Ela correu São Silvestre após ouvir “que só ficaria pior” com a esclerose
Michelle ouviu que “ficaria cada vez pior com a doença”, mas escolheu viver um dia de cada vez e ser feliz
Se há dois anos alguém falasse sobre a esclerose múltipla ou questionasse a doença de Michelle Chiarello, certamente, ela responderia com a voz embargada ou chorando. Hoje, é com sorriso no rosto que ela fala e acolhe pessoas que vivem o mesmo desafio: o de ser feliz após o diagnóstico.
Campo-grandense de coração, que viveu aqui durante 28 anos, ela narra a superação vivida no dia 31 de dezembro, quando conseguiu correr 15 km da tradicional São Silvestre em São Paulo. O trajeto cumprido representou não só a força que ela busca diariamente, mas também a chance que ela deu para a vida, sem levar em consideração as tristes palavras que ouviu pelo caminho.
O diagnóstico de esclerose foi em 2015, quando Michele cursava Enfermagem. Os sintomas apareceram com a dificuldade para enxergar. “Eu enxergava tudo duplo. Fui ao oftalmologista, ele me disse que na parte ocular, não tinha nada e fui encaminhada ao neurologista. Com a ressonância magnética, foi identificada as lesões”.
Daquele momento em diante, Michelle viveu um período de susto. “Imagina como é receber um diagnóstico sendo mãe de dois filhos, que tinham 12 e 9 anos na época. Eu tinha medo de perder os movimentos, afinal, é uma doença que a gente não sabe o que pode acontecer”.
Michelle iniciou o tratamento com as primeiras injeções. Na primeira tentativa, houve perda de força no braço e foi necessário trocar a medicação. Ela tinha consciência que remédio algum traria a cura, mas seria possível estabilizar a doença.
Em uma nova troca de medicações, Michelle sofreu com um período longo de efeitos colaterais, que iam de náuseas a convulsões. “Apesar das reações adversas, meu médico autorizou o pilates. Comecei a fazer atividade física e parti para a caminhada, musculação, até que fui chamada para participar de um grupo de corrida”.
O que ela suspeitava que fossem poucos metros, viraram 15 quilômetros conquistados na última São Silvestre. Michele correu com balões amarrados no corpo. Em um deles, ela agradecia à família e os amigos que a ajudaram durante todo o processo. Outro era um agradecimento a Deus e também à associação que faz parte.
Ao tentar descrever a emoção vivida, Michelle fica com a voz embargada de felicidade, não só pela corrida, mas por ter vencido, quando um dia ouviu que não iria tão longe.
“Quando tive algumas complicações e fui aposentada, eu ouvi de um médico que eu ficaria cada vez pior. Eu não melhorei da doença, mas estou estabilizada. Então, durante a corrida, lembrei muito desse médico e de como não estou pior como ele mencionou”, diz.
Por isso, além da atividade física e dos tratamentos com medicamentos, Michelle faz acompanhamento psicológico e se dedica hoje a falar com pessoas recém-diagnosticadas ou que vivem com a doença há tempo.
“Como presidente da Associação de Esclerose Múltipla de Florianópolis, ajudamos e orientamos pacientes que estão no começo da doença. E falar hoje me fortalece muito. A doença traz um medo gigantesco do futuro e eu tiro muitos mitos para que todos possam continuar vivendo”.
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