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Comportamento

Da época do trem: há 40 anos José não abandona a 14 de Julho

Aos 20 anos, começou a trabalhar em uma cooperativa de leite e, depois, abriu seu próprio negócio

Por Aletheya Alves | 09/01/2025 06:46
Da época do trem: há 40 anos José não abandona a 14 de Julho
José Antônio inaugurou sua loja há 22 anos. (Foto: Marcos Maluf)

Em 1985, enquanto os pais moravam em uma chácara, José Antônio Oliveira começava sua história com a Rua 14 de Julho. Escutando o barulho do trem, ele passou 18 anos trabalhando em uma cooperativa que já não existe mais. Depois, viu os trilhos serem ‘abandonados’, abriu seu próprio negócio e hoje diz que, apesar das tristezas, não quis abandonar a rua com quem divide sua própria história.

Na época em que iniciou sua relação com a 14, Antônio tinha 20 anos de idade e havia sido enviado pelo pai para trabalhar na Cooperativa Mista dos Produtores de Leite. Hoje, aos 60 anos, em frente ao número 3139 da via, mostra que o antigo espaço ficava do outro lado da rua.

“Eu ficava no armazém da cooperativa porque meu pai fazia parte, mas ele continuou no sítio. Foram 18 anos lá, até que a cooperativa fechou e eu vim para cá”, conta sobre o motivo de ter aberto seu próprio negócio no ramo agropecuário.

Mas, antes de chegar ao Celeiro, loja que abriu há 22 anos, Antônio guarda detalhes da vida cotidiana no antigo trecho mais movimentado da cidade. Como ele já antecipou, a ferrovia ainda era uma realidade em Campo Grande e, além do barulho nos trilhos, o comerciante não se esquece das cargas que chegavam.

Exemplo de como o cenário era diferente, é que mais de 200 pessoas eram empenhadas nos descarregamentos dos vagões, diz Antônio. Os chamados “chapas”.

Da época do trem: há 40 anos José não abandona a 14 de Julho
(Foto: Marcos Maluf)

“Aqui era um vuco-vuco que você não tem ideia. Chega o trem carregado de sal, cheio de mercadorias nos vagões. Não era igual hoje que tudo vem de caminhão, era no trem mesmo. Então era aquele movimento”, diz Antônio.

Como na memória de muitos, o Hotel Gaspar também não é deixado de lado pelo comerciante. Afinal, grande parte das pessoas que circulavam pela cidade se hospedavam ali.

Até que a operação do trem foi diminuindo e, quando Antônio viu, só restava a sensação do movimento intenso. A vida naquela altura da 14 de Julho foi desacelerando até chegar à realidade de hoje: na maior parte do tempo, o silêncio domina.

Sem nunca ter saído do ramo agropecuário, quando precisou abrir o próprio espaço, o comerciante decidiu que venderia um pouco de tudo aos chacareiros. E, segundo ele, talvez tenha sido esse o motivo de ter conseguido resistir de portas abertas até hoje.

Da época do trem: há 40 anos José não abandona a 14 de Julho
Loja de José é focada em produtos para a área rural. (Foto: Marcos Maluf)

Desde que a NOB (Noroeste do Brasil) parou de funcionar na década de 1990, uma série de expedientes foi encerrada. Depois, outros comerciantes tentaram inovar com a chegada da Feira Central, por exemplo, mas o cotidiano do comércio acabou não vendo grandes mudanças.

“Quando a Feirona abriu, falaram que ia trazer movimentação para a gente, mas acabou não mudando muita coisa porque os horários são diferentes”, explica.

Com cerca de 10 clientes que ainda compram na “carteira”, ou seja, com o nome anotado indicando que irão pagar, Antônio explica que sua história se mantém pela confiança. “Tenho filhos de clientes que já morreram vindo comprar aqui, a gente precisou adaptar os meios de cobrar, por exemplo, mas acho que é isso de saber que nesse trecho, os chacareiros encontram o que precisam”.

Apesar de ter cinco filhos, o comerciante sabe que ele deverá encerrar seu negócio e levar consigo as memórias de uma vida na 14 quando não conseguir mais trabalhar.

Inclusive, ele até poderia já ter se aposentado e fechado as portas, mas prefere continuar chegando às 5h todos os dias no número 3139 da 14 de Julho para conversar, colocar os produtos em ordem e ver a loja se garantir mais uma vez.

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