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Comportamento

Cultura indígena sai da aldeia e ocupa repartições públicas

Comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul levaram dança, culinária e artesanato ao Parque dos Poderes

Por Idaicy Solano | 11/04/2024 20:42

A manhã desta quinta-feira (11) foi marcada por representatividade e ocupação de comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul, que se reuniram para levar dança, comidas típicas e artesanato ao estacionamento do Parque dos Poderes, em Campo Grande.

A programação iniciou com apresentação da orquestra indígena, seguida da introdução da dança Hiyokena Kipâe no estacionamento do complexo de repartições públicas do Governo do Estado. A dança típica terena envolve 12 passos e leva até 1h40 para ser apresentada.

A dança narra a participação dos indígenas na Guerra do Paraguai e conta a história de quando os guerreiros pisavam em cima da pegada um do outro, para fazer parecer que apenas uma pessoa andava pelo mato, estratégia utilizada para despistar os inimigos.

O ritmo foi embalado pela musicista terena Mariana Cabral Nogueira Gonçalves, 24, responsável por tocar o Koho, instrumento parecido com um tambor, que marca o início da dança, com a entrada dos guerreiros.

Conforme explica Mariana, cada região tem um Koho diferente, e é “uma parte bem individual de quem tá tocando”. No caso da musicista, ela é da região de Miranda, e faz parte da comunidade indígena Cachoeirinha.

A jovem, que é mestranda em Estudos de Linguagem, na UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), destaca a importância de povos indígenas ocuparem os espaços que almejam ocupar, em qualquer setor, além da oportunidade de levar a cultura das aldeias para a cidade.

Eu acho muito importante a gente ocupar os nossos espaços. Então, na universidade é importante ter estudante indígena, assim como no hospital, em uma advocacia. Então, sempre é importante ter os povos indígenas como representatividade nesses espaços”, declara Mariana.

Representatividade - Helington Oliveira, 24, da etnia guarani-kaiowá, destaca que é a primeira vez que presencia as comunidades ocuparem um espaço público, e ressalta a importância de levar os costumes e a culinária indígena até pessoas que nunca tiveram contato com a riqueza cultural dos povos originários.

“A questão de aldear os espaços públicos é falar que nós estamos presentes no Estado. Pela primeira vez nós estamos em um órgão público, a gente fez as apresentações, tem esse momento, junto com o pessoal da Cidadania, para dizer que a gente está aí. Esse momento é muito importante para nós”, destaca Helington.

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História contada em cores - Um traço marcante dos indígenas que apresentaram a dança Hiyokena Kipâe são as pinturas e símbolos espalhados pelo corpo. O Cacique da comunidade Terena Vivendas do Parque, de Campo Grande, Adolfo Fonseca Loureiro explica que as cores simbolizam a identificação dos povos originários com a mata e o cerrado.

As cores predominantes são o preto, vermelho e azul. O cacique explica que o azul e o vermelho são predominantes, porque simbolizam os dois clãs de guerreiros que saem para a batalha, os Sukirikeono e Xumonó.

Adolfo explica que as pinturas são feitas de tinta de jenipapo, e os símbolos devem ser desenhados cuidadosamente, com muita atenção. As pinturas são reforçadas pouco a pouco e chegam a durar até dois meses. Nas aldeias, os indígenas até aprendem a extrair a tinta do jenipapo.

Indígenas da etnia Terena apresentaram a dança Hiyokena Kipâe no estacionamento de repartiçõs públicas (Foto: Paula Maciulevicius)
Indígenas da etnia Terena apresentaram a dança Hiyokena Kipâe no estacionamento de repartiçõs públicas (Foto: Paula Maciulevicius)

A cultura resiste - Cacique da comunidade Vivendas do Parque, de Campo Grande, Adolfo Fonseca Loureiro declara que os povos originários se encontram em um momento de resistência, em relação à preservação da cultura e costumes.

Ele lamenta que muitos indígenas tenham deixado de falar a língua materna e tenham perdido o interesse em se apresentar, e diz que busca, através da dança, um incentivo para os mais jovens aprenderem a língua.

Por conta disso, levar as danças, culinária e música até estes espaços representa uma chama que mantém viva a esperança de que a cultura indígena se mantenha viva, e continue passando de geração em geração.

“Muitos já não querem mais se apresentar, têm um certo receio, vergonha e timidez. E a gente tem que realmente abrir mão de muitas coisas para poder fazer com que o povo saia da timidez, saia da vergonha, achando que não é nada, que não é ninguém e a gente poder resgatar nossa cultura. Mesmo estando na cidade, nós não devemos deixar de sermos indígenas. Essa é a nossa mensagem para eles”, declara o Cacique.

“Aldear Espaços” - A iniciativa de tirar a cultura indígena e levar para espaços públicos estaduais é uma ação da Subsecretaria de Políticas Públicas para Povos Originários, pasta ligada à SEC (Secretaria de Estado da Cidadania), em comemoração ao Dia dos Povos Indígenas.

O subsecretário de Políticas Públicas para Povos Originários, Fernando Souza, explica que o mês de abril é um momento de reflexão e análise da luta dos povos indígenas no Brasil e da ocupação de espaços.

“Vamos passar com o nosso povo em diversos espaços aqui do Governo, tanto no Executivo quanto no Legislativo e Judiciário, no sentido de mostrar que nós existimos, que nós somos presentes aqui no Estado de Mato Grosso do Sul e assim promover uma interculturalidade entre as populações indígenas e a sociedade para que haja mais diálogo, mais respeito, mostrando também que há espaço para todo mundo, e que todos nós somos cidadãos”, pontua Fernando.

A primeira ação itinerante foi realizada nesta quinta-feira (11), na Secretaria da Cidadania, no complexo de blocos do Governo do Estado onde funcionam Ageprev, Escolagov e Fundesporte.

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