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Comportamento

Com viagens à terra de Maria Madalena, grupo cultua um ícone do poder feminino

Sandra Tonini mudou de vida depois de conhecer o movimento que cultua um dos símbolos do poder feminino

Danielle Valentim | 03/04/2018 07:26
Com viagens à terra de Maria Madalena, grupo cultua um ícone do poder feminino
Fisioterapeuta, professora de Ioga Sandra Cristina Tonini, moradora de Campo Grande, que faz parte de um grupo de “Madalenas” de Belo Horizonte. e visitou a cidade de Madalena em 2016. (Foto: Arquivo Pessoal)

Frida Kahlo que nada! Para algumas mulheres, ícone mesmo do poder feminino é Maria Madalena. Em cartaz nos cinemas, a polêmica sobre a personagem bíblica não tem fim, mas para “grupos de Madalenas” que se multiplicam pelo mundo, isso pouco interessa. O que elas querem é encontrar o sagrado feminino e, com essa meta, refazem os caminhos percorridos pela discípula cristã em uma pequena província no sul da França, região da Europa onde diversos estudiosos acreditam ter sido o lar de Maria desde a morte de Jesus, até o fim de sua vida.

Em Campo Grande, a fisioterapeuta e professora de Ioga Sandra Cristina Tonini, é uma das integrantes desses grupos. Ela faz parte das “Madalenas” de Belo Horizonte, porque não há uma organização parecida em Mato Grosso do Sul. Mas já começa a planejar encontras sobre o assunto por aqui.

Em 2016, ela embarcou para a viagem que transformaria sua vida. Entrou no roteiro que Maria Madalena teria feito e junto com outras mulheres dispostas a encarar a experiência, partiu para Saintes-Maries-de-la-Mer, lugar na França que Madalena teria chegado após longa viagem de barco pelo Mar Mediterrâneo. A partir daí, a viúva, divorciada, ex-prostituta ou apenas apóstola cristã passou anos pregando o evangelho, até se recolher em uma gruta por 30 anos, e morrer aos 64, dizem historiadores.

“Eu estava buscando esse equilíbrio e esse poder feminino. Até que uma mineira, que faz parte de outro grupo que participo na Bahia, me deu esse caminho de busca e comecei a frequentar as Madalenas. Desde que eu voltei, decidi viver e trabalhar com o essencial. Eu trabalho com ioga, pilates, terapias alternativas e tinha um SPA com equipes de várias áreas. Mas decidi me dedicar às mulheres, nesta única sala”, diz, durante entrevista em um pequeno espaço na antiga Rua Furnas.

Quando o grupo que Sandra participa visita a província, todas as irmãs, como se intitulam no grupo, usaram saias longas, echarpes nos ombros e véus para proteger os cabelos durante as missas. “É uma coisa de resgatar esse feminino. De nós mulheres", explica.

Poder do feminino e não feminismo - Além das viagens, elas trocam mensagens vai WhatsApp e fazem encontros no decorrer do ano.

Sandra explica que esses grupos de mulheres espalhadas pelo Brasil buscam o resgate do feminino, do poder feminino, entre eles o poder da intuição feminina e do emocional bem resolvido e direcionado, e o empoderamento. Entretanto, elas defendem a harmonia com o masculino,

"Mas não tem nada a ver com o feminismo. São grupos do sagrado feminino. Mas com o foco no resgate do nosso poder, sem bater de frente com o masculino. Precisamos unir forças e não entrar em uma briga. Reconhece e honra esse masculino em nós, porque somos feminino e masculino, e o momento agora é fazer essa integração, só que estamos em busca dessa sabedoria, desse feminino sábio, que perdemos ao longo dos anos”, explica.

As madalenas acreditam que Maria e Jesus tiveram uma relação mais forte e que ele, durante toda a sua vida, deu grande espaço às mulheres, que, à época, na Palestina, eram tidas como seres inferiores. 

Atualmente, Madalena é mostrada pela Igreja Católica como uma mulher forte e corajosa. Em 2016, o Vaticano chegou a reconhecê-la como apóstola evangelista. Para esses grupos de mulheres, fela já vivia a frente de sua época há mais de 2 mil anos.

Com viagens à terra de Maria Madalena, grupo cultua um ícone do poder feminino
Sandra, após escalada de saia e sem acessórios de normalmente usados para facilitar a trilha. (Foto: Arquivo Pessoal)

Prostituta, esposa ou seguidora de Jesus? O fato mais curioso e misterioso se envolve ao redor da verdadeira vida da personagem. As teorias são muitas, mas a mais polêmica, com certeza, é a de que teria sido, além de devotada apóstola, a esposa de Jesus. As “Madalenas” não rejeitam nenhuma hipótese, mas dentre tantas versões, reforçam que a discípula “era um ser especial” e, que sempre na companhia de Maria, mãe de Jesus, repassava os ensinamentos de Cristo a outras mulheres.

“Apesar da Bíblia Sagrada não comentar, a gente lembra que Pedro já reclamava que Maria Madalena era a preferida de Jesus. Ela era um ser especial. Ela tinha seu apostolado de mulheres que eram seguidoras de Jesus, mas que também a seguiam. Ela entendia o que Jesus ensinava e Jesus reconhecia e acolhia tudo isso. Mas isso a Igreja foi retirando. Ela tinha uma vida independente, ela já havia sido casada, livre, e tinha uma opinião e não se importava com os hábitos e costumes da época. Ela é o perfil da vida moderna há 2 mil anos”, comenta a fisioterapeuta.

Entre tantos mitos, há quem diga que o título de prostituta descrito nos evangelhos foi inventado para tentar deter a influência da apóstola. Assim como muitas mulheres tiveram suas vidas cortadas da histórias, apenas, por ser mulheres.

Caminhos percorridos - Muitos pesquisadores sustentam que Madalena fugiu para a Gália, atual França, para escapar das perseguições realizadas aos primeiros cristãos. Nessa versão, a apóstola, seu irmão Lázaro, sua irmã Marta, José de Arimateia, as discípulas Maria Jacobeia e Maria Salomé, entre outros, chegaram de barco em Saintes- Maries-de-la-Mer e depois seguiram para o interior da França.

Além dos grupos de mulheres, o destino é bastante visitado por ciganos. É nessa cidade que os ciganos do mundo inteiro vão todos os anos em peregrinação a Santa Sara. De acordo com lendas locais e com o autor de O Código Da Vinci, Sara era filha de Jesus e Maria Madalena – e a ancestral dos reis merovíngeos franceses.

Madalena teria morrido aos 64 anos, e ainda hoje, na Basílica de São Maximiniano, podem ser vistos seus ossos ou, pelo menos, os de uma mulher de origem mediterrânea de 1,57 m de altura que viveu no século I depois de Cristo, conforme testes recentes realizados por cientistas.

Núcleo em Campo Grande – Ainda como parte da busca por sabedoria, Sandra inicia workshops com o objetivo de juntar mulheres com a mesma intenção de obtenção de harmonia interior para a criação de um núcleo de “Madalenas” em Campo Grande e, quem sabe, uma viagem para o ano de 2019.

Confira a galeria de imagens:

  • Detalhe do relicário. Foto: Hortensio de Mattos
  • Relicário. Foto: Hortensio de Mattos
  • Foto: Hortensio de Mattos
  • Fachada inacabada da Basílica de santa Maria Madalena. Foto: Hortensio de Mattos
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