Em ato de liberdade, Karol se joga na dança do ventre com cabelo raspado
Psicanalista resolveu raspar o cabelo e se reencontrar na dança que há tantos anos a faz extremamente bem
Por trás dos diferentes cortes e penteados afro, Karol Minardes nunca teve medo de apostar no diferente. Tanto é que raspou o cabelo sem nem pestanejar. Com isso, redescobriu sua beleza feminina sem se ausentar dos seus espaços sociais, como por exemplo na dança do ventre, em que a jovem de 25 anos é a única mulher negra da turma.
“Existe todo um padrão das dançarinas serem brancas e de longos cabelos lisos. Ainda bem que de uns 5 anos pra cá, as mulheres e homens negros vem tomando esse lugar. A dança do ventre tem uma enorme fusão de traços culturais, afinal, Egito é África, e é lindo de se ver bailarina de black power”, afirma Karol – ou no caso dela, de cabelo raspado.
Queria radicalizar, simplesmente sentei na cadeira do salão e pedi pra tacar máquina zero”, relembra.
“A cabeleireira sugeriu um estilo curtinho, não tão radical, escutei a proposta e até deixei ela fazer. Mas não era suficiente. Chegando em casa, pedi por meu namorado e atual marido pegar e raspar pra mim”, acrescenta.
Mas o ato de liberdade teve um motivo. Karol precisava concretizar aquilo que mais acreditava: enquanto mulher e negra, podia ser o que quisesse e fazer o que bem entendesse. Foi raspando o cabelo que se livrou das amarras, dos estereótipos e dos rótulos limitantes que escutou a vida toda.
"Uma vez, durante uma entrevista numa escola particular, a coordenadora me questionou se eu iria trabalhar 'com esse cabelo'. Ou até mesmo teve gente que falou que meus alunos poderiam vir a me desrespeitar porque faço ‘esse tipo de dança’”, relembra com desgosto a professora e psicanalista.
“Pra mim, a dança me fez ganhar confiança de mim mesma, segurança do espaço e um aprendizado pra vida toda. E o fato de eu raspar meu cabelo me tornou mais presente, livre”, considera.
Nada disso foi planejado. A dança do ventre surgiu em 2013 como uma atividade física diferente, que ela pratica até hoje. E o cabelo? No início da pandemia, sentia que era o passo que mais precisava dar, mesmo sendo aconselhada ao contrário.
“Na minha religião, que é a umbanda, existe a recomendação de não deixar ninguém estranho por a mão em nossa cabeça para não trocar energias. Já no candomblé, raspar o cabelo significa um ato de renascimento. Sou filha de Oxum, e eu na verdade deveria ter feito esse pedido pro meu orixá. Mas meu coração garante que ele autorizou, por que eu me reencontrei, estou extremamente feliz”, finaliza.
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