Em 1865, se filhos não encontrassem fugitivo, pai seria degolado
Processo registra que durante a Guerra do Paraguai, exército obrigou moradores a capturar Jerônimo Peres
Mato Grosso do Sul já foi cenário de histórias que parecem roteiros cinematográficos e, entre elas, está a de dois jovens que foram obrigados pelo exército paraguaio, em Corumbá, a encontrar um policial brasileiro que havia fugido. De acordo com os registros do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), o pai dos jovens foi mantido em cativeiro e, caso não levassem o policial para os invasores, a ameaça era de que o patriarca seria degolado.
Contextualizando, o ano era 1865 e a então vila de Santa Cruz de Corumbá havia sido tomada durante a Guerra do Paraguai. Na época, parte dos moradores conseguiram fugir e se esconder em uma fazenda chamada Mangabal.
De acordo com processo judicial, um dos moradores que teve sucesso foi o subdelegado Jerônimo Joaquim Peres e era justamente por ele que o exército deu início à procura. “No dia 30 de janeiro, o exército paraguaio chegou a Mangabal e prendeu os moradores, determinando que os irmãos Joaquim José de Oliveira e Eliseu de Oliveira capturassem o subdelegado”, narra o registro do TJMS.
Deixando claro desde o início, o exército afirmou que caso Joaquim e Eliseu não cumprissem a ordem, o pai seria assassinado e, caso tivessem sucesso, o homem seria libertado. “A Ordem do comando paraguaio era para trazer Peres vivo ou, em caso de recusa, sua cabeça”.
Sem muita escolha, os irmãos encontraram Peres em outra fazenda, na Santa Rosa. Também localizaram o tenente Maritano de Souza Guimarães que tentou intervir e, tempos depois, se tornou testemunha do processo.
Nos relatos do processo, as versões para a morte são variadas, mas no dia 2 de fevereiro os irmãos retornaram com a cabeça do subdelegado em um saco e libertaram o pai.
“Constam várias versões para a morte de Peres, mas para a acusação foram os irmãos que, já não tolerando os incômodos provocados por ele, decidiram afogá-lo no corixo e decaptar sua cabeça. Outros depoimentos afirmam que foi o próprio Peres, tremendo a morte brutal por parte dos paraguaios, pediu aos réus que o matassem”.
A versão dos irmãos foi de que o policial tentou escapar e se afogou no corixo. A justificativa para decepar a cabeça foi de que não seria possível levar o corpo no cavalo.
Durante o julgamento, em 1866, Joaquim foi absolvido, mas Eliseu havia fugido. De acordo com os registros, ele foi capturado nove anos depois e também foi absolvido por falta de provas.
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