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Comportamento

Dos retratos de família aos domingos no Jockey, João passou 60 anos fotografando

Nesta semana, João Uehara completa 90 anos, cheio de histórias sobre tempo em que era um dos poucos fotógrafos da cidade

Thailla Torres | 14/08/2018 08:05
Em meio as máquinas antigas, o que resta são memórias.
Em meio as máquinas antigas, o que resta são memórias.

Prestes a completar 90 anos, João Uehara tem saúde invejável. O fotógrafo campo-grandense, nascido no coração do cidade, ganha nesta semana mais um ano de vida, 60 deles dedicados à fotografia. No passado, os domingos no Jockey Club foram todos clicados por ele, assim como casamentos e comemorações em família, em um tempo que havia poucos fotógrafos pela cidade. João era quem entregava tudo no dia seguinte e com direito a retoques. 

Os 60 anos de trajetória fotográfica agora só ocupam a memória e uma caixa de fotos antigas, que nesta semana, a família organiza para fazer uma homenagem. João recebeu o Lado B em sua casa, na Rua Barão do Rio Branco, erguida por ele. O local é perto da 14 de Julho, em um ponto que desperta em todos os famílias as memórias afetivas do seu estúdio fotográfico, chamado de "O Foto Ritz".

Foi lá que ele fotografou centenas de famílias da cidade, especialmente, as que vieram do Japão. João é filho de pais japoneses que enfrentaram os caminhos da imigração por uma vida melhor no Brasil. Seu pai, Siwa Uehara, é responsável pelas construções na área rural que hoje já foram tomadas pelo crescimento da cidade.

A família se arrumava para um retrato e depois João fazia retoques no próprio negativo. (Foto: João Uehara)
A família se arrumava para um retrato e depois João fazia retoques no próprio negativo. (Foto: João Uehara)

"O Foto Ritz" também não existe mais. João fechou há 20 anos quando decidiu se aposentar. Para ele, no entanto, não há do que se queixar. "Foi muito tempo trabalhando, não tem uma família antiga que não tirou foto comigo", se orgulha.

Em meio as máquinas antigas que ele guarda até hoje, narra a história com a fotografia que começou por volta de 1948, quando saiu da Base Aérea para fotografar. "Comecei com 20 anos, logo depois de servir. Antes disso trabalhei no foto do Sanziro, irmão do conhecido Katayama. Foram meus pais que me ajudaram a abrir a empresa".

Cheio de saúde, fruto da ginástica, alimentação saudável e a caminhada diária no Belmar Fidalgo, João lembra que era um dos fotógrafos principais da cidade. "Era eu e mais três naquela época. Cada um fazia uma coisa, eu estava em todo casamento da cidade. As vezes fazia dois casamentos em um dia, chegava em casa duas, três horas da madrugada".

A tarefa de quem escolheu viver atrás das lentes era deixar todo mundo bonito e não perder um só momento. "Eu ainda entregava fotografias no dia seguinte. Quando a família queria uma foto colorida, demorava mais de uma semana, porque eu tinha que mandar para São Paulo".

Time de futebol fundado por ele. (Foto: Arquivo Pessoal)
Time de futebol fundado por ele. (Foto: Arquivo Pessoal)

João também era conhecido pelos retoques, com seu famoso "Photoshop", embora feito à mão, com uso de um pincel finíssimo. "As pessoas pediam que eu retocasse. Nessa época, esse retoque era feito no próprio negativo com pincéis e tinta. Eu usava também algo parecido com uma lapizeira".

Grandes casamentos foram registrados por ele, um deles tornou-se inesquecível e cômico, porque a noiva precisou repetir a cerimônia. "O fotógrafo que ela tinha chamado esqueceu de colocar o filme e ficou sem fotos. Mas ela chamou todo mundo de novo, usaram as mesmas roupas e eu fui fotografar".

Aos domingos ele ia para o Hipódromo Aguiar Pereira de Souza, no Jackey Club, que guarda muitas lembranças para o fotógrafo. "Fotografava os convidados e os cavalos. Fazia a "foto-chapa", para saber quem realmente chegou em primeiro lugar", conta. Depois João registrava o vencedor e os familiares. Era essa rotina todos os domingos.

Em casa, João acordava fotografando, registrava os filhos, a família. Também se dedica ao time de futebol, o Continental, que ele fundou no Bairro Amambaí e jogava em campinho de terra na região.

Foi assim até os últimos minutos de "O Foto". Quando decidiu encerrar o estúdio, João ligou para todos os clientes e deu de presente as fotografias. Hoje, na caixa antiga que ainda resta em casa, estão centenas de retratos de sua família, outros são de famílias japonesas da cidade. As fotos evidenciam o retoque, detalhe feito com muita delicadeza pelas mãos de João e que vai ficar pra sempre na memória.

Abaixo alguns dos retratos feitos por João.

João guarda todas as máquinas em casa. (Foto: Thailla Torres)
João guarda todas as máquinas em casa. (Foto: Thailla Torres)
Famílias japonesas foram os principais clientes de João desde a década de 50.  (Foto: João Uehara)
Famílias japonesas foram os principais clientes de João desde a década de 50. (Foto: João Uehara)
As fotos das crianças ele guarda com maior carinho.  (Foto: João Uehara)
As fotos das crianças ele guarda com maior carinho. (Foto: João Uehara)
Essa é a família completa de João, em uma casa na área rural da cidade.
Essa é a família completa de João, em uma casa na área rural da cidade.
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