De pinheiro a “Dr. Raposo”, quintal é xodó de Marta deixado por Zurai
Aos 58 anos, moradora conta que plantas da família fazem parte das primeiras da rua
Desde que se mudou para Campo Grande, há mais de 40 anos, Marta Fernandes mora na casa em que os pais construíram e o pequeno jardim sempre foi o xodó. Hoje, sem os pais, são o pinheiro e o “Dr. Raposo” que lembram do carinho construído em família.
Em seu lado direito na fotografia, o pinheiro três vezes maior do que ela foi plantado por dona Zurai, a mãe, já ao lado esquerdo fica o arbusto carinhosamente chamado de “Dr. Raposo”. “Ela que plantou o arbusto também, gostava dele demais e até nome deu para ele. Falou a vida toda para a gente cuidar do quintal, amava as plantas”, diz a filha.
Sobre o título engraçado para o arbusto, Marta conta que anos atrás a mãe ganhou o arbusto do médico que fazia seu tratamento de saúde. “Ela recebeu a mudinha, plantou e deu certo. O médico dela tinha esse nome, Dr. Raposo, e aí ela colocou. Ficou até hoje”.
Com dois anos tendo se passado desde que Zurai se despediu da família, quem recebeu a responsabilidade de “aguar” o quintal diariamente foi Marta. Por ter ouvido constantemente que as plantas eram especiais, nem mesmo as dores fazem com que ela abandone o terreno.
“Vou cuidando do jeito que consigo, nem sempre dá para limpar do jeito que queria. Mas eu gosto muito também, tanto que cada vez que meu marido sai, ele volta com um cacto”, explica Marta.
No espaço, as árvores e arbustos plantados na terra pela mãe se mesclam com as coleções da filha. Desde sempre assim, a moradora narra que o quintal é um dos exemplos de amizade entre ela e Zurai.
De família paulista, a moradora do Monte Castelo conta que sua casa foi uma das primeiras na Rua Anita Garibaldi. Pensando sobre como o bairro e a cidade mudaram com o decorrer dos anos, Marta narra que a rua nem parece a mesma, tanto pela chegada do asfalto quanto devido à renovação de moradores.
E, em conjunto com a casa, o pequeno jardim também foi um dos primeiros a ser cuidado diariamente, como ela detalha. Hoje, com dona Zurai já tendo partido, foram as árvores e cada plantinha que restou entre as memórias construídas em quatro décadas.
“Antes daqui nós moramos no interior também, mas acabamos ficando por aqui. Meu pai faleceu há mais de 20 anos e minha mãe há 2. Fiquei com os gostos deles e tem planta minha e planta dela espalhadas pelo quintal”, diz a filha.
Entre vendas, aluguéis e casas desfeitas, Marta explica que a quantidade de moradores antigos têm diminuído cada vez mais. E, com isso, a história de cada casa vai se perdendo conforme as memórias vão se apagando.
Unindo o gosto pelo quintal e o pedido da mãe para que o espaço continuasse sendo mantido, ela diz que se imaginar longe é difícil. “Alguns dias choro de saudade porque nós éramos muito companheiras. A gente conversava, ia ao culto, cantava, tudo juntas. Então faz falta”, completa.
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