De caminhoneira a primeira advogada negra, mulheres trans chegaram com tudo
Transexuais lutaram no passado e continuam lutando pela liberdade de assumirem quem são de verdade
Estas pessoas enfrentaram preconceitos, medos, dúvidas e até violência física e emocional. Entre rejeições familiares e histórias de superação, mulheres transexuais lutaram no passado e continuam lutando pela liberdade de assumirem quem são de verdade. Elas são modelos, caminhoneiras, sambistas, filósofas, advogadas e cabeleireiras, que encaram uma série de críticas e não escondem o orgulho pela própria identidade.
Para fechar o ano, selecionamos as mulheres trans que foram destaques no Lado B e chegaram com tudo em 2019. Clique nos títulos para ler as reportagens na íntegra.
Di Anna é trans que escolheu Bonito para viver e 1ª a ter título com nome social
Consultora nascida em Brasília (DF) que escolheu Bonito para viver foi destaque em janeiro por ser a primeira transexual a ter título de eleitor com nome social no município turístico de Mato Grosso do Sul.
O processo para ver o nome estampado no documento levou tempo diante da burocracia e desconhecimento sobre os direitos de pessoas transexuais. Quando finalmente o documento ficou pronto, ela levou para casa o título e se declarou ansiosa para as próximas eleições, sem constrangimentos.
“Já paguei inúmeras multas porque me recusei a participar do voto. Era um constrangimento. Ninguém queria me chamar pelo nome de mulher. Não votei na última eleição, mas agora votarei em todas”, garantiu.
Aos 24 anos, Nanda é a 1ª rainha de bateria transexual no Carnaval de Corumbá
Do alto de sua plataforma com 12 centímetros, Nanda Ferraz foi a primeira transexual a desfilar como rainha de bateria no desfile das escolas de samba Caprichosos de Corumbá.
Agente de saúde e acadêmica do último semestre de Educação Física, Fernanda Aguero da Silva tem hoje 25 anos, nasceu em Corumbá e se declara apaixonada pelo Carnaval. Cinco vezes Madrinha Gay da Império do Morro e também da Caprichosos, ela sempre sonhou em fazer parte da ala das passistas. Mas olhares e julgamentos tentavam dizer que o samba não era o seu lugar.
Ex-militar de Corumbá, Afrodite é transexual famosa em propaganda de posto
Afrodite Almeida Araújo, de 70 anos, é caminhoneira, mãe, ex-militar, ex-pastora e transexual que estreou em uma campanha da rede de postos de combustíveis Shell. Nascida no Paraná, ela passou a adolescência inteira em Corumbá, a 425 quilômetros de Campo Grande.
A Shell lançou a campanha com Afrodite em junho, como parte de uma ação especial pelo mês da Diversidade. A série desenvolvida pela rede LGBTQ+ da companhia trouxe quatro vídeos com histórias vividas por caminhoneiros nas estradas, trazendo à tona o lado mais inusitado e desconhecido dos profissionais na boleia.
Afrodite tem uma filha e uma neta, trabalha como caminhoneira e diz que tira de letra os engraçadinhos e preconceituosos que encontra pelo caminho.
Na busca por liberdade como mulher trans, Márcia viu todas as amigas morrerem
Aos 53 anos, Márcia Maria Baltazar Pires contou sua história ao Lado B por desafiar as estatísticas. Ela celebra envelhecer como mulher transexual após ver a maioria das amigas morrer na busca incessante pela sobrevivência e igualmente numa sociedade ainda pautada pelo preconceito.
Márcia também falou sobre aspectos de quem passa pela cirurgia e se livra do que ela chama de prisão perpétua, destacou a importância do ambulatório e atendimentos especiais a pessoas transexuais.
Nascida em um lar com cinco irmãos, Márcia faz parte de uma minoria que recebeu apoio da família. A cabeleireira e o pai sempre tiveram problemas, mas a partir do momento em que ela assumiu sua transexualidade, o jogo virou e ele entendeu a importância do amor e proteção à filha.
Nascida em Coxim, Mikaelly ganhou título de transexual mais bela do Brasil
O ano de 2019 foi de muitas comemorações para a modelo transexual Mikaelly Zanotto, que ganhou o título de campeã Miss São Paulo Transex 2019 e o título de mais mais bela do Brasil.
A sul-mato-grossense nascida em Coxim mora atualmente em São Paulo e diz que com a admiração e reconhecimento no concurso quer dar visibilidade às mulheres transexuais e travestis.
O Miss Transex Brasil é o mais importante concurso de beleza para mulheres travestis e transexuais brasileiras com décadas de tradição e inclusão.
Coroada Miss Trans, Mariane enfrenta críticas e ofensas só por não ter silicone
Mariane Cordon Cáceres, de 21 anos, também brilhou em 2019. Em novembro ela levou o título de Miss Trans/Travesti Mato Grosso do Sul 2019. Além da conquista, ela foi destaque no canal por sair do desfile com a faixa, mas também levar para casa ofensas e críticas por ser uma transexual com pouco tempo de transição.
Mariane foi criticada até por não ter silicone no corpo, o que rendeu nota pública de esclarecimento da organização do concurso que “ser transexual ou travesti não é encher o corpo de silicone, plásticas ou hormônios como muitas pessoas pensam”, explicou a nota.
A miss eleita falou dos comentários e diz que “ser transexual vai muito além de um corpo siliconado”. Ela ainda acrescentou. “Eu não tenho vontade de colocar silicone no meu corpo por enquanto e isso não faz eu ser menos mulher”.
Aos 30 anos, Emanuelle é a mulher transexual que virou modelo de loja feminina
Emanuelle Fernandes, de 30 anos, é a modelo que ficou conhecida por ser escolhida para trabalhar em uma boutique de moda feminina, em Campo Grande. A loja enfrentou uma série de críticas por escalar a modelo campo-grandense, mas não abriu mão da escolha e nadou contra a corrente.
Nos últimos anos como modelo, Emanuelle contabilizou quatro lojas de Campo Grande que recusaram trabalhar com ela após saber da transexualidade. Mas seu talento e a beleza despertaram o interesse da proprietária da loja de moda feminina, que já conhecia a modelo como cliente.
Mais do que um novo trabalho, a contratação de Emanuelle representou um avanço na luta por representatividade, afinal, não é nenhuma novidade que marcas contratem modelos LGBTQI+ apenas para parecer inclusiva, enquanto nos bastidores o preconceito e a intolerância são sufocos recorrentes vividos pelos profissionais.
Vestida pela quebrada, Alanys levou a periferia para formatura de Direito
Ela ganhou destaque nacional por ser a 1ª transexual negra a se formar em Direito em Mato Grosso do Sul. Mas além do título de “primeira”, o amor pela pela sua comunidade a fez levar toda a periferia para sua formatura de Direito na UCDB. Ela ainda se arrumou com tudo o que a quebrada oferece.
Uma amiga da faculdade ofereceu à Alanys um salão de beleza “chique” para que ela pudesse se arrumar. Mas ela quis que a formatura fosse representada pelo trabalho de várias pessoas da periferia.
Alanys também atribui a sua conquista ao apoio e esforço da mãe, Ruth Maria, empregada doméstica que, segundo a filha, limpou muito chão para cuidar dela e das três irmãs.
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