Do amor que nasceu na escola, casal tirou forças para se libertar da vaidade
Uma fatalidade fez Gustavo e Elizandra enxergarem a vida com outros olhos e descobrirem que não há padrão que supere o amor
São dois detalhes da vida que Gustavo e Elizandra comemoram. O tempo de relação que já tem 17 anos e a cicatriz que marcou o rosto do marido e agora virou parte de uma nova vida. Há oito meses, Gustavo foi atacado por um cachorro que teve uma reação inesperada, seu rosto foi dilacerado e a face reconstruída.
Do dia 11 de setembro de 2018 em diante, Gustavo passou a ter a cicatriz do rosto como parte do corpo. Os detalhes “novos” na pele vão de encontro com o sorriso, por estar vivo e de mãos dadas com o amor que nasceu ainda na escola.
“Hoje essa cicatriz faz parte de mim. Não tem como não dizer que ela foi um marco na minha vida, apesar de triste. Por que no momento que havia grandes chances de algo dar errado, tudo deu certo”, descreve Gustavo Serafim, aluno cabo da Polícia Militar, lotado no Batalhão de Choque.
Encontramos com o casal durante uma gravação especial do Hospital Cassems Campo Grande, no Parque das Nações Indígenas, para o Dia dos Namorados. Com o verde a tranquilidade de um dos cartões postais da cidade, o casal não escondeu o amor e o quanto ele foi necessário para vencer desafios, inclusive, a vaidade.
A história de Gustavo ficou bastante conhecida no ano passado. Ele estava na casa de um vizinho quando foi atacado por um cão pit bull. O animal teve uma reação inesperada quando a vítima o pegou pela coleira para que ele não saísse do imóvel. Neste momento, a vítima teve mandíbula e bochechas dilaceradas.
Para o policial, o animal teve uma reação diferente porque se assustou. No momento do ataque, sem pensar, Gustavo também teve a reação de proteger o seu próprio pescoço.
“No momento da mordida eu estava muito tranquilo. Eu não digo que a minha reação foi pensando, foi um golpe de reação. Depois disso, tive uma porção muito grande retirada do meu rosto, fizemos cirurgias complicadas onde foi tirada matéria muscular da minha coxa para ser realocada no rosto. Isso tinha chance de dar rejeição ou até mesmo uma infecção, mas nada me aconteceu”.
A tranquilidade de Gustavo, mesmo em um momento doloroso e de transformações de seu rosto após 34 anos de vida, foi transformadora para ele e a esposa. “Meu psicológico não se abalou em nenhum momento. Teve até uma situação engraçada: meu irmão chegou no hospital e, ao me ver daquele jeito, ficou muito abalado dizendo que eu não merecia aquilo. Mas eu acabei consolando-o, porque nunca me senti mal com o que aconteceu. Sei que situação foi difícil, mas eu comecei a olhar para os lados e ver que tinham pessoas que precisavam de mais força do que eu que havia perdido parte do rosto”, descreve.
Elizandra Ribas Serafim, de 32 anos, diz que também buscou mostrar ao marido que, independente da diferença no seu rosto, valia mais o que ficou dentro do coração. “O amor supera tudo né. Na verdade, quando eu o vi machucado, me desesperei porque só desejava vê-lo bem e feliz novamente”, afirma a esposa.
Embora as cirurgias e procedimentos estéticos realizados tenham sido feitos para chegar o mais próximo possível do que era o rosto de Gustavo, o casal viu no amor respostas para vencer qualquer vaidade.
“Eu brinco que até a pessoa mais diferente do mundo tem uma certa vaidade, eu também sempre tive, mas nunca me deixei abalar. Hoje, inclusive, brinco com a minha aparência, respondo a quem pergunta e não me sinto diferente. O que mudou mesmo foi o nosso olhar sobre a vida. Vaidade é o de menos, tem coisas na vida que a gente precisa dar mais valor, especialmente, o amor ao próximo”.
Inclusive, amor ao próximo foi dose extra de ânimo para o policial que comoveu uma legião de amigos e policiais militares à época do acidente. “Eu e a Elizandra só temos a agradecer pela vida e pelo apoio que tivemos de todos os amigos. Eles se mobilizaram muito e isso foi ânimo pra nós”.
Declarando amor um pelo outro, o casal mostra que apesar do título de casados, serão eternos namorados que carregam a doce lembrança do primeiro beijo desde que se apaixonaram. “Nós conhecemos na escola e tive a iniciativa de falar para ele que estava gostando dele”, conta Elizandra. O marido completa com a lembrança do primeiro dia. “Tímido, sem ter muito o que falar, pedi um chiclete. Sabia que o único ela estava mascando e foi então que rolou nosso primeiro beijo”, completa Gustavo.
Neste Dia dos Namorados, entre 17 anos de amor e muitas histórias de superação da família, o casal quis deixar um recado. “Que as pessoas deem valor ao amor verdadeiro, mesmo em meio aos desafios. O conselho que eu dou é que se acredite no amor e na família. Todas as dificuldades são usadas como obstáculos para que a gente possa superar. E para isso basta ter fé no amor, porque ele sempre vence”, declara Gustavo.
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