Jean ver o quanto essas famílias que ajudei estão nos ajudando agora”.
Amizade – Empresária Ana Lúcia El Daher foi de doulanda para amiga de Fabrina. Ela conheceu a doula há pouco mais de quatro anos, durante a gravidez e desde então não deixaram mais de se falar. “Ela me ajudou desde o primeiro dia que contei que estava grávida, mas não tinha obstetra. Foi a pessoa que mais me apoiou e tem uma presença forte, pois esteve conosco no momento mais importante da nossa vida, o nascimento dos nossos filhos”.
Aos 40 anos, Ana é proprietária do Barô Bar, onde prepara marmitex e por gratidão, quis ajudar Fabrina e enfrentar a doença, preparando algumas refeições da família.
“A gente está vivendo um momento que ninguém sabe de nada. Não sabemos quando a vida voltará ao normal e de repente, vemos nossa amiga e a família em risco. Não poderíamos ficar sem fazer nada, por isso, resolvemos fazer o mínimo do mínimo, para que ela e os filhos não ficassem tão preocupados”.
A atitude também é mais uma forma de agradecer Fabrina pelo carinho e eventos comemorativos que prepara todos os anos, para reunir as mães. “Sempre faz o Dia das Mães, nunca esquece do aniversário da gente, faz vídeos, homenagens, é uma pessoa muito carinhosa. Virou parte da nossa família”, afirma Ana.
Hoje, mais de 15 dias após ser diagnosticada com coronavírus, Fabrina e os filhos permanecem em casa. Não transmitem mais o vírus, porém, continuam tomando todos os cuidados para evitar que outras famílias passem pelo mesmo problema. Enquanto isso, as mães provam que a união faz a força e estão dispostas a ajudar.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.