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Comportamento

Com fotos, Higor fala da solidão invisível do campo-grandense

Thailla Torres | 14/11/2020 10:00

Higor Bandeira tem 25 anos, é zelador e se organiza para trabalhar em breve com comida vegana. Cozinhar é uma paixão. Mas o coração divide espaço também com outra arte: a fotografia.

Natural de Campo Grande, o menino sai pelas ruas da cidade registrando tudo o que vê. Seu foco são as pessoas e seus hábitos, diz. “Tento trazer tanto a solidão do campo-grandense  quanto a desfeita. Busco retratar também a pixação que é algo que domina vários lugares de várias formas diferentes, pois é uma ferramenta de comunicação criminalizada que tem muita força no protesto e propagação de ideias”, explica.

O futuro cozinheiro também busca fazer registros dos ciclistas, as pessoas que utilizam a bicicleta não apenas como esporte, mas como instrumentos crucial para a rotina de trabalho, e as peculiaridades de cada um que faz o uso da bicicleta que indiretamente dá voz para a política de mobilidade urbana, a busca pelo espaço na rua que é dominada pelos carros e motos que vivem em seus mundos particulares.

“Também retrato as pessoas em situação de rua, com um olhar carregado de muito respeito, com trocas além do olhar no semáforo e nas vielas da cidade”, afirmam.

Um dos registros marcantes de Higor pelas ruas da cidade. (Foto: Higor Bandeira)
Um dos registros marcantes de Higor pelas ruas da cidade. (Foto: Higor Bandeira)

Chega a ser clichê, porém Higor se sentem transformado a cada andança pelas ruas. “É um grande reflexo da minha pessoa, tanto social e quanto cultural, moro na cidade desde o meu nascimento e nunca saí daqui, então meu olhar é bem forte relacionado as pessoas que retrato, pois conheço muito bem as reações das pessoas que irão ser retratadas antes mesmo de fazer os registros”, diz.

“Me faz ter um respeito muito maior que o que já tenho por quem vive na minha cidade, as pessoas que registro são extensões minhas de trejeitos e até a melancolia que a cidade trás vez ou outra, os momentos de alegria e de questionamentos avulsos em pensamento”.

Um dos seus primeiros registros, uma foto de um homem negro chamado Cleiton, é o mais marcante até hoje. “Ele estava há 23 dias limpo sem ingerir uma gota sequer de álcool, enquanto fazia o registro da foto intitulada "Sorria fora da tela" ele me abordou e disse que admirava muito o meu trabalho, que eu enxergava o que as pessoas deixavam passar despercebido ou que até mesmo ignoravam”.

Esse diálogo foi transformador no olhar de Higor, “pois eu estava começando e tinha muito receio de registrar as pessoas, aquele homem me motivou sem saber a fazer o que faço até o dia de hoje com muito apreço e respeito, a retratação do cotidiano do tempo em que estamos vivendo dia após o outro”, finaliza.

Acompanhe os registros de Higor no Instagram (clique aqui).

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