Dois anos depois de deixar o Brasil, Amanda ficou noiva nos EUA, descobriu um câncer e se casou no local digno de cenário de filme
A última cidade onde Amanda morou no Brasil foi Campo Grande, apesar de não ser nascida em Mato Grosso do Sul, foi aqui que ela se formou em Jornalismo, trabalhou em redações e decidiu ir embora para conhecer o mundo. O ponto de partida foi um programa de intercâmbio como babá nos Estados Unidos. Dois anos depois, ela ficou noiva, descobriu um câncer e protagonizou uma cena digna de filme: se casou em pleno Central Park, na cidade de Nova Iorque.
Amanda Bogo Rodrigues agora é Amanda Bogo Van Sant. O sorriso continua o mesmo e o ruivo do cabelo também. A história de amor da jornalista começa 1 ano e nove meses antes do "I do", quando ela foi esquiar com um grupo de brasileiras e uma delas estava saindo à época com um jovem americano que chamou amigos para o passeio. Um deles era Brian. O papo entre os dois rolou depois do esqui, na casa da amiga. "Mas na hora que ele veio eu já fiquei de olho nele". Como eles se conheceram, a Amanda me contou quando perguntei de curiosidade, apesar de sempre lhe dizer que ainda íamos escrever sobre o casamento dela no Lado B, ainda não era a entrevista.
O pedido de noivado aconteceu no dia 5 de julho, dia em que Amanda completou 27 anos e quebrou uma piñata, tradição americana que tanto vemos nos filmes. Dentro tinha um unicórnio, que por sua vez, trazia um anel de noivado.
O pedido aconteceu no domingo e dois dias depois, passando mal, a jornalista foi levada para a emergência de um hospital: o diagnóstico se confirmou após a biópsia, era um linfoma. E a partir daí, o tratamento começou, incluindo as sessões de quimioterapia. Uma reviravolta na vida da jovem que só provou o quanto Brian era o cara certo por ter ficado ao seu lado em todos os minutos.
A primeira ideia dos noivos era a de se tornar um casal em Honolulu, no Havaí, só os dois. Até as passagens eles chegaram a comprar na esperança da pandemia estar mais controlada agora, em outubro. Percebendo que não ia rolar, eles começaram a procurar alternativas.
"Eu sempre tive o sonho de conhecer Nova Iorque e desde que eu me mudei pros Estados Unidos, ia pra lá uma vez por mês no mínimo só para andar à toa e ver a cidade. Era tudo muito mágico estar num lugar onde eu sempre fui apaixonada e só via pela televisão", descreve.
Amanda estão conversou com o noivo dando a sugestão de realizarem a cerimônia lá. O casal encontrou uma empresa e fechou a opção de cerimônia no Central Park, debaixo de um gazebo em uma parte alta e mais reservada do parque. Como não queriam nada grande, foi simples organizar. Era preciso só ir até o cartório e pegar a licença para casar.
Ao mesmo tempo, Amanda seguia o tratamento o que significou lidar com a perda dos cabelos. "Pra mim foi muito difícil aceitar que eu ia perder meu cabelo e quando eu estava internada eu até mandei um e-mail para a empresa cancelando a data e pedindo para remarcar a cerimônia para o ano que vem. Me doeu demais perder meu cabelo, era minha identidade, e eu tinha medo de me casar careca, doente, mas a parceria do Brian foi muito importante", ressalta.
Todos os nove dias em que ficou internada, cinco deles na área vermelha do hospital, Amanda tinha a companhia e cumplicidade do noivo. "Ele estava lá comigo e me fazia ter certeza que eu ia ficar o resto da minha vida com ele". Ao sair do hospital, depois que as coisas se acalmaram, ela foi atrás de uma peruca que a fizesse se sentir à vontade em se olhar no espelho. "Antes eu não conseguia me olhar no espelho. Foi um processo bem doloroso de aceitação e entender que tinha algo maior. Daí conversamos e falei que eu queria manter a cerimônia. A empresa topou retomar os preparativos, adiamos a cerimônia em 15 dias", lembra.
De volta aos preparativos, Amanda escolheu a data: 4 de outubro, um domingo, às 17h horário de Mato Grosso do Sul. Na cerimônia estavam presentes apenas os noivos, a sogra e o cunhado de amanda no "elopement wedding" modalidade de casamento onde os noivos "fogem" para se casar em um lugar distante sem a presença de convidados.
Foram cinco vestidos diferentes que Amanda experimentou. Ela comprava pela internet, chegava em casa, provava e devolvia. "Aí um domingo decidi ir em uma loja de noivas aqui perto de casa e o primeiro que eu vi foi o que eu escolhi e me apaixonei", comenta.
O noivo viu o vestido 1h antes da cerimônia. Eles saíram juntos de casa, cidade de Monroe, no Estado de Nova Iorque, distante 1h10 de Manhattan. "Como nós fomos juntos no mesmo carro não tinha como ele me ver só na cerimônia, mas eu segurei o máximo que deu", explica.
O desejo dos dois já era de se casarem em algo simples e reservado, ainda mais diante da pandemia. Os pais da noiva moram no Estado de São Paulo e assistiram, assim como os amigos, a transmissão on-line que Amanda fez da cerimônia em um grupo fechado do Facebook.
"Foi até engraçado, porque minha mãe estava toda animada e no dia da cerimônia a companhia de luz decidiu cortar a energia pra fazer a manutenção na rede e voltaram só uma hora antes de começar a cerimônia, minha mãe já tava desesperada coitada. Foi até na casa da minha tia em outro bairro pra carregar o celular dela pra ter certeza que se não voltasse a tempo ela podia assistir usando o 4g do celular", recorda Amanda.
Pela restrição de voos vindos do Brasil, os pais de Amanda não puderam estar presente na cerimônia. "Minha mãe sentiu muito de não estar aqui, disse que chorou durante toda a cerimônia de felicidade, e quer muito que a gente faça uma lá no Brasil quando eu puder viajar de novo", diz.
No grupo que Amanda criou para a transmissão on-line, os amigos que falavam inglês iam traduzindo o que a celebrante e os noivos diziam. Quem assistia do lado de cá, parecia ver um filme. A troca de votos foi a parte mais emocionante até mesmo para quem não entendia exatamente o que os noivos diziam. O amor traduziu todo o contexto.
Nos votos, Amanda quis lembrar Brian de como ela realmente se apaixonou desde a primeira vez que o viu na pista de esqui, recordando da festa que eles foram e do que ela disse às amigas naquele dia. "Eu falei que ia casar com aquele homem e eu casei mesmo!", ri.
"Fiz questão de dizer o quanto eu sou grata por ter ele em minha vida, por tudo o que ele faz por mim e como me sinto segura ao lado dele. Ele faz tudo ser calmo e parecer que vai ser simples, vai dar certo", menciona Amanda.
A noiva ouviu que nunca estaria sozinha, e que teria a companhia e o amor do noivo nos bons e maus momentos. "E que a gente lembraria do nosso casamento como o dia em que nos tornaríamos inseparáveis. E eu me sinto assim com ele desde o primeiro dia, então sei que é verdade", reproduz.
O casamento foi exatamente como a noiva sonhou, simples e tão verdadeiro. A primeira noite como casados foi passada em um hotel, e na manhã seguinte, Amanda começou mais uma sessão de quimioterapia e Brian, faculdade e trabalho.
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